Trabant, carro símbolo da Alemanha Oriental: o Trabi

Carro símbolo da Alemanha Oriental, o Trabant é adorado por colecionadores. Em Berlim, dirigimos um Trabi no DDR Museum. Há ainda tours pela cidade
Trabi, o carro da Alemanha comunista - Fotos: Nathalia Molina @ComoViaja
Trabi, o carro da Alemanha comunista - Fotos: Nathalia Molina @ComoViaja

A passagem por Berlim me fez recordar de uma das aulas do antigo curso colegial, quando aprendi o princípio de Lavoisier, para quem ‘na Natureza, nada se perde, tudo se transforma’. Aqui, a teoria do pai da Química Moderna é licença poética para resumir como os alemães lidam com heranças e memórias do antigo lado oriental da cidade. Na maioria das vezes eles sabem explorá-las de modo turístico e lucrativo, mas sem deixar de preservar a história.

Ampelmänn, boneco do semáforo de pedestres da antiga Berlim Oriental, virou uma espécie de embaixador informal da cidade unificada, por exemplo. A situação não é muito diferente com o Trabant, o carro símbolo da antiga Alemanha Oriental. Chamado pelo carinhoso apelido Trabi, o veículo virou atração turística. Há um Trabi Safari, passeio de 1h15 para quem quiser dirigir o carro pela capital alemã, o Berlin Trabi Museum (garanta o ingresso) e até o tour de Trabi Limousine

O último Trabi — apelido carinhoso que o carro recebeu — deixou a linha de montagem em 30 de abril de 1991, quase 1 ano e meio após a queda do Muro de Berlim. Desde então, virou objeto de adoração e nostalgia não só na Alemanha como também em outros países. É possível dirigir o veículo, ainda que virtualmente, até no museu, na entrada do DDR Museum (compre ingresso sem fila), sobre a vida no antigo país comunista.

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Até viajar para Berlim (1ª cidade que visitamos na nossa viagem em família pela Alemanha), o único e escasso Trabant que eu havia visto de perto era o do Flávio Gomes, jornalista e ex-companheiro de trabalho. Colecionador de carros antigos, Flavinho é entusiasta do Trabi, “o veículo mais perfeito já construído pela humanidade”, segundo ele. “Pequeno, econômico, leve, feito de fibra de algodão com resina plástica, que dura até o fim dos tempos”, acrescenta.

Do ponto de vista técnico, o Trabant é um veículo simples, cuja potência do motor equivale à de uma moto de 250 cilindradas. No painel não há mais do que o velocímetro e um botão para acionar o limpador de para-brisa. Politicamente insuspeito (luxo é algo pequeno-burguês) e ecologicamente incorreto (o fumacê que produzia atingia níveis de poluição impensáveis nos dias atuais), o Trabi era um sonho de consumo dos alemães orientais.

Até 10 anos à espera de um Trabi

Nesse caso, sonho não é força de expressão, não. Muitas pessoas esperavam mais de 10 anos para poder comprá-lo porque a velocidade de produção da única fábrica de Trabant do país — em Zwickau, cidade a 300 km de Berlim — não acompanhava a demanda. Ou seja, teve gente que viu o comunismo chegar ao fim antes de guiar seu Trabi.

Vários modelos de Trabi: souvenir do DDR Museum

Quem quer conhecer mais sobre a produção, que chegou a um total de 3 milhões de unidades entre 1958 e 1991, pode ir ao Berlin Trabi Museum (garanta o ingresso), próximo ao Checkpoint Charlie. Foram muitos os exemplares do carrinho na Alemanha Oriental, transformado em todo tipo de veículo. Alguns exemplos são o modelo Panzer (militar), a versão em forma de limosine, o veículo para camping (em que a barraca é montada acima dele) e a Ferratrabi, adaptação inspirada no automóvel italiano.

Tour real e virtual de Trabi em Berlim

Hoje em dia, quem visita Berlim pode se aventurar pelas ruas da capital alemã a bordo de um Trabi, sentindo a emoção de dirigir o veículo. “A experiência de guiar esse carro é única. Poucos veículos representam a história de uma nação como o Trabi. Talvez nenhum”, ressalta Flávio Gomes, que foi buscar seu Trabant de cor Sky Blue diretamente na fonte, em 2009. A bordo de seu Gerd, nome que Flavinho deu à nova aquisição, ele deu um giro pelo Leste Europeu antes de embarcar o carro para o Brasil.

Em Berlim, cruzamos diversas vezes com a carreata puxada pelo guia do Trabi Safari. Atrás dele, modelitos conversíveis, um cor-de-rosa, outro em estilo tigresa passavam por nós deixando um inconfundível cheiro de combustível queimado. O tour passa pelo Portão de Brandemburgo, pela Potsdamer Platz, pela Alexanderplatz e a pela Torre de TV, pela Catedral de Berlim e pela Unter den Linden.

Quanto estivemos no DDR Museum, Nathalia e eu encaramos fila para brincarmos de pilotagem no simulador, que reproduz as ruas e os velhos prédios da Berlim Oriental. Foi como jogar XBox usando joystick de Attari. Eu ao volante e Joaquim de colo-piloto esmerilhamos, fizemos altas manobras — muitas delas sobre as calçadas.

Brincadeiras à parte, guiar um Trabant ou apenas vê-lo de em circulação por Berlim nos ajuda a entender um pouquinho mais sobre o passado da antiga Alemanha Oriental, como resume Flávio Gomes: “Quando você entra num Trabi, visita a história.”

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