Uma senhora falante veio nos receber. Mal saímos da van, e ela já começou a dizer o quanto estava feliz por nos ver e a contar a história de sua gente no Canadá. Eu já tinha ouvido vagamente sobre os acadianos, os primeiros franceses a colonizar o país, no início do século 17. Mas só entendi um pouco do que foram e do que resta da sua cultura quando desci daquela van.
Na minha viagem ao Canadá no primeiro semestre de 2013, nosso grupo de blogueiros foi levado até Le Pays de la Sagouine, em Bouctouche, na província de New Brunswick. O lugar leva o nome do livro escrito por Antonine Maillet, e tem uma vila que reproduz o ambiente onde os personagens da autora viviam. Entre casinhas coloridas feitas de madeira, mobiliário de época, cortinas de renda e atores caracterizados como os acadianos do passado, eu fui apresentada a essa história — leia mais sobre os acadianos.
E a história foi animada logo de cara. A senhora de fala solta nos convidou para uma festa na cozinha. Casas sem televisão e famílias com muitos filhos, segundo a senhorinha, no século 17 a festa na cozinha era o maior entretenimento na região.
Acompanhada de uma talentosa mocinha, a senhora demonstrou como era a tal festa na cozinha. As duas vestiam roupas compridas, de estampas descombinadas e levavam lenços na cabeça. Sentadas, bateram os pés no chão e duas colheres-de-pau nas mãos e nos joelhos. Muito legal!
Depois fomos até a vila reproduzida na parte dos fundos do Le Pays de la Sagouine. As casinhas recompõem o ambiente em que os acadianos viviam, com cômodos reconstituídos em detalhes. Para chegar até lá, tive de percorrer uma enorme ponte. Muito bonito o visual, mesmo com o céu cinza.
Imagino como deve ser bacana visitar aquilo ali no verão, quando há encenações na vila. Porque, mesmo com aquele frio todo, foi bem interessante. Bouctouche foi o lugar onde senti mais frio naquela viagem. Não só pelos 6 graus de temperatura, mas por causa do vento e da chuvinha cortante que enfrentei para atravessar a ponte.
Terminei o passeio fazendo a acadiana remake. Naquele frio todo, minha pashmina virou capa, virou lenço, virou abrigo. Só faltou mesmo eu aprender a tocar a colher-dupla!