Se você planeja viajar a Roma, saiba que os Museus Vaticano têm ingresso que inclui a Capela Sistina, um dos pontos altos da visita (literalmente falando, por causa do seu magnífico teto). Antes de mais nada, não são museus para conhecer com pressa (ouça a voz da experiência), porque eles são imensos e cheios de gente. Afinal, eles estão entre as atrações mais visitadas de Roma e da Europa, como outros pontos turísticos, caso do o Parque Güell (Barcelona).
Os museus abrem de segunda a sábado (9h às 18h) e tem visitação gratuita no último domingo do mês (fuja, é cilada, Bino!). Seja como for, não é exagero recomendar um dia inteiro para ir aos Museus do Vaticano, distantes das demais atrações da capital da Itália.
Os museus ocupam os palácios onde viveram os antigos papas do Renascimento, entre eles, Sisto 4º, que mandou construir a Capela Sistina em 1473. Uma vez que havia muito dinheiro à disposição, os chefes da Igreja Católica desse período financiaram uma das mais grandiosas coleções de arte clássica e renascentista do mundo.
Ingresso para Museus do Vaticano e Capela Sistina
A Get Your Guide, empresa afiliada do Como Viaja, vende o ingresso sem fila para os Museus do Vaticano e a Capela Sistina. Além de incluir a entrada, ele dá direito a guia de áudio (opcional), descontos na loja dos museus, acesso aos jardins do Vaticano, entre outros benefícios. Essa é uma opção para que você visite o museu no ritmo próprio.
Uma vez que a quantidade de turistas é enorme, é preciso escolher o que se deseja ver e seguir o fluxo de mão única indicado pelo próprio museu. Já a Civitatis oferece uma visita guiada pelos Museus do Vaticano que inclui o ingresso. Feita em português, ela leva os visitantes à Capela Sistina e a espaços como a Galeria dos Candelabros (esculturas gregas e romanas) e a Galeria dos Tapetes.
Como são os Museus do Vaticano
Quando Nathalia e eu estivemos nos Museus do Vaticano, deixamos de lado toda a parte de arte antiga (peças greco-romanas,coleções egípcia e etrusca). Apostamos nas pinturas da Pinacoteca (460 trabalhos de mestres como Ticiano, Da Vinci e Caravaggio), nos afrescos e, claro, na magnitude da Capela Sistina. Tudo sem guia de áudio ou físico. Pelo contrário, acionamos o modo freestyle.
Essa era uma marca das nossas viagens à época. Ou seja, se gostássemos de algo, ficávamos vendo, entendendo e seguíamos em frente. Antes de mais nada, não nos arrependemos das escolhas. Nathalia adorou a Galeria dos Mapas, onde estão cerca de 40 afrescos que representam cartograficamente a Itália do século 16.
Já eu fiquei fascinado pelas Salas de Rafael nos Museus do Vaticano, conjunto de quatro ambientes dos aposentos do papa Júlio 2º. A Escola de Atenas, obra-prima do pintor, tem como particularidade as figuras de Leonardo da Vinci, Michelangelo (quem pintou o teto da Capela Sistina) e o próprio Rafael retratados.
Como é a Capela Sistina
Não importa a sua relação com a religiosidade. Ao entrar na Capela Sistina, você estará pisando em um espaço sagrado à fé católica. Ali é realizado, desde 1492, o Conclave, reunião de cardeais para a escolha de um novo papa. É lugar de silêncio e contemplação, que fechou nossa visita aos Museus do Vaticano. Não é permitido fotografar tampouco filmar. Aliás, o código de vestimenta do Vaticano veta o uso de roupas decotadas ou acima do joelho. Do mesmo modo, quem tiver tatuagem vai precisar encobri-las durante a visita.
Fatos relacionados às vidas de Moisés e de Cristo estão representados nos afrescos nas paredes laterais, de autoria Sandro Botticelli (Tentações de Cristo), e Cosimo Rosselli (A Última Ceia), entre outros.
Já o teto da Capela Sistina é a obra mais famosa de Michelangelo Buonarroti. A Criação de Adão e A Expulsão do Homem estão ligados a temas do Velho e do Novo Testamento. Depois que concluiu o teto, o artista terminou a decoração da capela com a pintura O Juízo Final, sobre a remissão dos pecados diante de Deus e a condenação ao inferno. Não estranhe se um segurança quebrar o silêncio com o aviso “Senza foto!”, para coibir quem burla as regras do museu.
Não se trata de um encontro particular com o sumo-pontífice (por anos eu sonhava usar esse termo dos livros de gramática!). Do mesmo modo, não é uma missa, mas um encontro de Sua Santidade com fiéis do mundo todo. Em suma, uma grande aula de catecismo a céu aberto.
Absolutamente sem querer, Nathalia e eu assistimos a um trecho da homilia dirigida pelo então papa da época, Bento XVI. Deixamos os Museus do Vaticano e, posteriormente, seguimos para a Praça São Pedro. Fomos percebendo uma agitação da multidão. Só então nos demos conta do que se tratava. Depois de passarmos pelo rígido controle de segurança, nos sentamos nos últimos lugares vazios.
Graças aos telões, Bento XVI ia além daquele distante ponto branco aos nossos olhos. Deu tempo, inclusive, de ouvir a saudação papal aos “amigos do Brasil” presentes naquela manhã. Não fosse por obra do acaso (ou intervenção divina?), nós quase personificaríamos o ditado “é como ir a Roma e não ver o Papa.”
A folia no Brasil ocupa lugar de destaque entre as festas mais tradicionais do país. Tanto que dá até para esquecer que existe Carnaval em outros países. No entanto, a manifestação cultural é encontrada em muitos destinos. Como ocorre por aqui, eles celebram o período anterior à Quaresma (os 40 dias que precedem a Páscoa).
Mas quais países comemoram e como é a festa? A música, a fantasia e a animação estão presentes no Carnaval nos Estados Unidos, na Itália, em Portugal, na Alemanha, no Uruguai, em Aruba e no Canadá, cada uma ao seu estilo. Na essência, também são festividades de massa, em muitos casos, lembrando a alegria e até a duração da folia brasileira.
Carnaval de Venezia (Itália)
A tradição começou no século 11, com o povo dançando nas cercanias da Praça São Marcos. O Carnaval de Veneza já foi considerado ilegal, mas virou símbolo da cultura local. As máscaras e os trajes são considerados o traço mais marcante da celebração, que começa duas semanas antes da Quarta-Feira de Cinzas.
Fasching de Munique (Alemanha)
Colônia tem um Carnaval considerado o mais louco da Alemanha, mas é o Fasching que extrapola. Em Munique, as comemorações começam no dia 11/11, pontualmente às 11 horas e 11 minutos – a data funciona como o início da 5ª estação do ano. Esqueça o ziriguidum e o telecoteco. No Fasching, o som vem de bandas e DJ’s. Na Terça-Feira Gorda, a Tanz der Marktfrauen (dança das mulheres do mercado de Munique: o Viktualienmarkt) fecha a festa. Se decidir encarar a longa festa, veja guia com dicas de Munique: hotéis, passagem, pontos turísticos e mais .
Carnaval da Ilha da Madeira (Portugal)
São mais de 10 dias de festejos, com celebrações de norte a sul na ilha portuguesa. No entanto, a maioria pode ser vivenciada na capital, Funchal. A principal atração é o Cortejo Alegórico, no sábado de Carnaval, quando em torno de 1.500 foliões são esperados para curtir o desfile com carros decorados. Na terça, é a vez do Cortejo Trapalhão, ainda mais descontraído, com a participação de moradores e turistas.
Mardi Gras (Estados Unidos)
Em francês, Mardi Gras quer dizer Terça-feira Gorda. Nos Estados Unidos, há Carnaval em três estados. A cidade de New Orleans é sinônimo da festa. Os desfiles passam por locais clássicos, como a Bourbon Street. Colares e adereços são arremessados por quem está nos carros-alegóricos para uma multidão ensandecida e, não raro, bêbada.
Carnival (Canadá)
Há o Canadá. E lá tem Québec, que é quase um outro país, de tradições francesas como a celebração de um Carnaval que coincide com a data do Mardi Gras. Tudo começou em 1894 por ideia de empresários e do primeiro-ministro do Québec (viu só como eles são um mundo à parte, com um chefe de governo só deles?). A ideia era dar uma aquecida no inverno rigoroso, mas a coisa só pegou fogo mesmo depois de 1955. A festa tem mascote próprio, o Bonhomme, que ao pé da letra significa bom homem. Ele lembra mais um boneco Michelin de neve.
Por razões óbvias, não é um Carnaval de escassez de vestes, pelo contrário. As temperaturas negativas dessa época do ano em Québec exigem fantasia pesada (gorro, cachecol e luvas etc). Além de um castelo de gelo, as atrações da festa giram em torno de atividades como corrida de trenós, descida de escorregador na neve e corrida de canoas no lago congelado.
Desfile de Llamadas (Uruguai)
Tem rainha, alegoria e batucada. No caso, a força do candombe, ritmo uruguaio. O Carnaval de nossos vizinhos começa no fim de de janeiro e vara março. Cerca de 50 dias de festa que, assim como no Brasil, tem raízes negras. Na capital uruguaia há inclusive o Museo del Carnaval, um dos pontos turísticos sugeridos nas nossas dicas de Montevidéu.
Carnaval de Aruba
O estilo musical é o calypso, originário de Trinidad. A festa surgiu em Aruba como uma mistura de tradições carnavalescas levadas por britânicos nas décadas de 1930 e 1940 com os clubes sociais característicos dos anos 1920. Em 2024, o país comemora 70 anos do seu Carnaval, o maior evento popular da ilha. Há blocos, incluindo infantis, nas cidades de Oranjestad (a capital) e San Nicolas (área com grafites e galerias).
O chocolate é a estrela de festivais na Europa. Há de degustações a tratamento estéticos nesses eventos em Óbidos, Perugia e Paris. Bélgica, Suíça, Inglaterra e Alemanha também estão na programação europeia
ATUALIZADO EM 6 DE ABRIL DE 2017
Os europeus são os maiores consumidores de chocolate do mundo. Por isso mesmo não espanta saber a quantidade de feiras e festivais temáticos organizados por eles durante todo o ano. Experimentar criações (leia-se comer, sem culpa nem frescura) ainda é o principal motivo que leva milhares de pessoas a lotarem praças e pavilhões nestes eventos.
A cada edição, quem os organiza tem a preocupação de levar ao público algo novo, revelador. Daí que já não soa mais estranho ver chefes de cozinha preparando pratos do dia a dia com chocolate entre os ingredientes nem esteticistas aplicando massa de cacau na pele em caráter terapêutico.
A seguir, listamos 7 festivais que fazem a alegria de muitos chocólatras:
1 > SALON DU CHOCOLAT (FRANÇA) E SEUS EDIÇÕES ALÉM DE PARIS
Renomado na indústria do chocolate, o Salon du Chocolat foi criado em Paris em 1994 e se espalhou pelas também francesas Marselha e Lyon e por Moscou, Bruxelas, Milão, Londres e Monaco. No total, incluído as edições em outros continentes também, o Salon du Chocolat já recebeu 7,4 milhões de visitantes em 31 cidades pelo mundo — chegou a ter uma edição em Salvador. Entre as atividades tem demonstrações de patisseriers e de chocolatiers, aulas, workshops, concursos de chocolatiers e até desfile de moda com roupas confeccionadas com a iguaria.
VALE SABER
Quando: Em 2017, de 28 de outubro a 1 de novembro em Paris — de 13 a 15 de outubro em Londres, com o nome de The Chocolate Show London
Vários chocolatiers participam do evento na Antuérpia. É possível comprar um passe, que em 2016 custou 10 euros, e experimentar 10 unidades da iguaria. Com o livreto em mãos, o visitante passeia pelas ruas da cidade belga e vai parando nas chocolaterias.
Entre Genebra e Lyon, a vila de Versoix abriga Le Festival du Chocolat, ou simplesmente Festchoc. Realizado desde 2005, o encontro tem participação maciça de fabricantes belgas e presença de alguns produtores da França. Demonstrações e degustações são as principais atrações do festival, que promove concurso de esculturas e um jogo de perguntas e respostas sobre chocolate.
Dos mesmos organizadores do Salon du Chocolat, de Paris, o evento coloca lado a lado produtores artesanais e grandes fabricantes. Durante 7 dias, bares restaurantes e chocolatiers espalhados pelo Reino Unido criam produtos e receitas exclusivas com os melhores chocolates do mundo. O ponto alto do evento é o Chocolate Show, com palestras, workshops e demonstrações feitas pelos grandes nomes da arte do chocolate.
VALE SABER
Quando: Em 2017, de 9 a 15 de outubro, por todo o Reino Unido
5 > FESTIVAL INTERNACIONAL DE CHOCOLATE (PORTUGAL)
Todo ano, perto da Páscoa, as ruas da pequena Óbidos exalam chocolate. Em 2016, a cidade portuguesa realiza a 14 ª edição do Festival Internacional de Chocolate. Adultos e crianças podem ver esculturas preparadas com a iguaria, assistir a shows de chefs executando receitas ou ainda participar de workshops.
A International Chocolate Exhibition, ou apenas Eurochocolate, exalta a combinação de música com chocolate na italiana Perugia. Nesta edição, o evento ganha uma área dedicada às crianças, com atividades e jogos. A loja online do festival vende, além de chocolates dos mais diferentes formatos, obviamente, capas para iPhone e iPad com forma de barras de chocolate.
Todos os anos, a cidade universitária de Tübingen recebe produtores da África, das Américas do Norte e do Sul e vizinhos europeus para quatro dias de reverência ao chocolate. Come-se, bebe-se, aplica-se chocolate em massagens sobre a pele. O cacau ainda inspira pinturas, leituras sobre o tema e um teatro nada convencional.
A pequena Cortina d’Ampezzo, nos Alpes, parece feita para ser decorada para o Natal na Itália. As luzes e os enfeites natalinos realçam a beleza da cidade. A rua de pedestre no centrinho é providencial para curtir a fofura dessa italianinha.
Numa das esquininhas, um prédio estava decorado como um calendário adventista, com números nas janelas, representando os dias na contagem da espera do Natal. O dia 25 mereceu lugar de destaque, como também costuma ser nos calendários feitos pelas indústrias de chocolate para a criançada abrir as janelinhas e encontrar imagens feitas de chocolate.
A igreja com a montanha nevada ao fundo, as estrelinhas penduradas de ponta a ponta, tudo compõe um lindo ambiente natalino. Barraquinhas ao longos da rua principal formam um singelo mercado de Natal na Itália, com itens de preços acessíveis, como luvas e chocolates de beber ou comer — dá até para comprar um iPhone, de chocolate.
Aproveitei para fuçar lojinhas e comprar enfeites novos para a nossa árvore de Natal de casa. Ela é cheia de penduricalhos de várias partes do mundo, misturados a bolinhas comprados no supermercado em São Paulo e a enfeites criados pelo nosso pequeno Joaquim, na época com 4 anos.
Conheci Cortina d’Ampezzo durante a viagem do prêmio que ganhei da Comissão Europeia de Turismo. A entrega da placa da premiação foi realizada na cidade. Olha que legal!
A minha reportagem, vencedora na categoria Melhor Reportagem na Internet, foi a série Natal na Europa: Uma Viagem Encantada, que escrevi no formato de historinha infantil, apresentando as tradições e os mercados de Natal que visitei na Alemanha, em Viena e em Budapeste.
Outlet perto de Veneza
Fomos a Cortina d’Ampezzo partindo de carro de Veneza. Na volta, antes de irmos para o aeroporto de Milão, passamos num outlet perto de Veneza, o Noventa di Piave Designer Outlet McArthur Glen.
A céu aberto, o shopping estava todo decorado para o Natal, com a tradicional história do Quebra-Nozes como tema. Livros espalhados pela praça principal. O Noventa de Piave é um dos 21 outlets que a rede Mc Arthur mantém na Europa.
Como é costume na Europa no mês antes do Natal, o outlet também tinha seu mercadinho de Natal, com barraquinhas vendendo produtos artesanais italianos.
Adorei a experiência de escrever uma crônica sobre a viagem à Itália para a revista Hotelnews. No texto contei vários perrengues e situações engraçadas que passamos por lá com a língua.
Se você não é assinante para conseguir ler, abaixo está a página da revista.
Nova opção para viajar em trens de alta velocidade na Europa: a Nuovo Trasporto Viaggiatori (NTV), conhecida pela marca Italo. Fundada em 2006, com o investimento de 1 bilhão de euros, a companhia opera trens de alta velocidade, conectando as principais cidades turísticas da Itália.
Partindo de Roma, por exemplo, a viagem leva em torno de 3 horas e meia até Veneza, 1 hora até Nápoles e cerca de 1 hora e meia até Florença. Na chegada ou na partida de Roma ou de Milão, há 2 estações de trem para escolher em cada cidade: em Roma, Tiburtina e Ostiense; em Milão, Porta Garibaldi e Rogoredo. Entre elas, a viagem sem paradas dura aproximadamente 2 horas e 45 minutos.
No Brasil, a distribuidora oficial dos bilhetes da NTV é a Rail Europe, mas também é possível comprar passagens por outras empresas.
Ganhei! Costa Amalfitana, de ônibus foi escolhida Melhor Reportagem na Internet no Concurso CET de Jornalismo, prêmio da Comissão Europeia de Turismo para publicações sobre destinos na Europa. Há 4 anos venci na categoria Melhor Reportagem de Jornal, com a matéria sobre a rota dos pintores na Provença, no sul da França. A edição foi publicada no caderno Viagem do Estadão, onde eu trabalhava na época. O prêmio veio numa fase difícil da minha vida. Serviu de alento e me apresentou Portugal, num belo roteiro do Porto a Lisboa em ótimas companhias.
Chegar agora a finalista com a viagem pelo sul da Itália que escrevi aqui para o Como Viaja! já era muito bacana para alguém que resolveu empreender sozinha. Em 2008, decidi deixar o emprego de editora-assistente no Estadão, empresa que adoro e na qual mantenho vários amigos. Queria mudar de vida, sair por aí e me arriscar no mundo dos frilas, que traz liberdade, mas também impõe dificuldades. Por isso, ganhar este prêmio com meu blog tem sabor de sonho. Daqueles deliciosos, de creme de confeiteiro bem leve, para comemorar os 6 meses de Como Viaja! no próximo dia 29. Obrigada à Comissão Europeia de Turismo e aos professores da USP que me escolheram vencedora. Agradeço por essa felicidade e pelo incentivo a continuar sonhando e empreendendo.
Eu tinha 23 anos quando assisti ao filme Só Você (Only You), em 1994, e pirei naquela cidade italiana com casinhas apinhadas nas montanhas, como se fossem despencar sobre o mar azul: Positano. Pensei ‘Se um dia eu amar alguém, quero ir com ele para esse lugar’. Quase 15 anos se passaram para que isso ocorresse – eu amasse alguém assim e tivesse a chance de viver isso na Costa Amalfitana, no sul da Itália. Depois de passar uma semana entre Roma e Nápoles, a ansiedade tomou conta. Afinal, eram 15 anos de espera. Positano lá estava eu a caminho.
A imagem que se tem de uma viagem pela Costa Amalfitana geralmente inclui um carro conversível, sonho para uma escapada romântica num cenário absurdamente bonito. No meu caso, essa ideia continua onde sempre esteve, no meu imaginário. Em frente à estação de trem em Sorrento, peguei o ônibus até Positano. Nenhum drama nisso. Turistas bem mais velhos, em geral americanos e ingleses, optam por esse meio de transporte nessa região italiana, a Campania. É preciso estar ciente de que há momentos de perrengue sim. Ônibus é ônibus mesmo num lugar lindo daqueles. Ele pode atrasar e parar no ponto já lotado. Mas há compensações.
Do alto do banco, empoleirado sobre os penhascos, a vista é belíssima para quem se senta numa janela à direita dentro do ônibus. E, melhor, não se tem a menor preocupação em dirigir na estrada que se enrosca pelas rochas, formando ângulos superagudos. As curvas são tão fechadas que há espelhos em algumas para que o motorista consiga ver se vem carro no sentido oposto. Lá se entende o real valor de uma buzina num veículo, item tão banalizado nas grandes cidades toda vez em que o sinal de trânsito mal ficou verde.
Outra vantagem: o dinheiro gasto com o transporte. Além do valor do aluguel de carro, o estacionamento em Positano custa em torno de 5 euros por hora. O Unico Campania, consórcio de empresas de ônibus, oferece diversos tipos de bilhetes. Válido por 3 dias, o Unico Costiera sai por 18 euros. O site do Unico mostra os pontos de venda, vários por toda a Costa Amalfitana – comprei minha passagem numa banca de jornal instalada numa vendinha. A rota de Sorrento a Amalfi, passando por Positano, é feita pela Sita. Na página da empresa na internet, há quadros com os horários das linhas.
Apenas 15 quilômetros separam Sorrento de Positano. No verão, a Mètro del Mare liga as principais cidades da Costa Amalfitana pelo mar. Cheguei a cogitar esse meio de transporte, mas preferi chegar pelo alto. Recomendo, para ver o azul intenso do mar estourando nas rochas. O único inconveniente foi ter de ouvir a americana do banco de trás suspirar e falar ‘Oh, look those waves!’ a cada curva. Nada que um iPod não resolva, mas eu tenho a estranha mania de me conectar com lugares e pessoas sem subterfúgios eletrônicos.
Mais um contorno na estrada sinuosa, e a próxima parada já era em Positano. Tentei perguntar ao motorista se o ponto ficava perto da Via Pasitea. Ele respondeu que não sabia. Das duas, uma: ou era um signore desinformado ou debochado. Depois de fazer check-in num hotel nesta rua e caminhar pela cidade, apostei na segunda possibilidade. A Via Pasitea percorre Positano morro abaixo. Como uma serpente, passa por hotéis e restaurantes, fazendo um zigue-zague até a parte restrita a pedestres no vilarejo, de frente para a praia. A maneira mais rápida de se deslocar em Positano é usar as escadarias íngremes que cortam esse zigue-zague.Há muitas delas. Por isso, é bom usar calçados confortáveis – mulheres, esqueçam o salto, vestidinho com sandália é uma ótima combinação para desfilar por lá. Quando se cansar do sobe-e-desce, uma alternativa para circular é tomar o ônibus que roda dentro da cidade, fazendo o trajeto montanha acima e depois retornando ao centrinho na parte baixa.
Esse ônibus passava em frente ao hotel onde fiquei, o Pasitea, na famosa rua de mesmo nome. Não, não era o do filme Só Você. O que aparece na história romântica de Hollywood é o luxuoso Le Sirenuse, integrante da requintada associação The Leading Hotels of the World. Eu me hospedei num Best Western, bem mais modesto, só que bom e com o que interessava: uma varanda de frente para o azul. (Peça para ficar nos andares mais altos; os inferiores ficam muito próximos da rua, não dá para ter a sensação de estar acima das casinhas e do mar.) O café da manhã sempre terminava docemente com uma sfogliatela, saída quentinha da estufa. A delícia foi inventada há 400 anos no Convento de Santa Rosa, na pequenina vila de Conca dei Marini, ali na Costa Amalfitana. Eu já havia provado o doce folheado com recheio de ricota e frutas cristalizadas na Di Cunto, confeitaria tradicional da Mooca, em São Paulo. Mas confesso que gostei mais da versão original italiana, com menos frutinhas.
Como em toda a Itália, comer é parte importante do programa. Almoços e jantares em varandas de frente para aquele azul cobalto são memoráveis. De preferência, tomando vinho para acompanhar as massas com frutos do mar, como um spaghetti alle vongole. Numa agradável casinha vermelha, o Ristorante Saraceno D’Oro não oferece vista. Visual bonito se vê nos pratos caprichosamente preparados. Comi uma massa com abobrinha e camarão deliciosa. O toque final da refeição vem no cálice de limoncello, o licor típico.
O sfusato amalfitano, um limão amarelo, extrapola o métier gastronômico e vira lembrança de viagem. Há de garrafinhas com o licor a imãs com a fruta estampada. Souvenir característico também são as cerâmicas coloridas, vendidas nos vários ateliês, em formato de vasos, peças de louça e quadrinhos reproduzindo a paisagem local. Neles, entre os desenhos, a cena clássica da enseada com as casinhas brancas no morro e a onipresente Chiesa Santa Maria Assunta, a igreja de cúpula dourada vista a partir dos mais variados pontos do vilarejo. Com origem no século 10 e reformada no século 18, está localizada na parte da cidade em que é proibida a circulação de veículos, em frente à Spiaggia Grande. Com pedrinhas em vez de areia fofa, a principal praia de Positano tem 300 badalados metros. Para um dia de praia mais tranquilo, siga para a direita em direção a Fornillo. Ali, todo ano, o último sábado de setembro, a Festa del Pesce encerra o verão na Costa Amalfitana, com pratos e mais pratos feitos com peixe, como o nome já faz supor.
No meio da costa
A Costa Amalfitana se estende por 36 quilômetros de Positano a Vietri sul Mare, na província de Salerno, na região da Campania. Mas é comum ouvir que começa em Sorrento e vai até Salerno, em 55 quilômetros. Não está errado. Oficialmente Sorrento pertence à província de Nápoles, mas é lá geralmente o ponto de partida para as belezas amalfitanas. O trajeto pode terminar em Salerno, já que Vietri fica a menos de 5 quilômetros dali. Decidir onde se instalar e que cidades visitar é parte fundamental do roteiro de ônibus pela costa. Você mesmo tem de pegar sua bagagem embaixo do ônibus quando desembarca, então, não convém ficar trocando de cidade para se hospedar (especialmente em viagens de até uma semana) tampouco levar malas grandes e pesadas – uma mochila bem estruturada é bem mais confortável e prática.
Amalfi está localizada bem no meio desse trecho do litoral italiano. Então, se a ideia for explorar tudo entre Positano e Vietri, procure hospedagem por lá. No meu caso, não tinha negociação, eu queria ficar em Positano para caminhar pelas vielas e me deliciar com as vistas roubadas do mar no vai-e-vem das escadarias. Meu foco também era ver Positano e Amalfi e dar uma passadinha por Capri, então dormir em uma das cidades na costa bastava. Visitei Amalfi de ônibus (mas é possível ir pelo mar durante o verão) e Capri de barco (com saída pela manhã e retorno no fim do dia).
Passeios marítimos levam a várias grutas nessa região da Itália. Entre Positano e Amalfi fica a Grotta dello Smeraldo no povoado de pescadores Conca dei Marini. É possível vê-la em tours pelo mar a partir de Amalfi ou tomando o ônibus da Sitabus até a parada na rodovia acima da gruta, próxima à escadaria. O nome da Smeraldo vem da cor da água, de tonalidade parecida à da pedra. Já a costa foi batizada com base em Amalfi, sua mais importante cidade historicamente. Entre os séculos 10 e 12, disputava o controle do comércio no Mediterrâneo. O porto segue movimentado hoje em dia pelo turismo. Por lá se vê uma concentração dos barquinhos que pontilham o mar no litoral sul italiano. O ponto final de várias linhas da Sitabus fica ali perto, um pouco antes da entrada da cidade.
De cara, o que se vê é uma charmosa praça com o impotente Duomo di Sant’Andrea num dos lados. Uma grande escada leva à catedral dedicada a Santo André, de colorida fachada em arabesco. A igreja integra um conjunto de construções aberto à visitação. Vale dar um tempo na viagem praiana para ver o Chiostro del Paradiso, claustro com 120 colunas de mármore, a Basilica del Crocifisso, erguida no século 9, e a cripta de Santo André, do século 13. Para digerir tanta cultura, prove um buon gelato numa das sorveterias no entorno da praça ou almoce num dos restaurantes com varanda ou mesinhas ao ar livre.
Sempre em 27 de junho, Amalfi celebra Santo André, padroeiro da cidade e protetor dos pescadores, com procissão e fogos na Festa di Sant’Andrea. Até 31 de outubro, a movimentação se dá em outro ponto, mais acima, em Ravello (há ônibus saindo de Amalfi para lá). Criado em 1953 — inspirado em Richard Wagner, que ali compôs no século 19 parte da ópera Parsifal –, o Festival de Ravello apresenta música, dança e cinema, em sessões no Auditório Oscar Niemeyer, projetado pelo arquiteto brasileiro e inaugurado no ano passado, e em dois pontos tradicionais da bela cidade, a Villa Cimbrone e a Villa Rufolo, mansões com mirantes de visual impressionante e lindos jardins.
O florescer e o aroma das flores dão início à temporada turística na Costa Amalfitana, geralmente depois da Páscoa. Bares e restaurantes abrem renovados para receber os turistas até o término do verão, no fim de setembro. Fora desse período, muitos estabelecimentos fecham. Em maio e junho, os preços são mais baixos do que durante o período de alta, em julho e agosto. O movimento cai um pouco em setembro, quando os dias ainda são quentes e dá para aproveitar as cidades sem tanta gente como no meio do ano.
Tudo isso eu tinha lido antes da viagem. Ninguém quer ir à Costa Amalfitana no inverno quando as máximas não passam dos 20 graus. Entretanto, como o clima no mundo anda doido, não há garantias de tempo bom nem no mês mais indicado, em todos os guias, para a visita: maio. No fim, minha viagem de sonho ganhou um toque de realidade. Embora não seja freqüente nessa época, pegamos chuva em alguns dias. Se eu preferia sol? Claro, mas às vezes viajar inclui a nobre arte de saber se adaptar à situação apresentada. Foi um ano atípico, disseram. Então, aproveitei do jeito possível. A companhia e o vinho também fugiam do comum, e Positano é linda mesmo com as gotas escorrendo pelo vidro da porta da varanda ou debaixo do ombrellone emprestado pelo hotel.
Na próxima vez, além do tempo bom, tenho outro pedido para o gênio da lâmpada: um motorista particular. Foi legal a aventura, mas agora quero mordomia. Para quem pretende o mesmo que eu sem ter de dirigir, os hotéis marcam traslados a partir de Roma ou Nápoles. Muitas vezes o trajeto é feito de Mercedes, que luxo.
De qualquer forma, é bom saber, seja qual for o meio de transporte terrestre escolhido, o trânsito é grande nos fins de semana do verão e durante o mês de agosto, períodos de maior movimento na Costa Amalfitana. Se for esse o caso, ainda me resta o terceiro e derradeiro desejo para dizer ao gênio. Bem, acostumada a ver a Marginal Tietê pela janela, ficar parada diante do mar e daqueles paredões escarpados não parece tão mal. Melhor não desperdiçar pedido então, vai que o primeiro não pega e resolve chover.
*
Com este texto ganhei o prêmio da Comissão Europeia de Turismo, na categoria Melhor Reportagem na Internet