O Festival Internacional de Cinema de Toronto (Tiff, para os íntimos) é um marco dentro do calendário de eventos da maior cidade do Canadá. Desde 1976 é realizado no mês de setembro e, nos últimos anos, tornou-se um dos mais importantes do mundo, ao lado dos festivais de Cannes, Veneza e Berlim. E reforça a relação que a capital da Província de Ontário mantém com a indústria do cinema.
Toronto é utilizada como cenário de várias produções porque é uma metrópole cheia de prédios modernos e de ruas que se passam tranquilamente por cidades como Nova York ou Chicago (algo que impacta de modo positivo sobre os custos de produção, normalmente mais altos nas cidades americanas).
Durante o Toronto International Film Festival (Tiff), a circulação de pessoas aumenta, os hotéis em Toronto ficam mais cheios e o movimento é grande sobretudo na região do Entertainment District, onde estão as principais salas de exibição da mostra, entre elas o Tiff Bell Lightbox. Por isso, é importante reservar com antecedência — veja opções no mapa abaixo.
Inaugurado em 2010, é a casa do festival: um conjunto de 5 salas de cinema, que inclui ainda restaurantes, galerias, cafés, bares e uma parte residencial. Visitas guiadas são realizadas no primeiro sábado de cada mês. Quando não abriga o mais renomado festival de Toronto, o Tiff Bell funciona como um centro de arte cinematográfica, com exibições de filmes, palestras, workshop e mostras especiais.
Como é o mais renomado festival de Toronto
O Festival Internacional de Cinema de Toronto dura cerca de 10 dias, com uma programação que inclui perto de 250 filmes (longas e curtas), a maioria estreias mundiais. Meryl Streep receberá a Tiff Tribute Actor Award, premiação que será concedida na 1ª edição do evento Tiff Tribute Gala, marcado para 9 de setembro no Fairmont Royal York.
Portanto, se você quer ver em 1ª mão algum longa que certamente vai figurar na lista de indicados ao Oscar do ano seguinte, a dica é dar uma olhada no site oficial para comprar o ingresso individual das chamadas apresentações de gala — tenha em mente que esses filmes estarão entre os mais cobiçados. E saiba também que os pacotes de ingressos são sempre recomendados a cinéfilos rodados, aqueles graduados em Tiff e festivais de fôlego, com exibições diurnas e noturnas.
A programação Contemporary World Cinema é voltada a produções estrangeiras (filmes que têm tudo para virar cult, mas que não vão entrar em circuito comercial no Brasil necessariamente). Como ocorre em festivais como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, sessões assim costumam ser seguidas de bate-papo do público com diretor e elenco.
King Street, com bonde e a sede do Tiff
O que fazer antes ou depois das sessões dos filmes
Digamos que seu barato não seja disputar um lugar nas salas de projeção, mas ainda assim gostaria de sentir o clima que toma conta de Toronto durante o festival. A dica então é batalhar um espaço entre o público que se amontoa ao longo do tapete vermelho armado antes das sessões.
Poucos filmes integram a chamada programação de gala do festival e, portanto, que oferecem este contato mais próximo dos astros com os fãs. Com sorte (e uma dose de histeria), dá para ganhar um tchauzinho de Viola Davis ou de Bradley Cooper ou ainda (quem sabe) ser o figurante da selfie de Idris Elba ou Nicole Kidman.
Nos últimos 5 anos, um trecho da King Street West — maior e principal via do Entertainment District — se transforma no cenário do Tiff Festival Street, evento de 4 dias inteiramente voltado para o público, com apresentações musicais, venda de comida em food trucks e, claro, sessões gratuitas de cinema (em 2018, em comemoração aos 30 anos de seu lançamento, houve exibição de Quero ser Grande, um clássico da Sessão da Tarde estrelado por Tom Hanks).
Agito nas noites do festival de Toronto – Foto: Jesse Milns/Toronto Tourism/Divulgação
Nos dias em que rola o festival, tão logo os créditos sobem na tela, a movimentação se transfere das salas de cinema para os muitos restaurantes e cafés do ED. Oportunidade de experimentar um drink concebido especialmente para o período do festival ou participar de eventos abertos ao público e que estão conectados com a Sétima Arte.
Segredo de bastidores: o Ritz-Carlton Hotel fica próximo ao Roy Thomson Hall, um dos locais onde são exibidas as produções de gala. Por essa razão, não chega a ser impossível esbarrar com astros do calibre de George Clooney ou de Ryan Gosling no bar do hotel.
As Montanhas Rochosas, no Canadá, me emocionaram. Jasper reúne lagos lindos, passeios de barco e hotéis dentro do parque nacional. Dá para chegar até essa região a bordo do trem The Canadian, da VIA Rail, ou de carro
Eu sabia que iria voltar. Eu tinha de voltar. Como seria aquela cidade no alto das montanhas do Canadá? E o parque no meio das Rochosas? Lá estava eu para descobrir.
A subida até Jasper foi de ônibus, novamente a partir de Edmonton, como da primeira vez, de trem. A rodovia fez da trajetória praticamente uma reta sem sobressaltos, algo não necessariamente bom. Tudo bem, eu estava ali para ver o que tinha no alto da montanha. Não esperava mesmo grandes surpresas durante o caminho. Lagos e picos nevados me aguardavam. Melhor relaxar.
EMOÇÃO DIANTE DAS MONTANHAS ROCHOSAS NO CANADÁ – Fotos: Nathalia Molina @ComoViaja
E DE CARRO
Até que a memória tocou o sinal de ‘olha aí!’. O café, as lojinhas, a estação. Três anos depois a lembrança saltou, bem viva. Era Jasper de novo. As cenas atravessavam a janela, enquanto o ônibus seguia em frente. Não imaginei que fosse me emocionar como na primeira vez. O sabor da novidade não existia mais. As montanhas eram as mesmas. Num outro ângulo, no entanto, as mesmas.
A CHARMOSA CIDADE DE JASPER
Estava enganada. Aquela euforia de menina me levou a ziguezaguear pelo corredor do ônibus. Uma ponta de vergonha quase me censurou ao me ver pular de poltrona em poltrona. Sem chance de me conter. Montanhas em sequência, de várias tonalidades, surgiam. Ora plantadas sobre o solo verde, ora refletidas em imensos espelhos d’água. O ônibus cortava o Parque Nacional de Jasper.
E era dentro dele que eu iria dormir. No mato. Nada mal para uma urbanoide feito eu. Nunca gostei de camping, nem quando era adolescente. A estrutura pífia e o desconforto dos acampamentos onde estive no Brasil me pegaram pelo braço e me conduziram até o lado dos frescos. Como me sentiria agora cercada de verde no Canadá, sozinha num chalé?
Por fora, a casinha de madeira do Tekarra Lodge era uma graça, de teto triangular feito desenho de criança. Uns degraus, a varandinha, a porta. Ao entrar, um ambiente com sala, lareira, cama e, no canto à esquerda, cozinha. Daquelas de quitinete, com bancada, pia e frigobar. Ao lado, uma pequena mesa e duas cadeiras. A porta à esquerda dava acesso ao banheiro. Tinha uma pia e banheira no chuveiro.
MINHA CASINHA NO PARQUE
QUARTO E SALA
Era surpreendentemente bom, como todo o chalé. Lembrava um quarto de hotel. Não fosse pela decoração bem rústica, pelo movimento da vizinhança de famílias canadenses e pelas janelinhas com cortina de renda que deixavam o amanhecer entrar. Aquele que me avisou que era hora de ver a vida.
Uma fresta de sol varava a delicada cortina de renda. O silêncio absoluto não denunciava, mas já havia amanhecido. Me levantei para espiar o tempo pela janelinha. Parecia frio. Ainda não havia chegado o outono, setembro estava só no início, mas o ar era fresco e úmido. Árvores e o lago perto do chalé aumentavam a friagem. Lá fora.
RECEPÇÃO DO LODGE
Dentro da casinha de madeira, o mundo permanecia quentinho. ‘Bem, vamos nessa!’, pensei num estalo de coragem. Meia, bota, manga comprida, cachecol, casaco. Tudo para enfrentar a friaca e continuar me pasmando. Tinha sido assim desde a primeira vez em que havia estado nas Rochosas, três anos antes. Desde aquela imagem que havia me golpeado com a força das montanhas.
Nasci e cresci no Rio de Janeiro, cercada pelas elevações da Mata Atlântica, lindíssimas, abraçando o mar. Cansei de passar férias na serra do Rio ou de Minas Gerais, em cenários incríveis. Aquilo ali, porém, era diferente. Uma paisagem seca, sólida, entremeada por lagos. Visão imponente que não cabia na minha grande-angular mental. Girar o corpo para completar o 360 se tornou um movimento involuntário. O Canadá tinha me emocionado.
SOLIDEZ E VEGETAÇÃO
MONTANHAS ROCHOSAS ENTRE LAGOS, NO CANADÁ
Segue até hoje com sua cultura misturada de influências de toda parte, sua comida boa, seu povo gentil e sua geografia tão bonita quanto diversa. No entanto, quando me deparei com as Montanhas Rochosas, a emoção foi diferente. De supetão, o Canadá havia me mostrado uma coisa óbvia, até meio besta de se pensar (e de se escrever): a dimensão da natureza. Sabe quando você se dá conta de que é parte de uma coisa maior, bem maior, do que você? Pois é, eu sabia disso, claro, mas não me lembro de ter sentido isso tão concretamente até aquela manhã de agosto, na primeira vez no país.
Passado o impacto do primeiro instante, veio uma excitação de criança diante de novidade. Enquanto o trem serpenteava morro acima, eu gastava o dedo na câmera fotográfica, numa tentativa de absorver pelas lentes aquela grandiosidade. Buscava ângulos de um lado e do outro no vagão de vidro. Pedras muito grandes quase raspavam na janela. Até que chegou Jasper. Uma cidadezinha, que naquele dia lá trás me pareceu apenas uma rua.
CAFÉ E LOJINHAS EM JASPER
Não podia me afastar muito da estação por causa do horário de embarcar de volta no trem. Estava viajando de Toronto a Vancouver, cortando o Canadá pelos trilhos. No alto das Rochosas, Jasper foi uma das paradas daquela impressionante viagem atravessando o país e suas muitas paisagens. Resolvi tomar um bom café para esquentar e depois explorar as lojinhas na rua principal, a Connaught Drive.
No embarque de volta ao The Canadian, trem da VIA Rail que faz o trajeto leste-oeste do país, as Montanhas Rochosas me acenaram ‘até logo’, como pano de fundo da estação. A moldura foi sumindo lá atrás, lentamente. No leve chacoalhar que embala uma jornada de trem, sedimentava aquela emoção em mim.
Eu tinha de voltar. Eu sabia que iria voltar. E voltei. Para Jasper, e para o Canadá, outras tantas vezes. E lá estava eu para descobrir como eram aquela cidade no alto das montanhas e o parque no meio das Rochosas.
‘ATÉ BREVE’
Charmosa Jasper e o parque nacional
Localizada na província de Alberta, Jasper é pequenina mesmo, com 3.560 habitantes, de acordo com dados do último censo nacional, realizado em 2011. Mantém um acolhedor centrinho, ponto de concentração de lojas e restaurantes, e serve de referência para explorar o parque nacional de mesmo nome, com lagos, cânions, cachoeiras, glaciares e rica fauna.
Maior das Rochosas, com 10.878 km² de área total, o Jasper National Park é Patrimônio da Humanidade declarado pela Unesco. Criado em 1907, é o parque de relevo mais acidentado da região. Do topo do Monte Whistler, a 2.277 m de altura, isso fica claro à visão. Um ondulado contorna o horizonte ao redor da estação do Jasper Tramway, bondinho que em 7 minutos sobe até lá.
Dizem que, em dias de tempo bom, é possível ver até 80 km no entorno. Eu visitei numa manhã nublada. Vencida a camada de nuvens, uma imensidão branca formava um novo chão, arrematado por um bordado franzido de montanhas. Uma delas é a mais alta das Rochosas: o Monte Robson, na vizinha província de British Columbia. Mesmo com a cobertura de nuvens, pude ver seu pico lá longe, a uma altura de 3.954 m. A visita terminou com uma parada na lanchonete, num coffee with a view.
7 MINUTOS ATÉ O ALTO
ESTAÇÃO DO BONDINHO
VISUAL A 2.277 M
ACIMA DAS NUVENS
COFFEE WITH A VIEW
As Montanhas Rochosas no Canadá englobam porções das duas províncias, Alberta e British Columbia. Percorrida no limite da divisa entre elas, uma rota cênica, de cerca de 235 km, faz a conexão entre Jasper e as cidades de Lake Louise e Banff. A Icefields Highway apresenta cachoeiras, picos e geleiras e liga dois parques nacionais, Jasper e Banff — veja opções de hotéis nas Montanhas Rochosas no Canadá.
Distante em torno de 100 km ao sul de Jasper, está o ponto alto desse caminho: Columbia Icefield, maior área de gelo ao sul do Alasca, com cerca de 325 km² e profundidade de até 365 m. Um centro de visitantes fornece informações para explorar a área, incluindo a ida até o pé do Glaciar Athabasca. Funciona de maio a outubro, assim como alguns outros serviços do Jasper National Park.
No mesmo período, funcionam o hotel e o restaurante próximos da Sunwapta Falls, por exemplo. Uma leve e curta caminhada na mata leva ao cânion, onde a cachoeira deságua. Visitei essa queda d’água em setembro, debaixo de chuva. Deu para ter uma ideia do lugar, a aproximadamente 55 km de Jasper. Com céu azul deve ser ainda melhor.
PAISAGEM NOS MESES QUENTES
Algumas áreas do parque nacional não ficam disponíveis na temporada de neve. Outras dão lugar a esportes na neve, como esqui e snowshoeing. No inverno, segundo a Parks Canada, instituição governamental que protege os parques nacionais do país, a máxima fica em torno de 9,4 graus negativos. Já, durante o verão canadense, chega a registrar 22,5 graus (em julho). Além disso, a altitude influencia muito: a cada 300 metros que se sobe, pode-se esperar uma queda de 1,7 grau na temperatura ambiente.
O panorama e o estilo da viagem pelo Jasper National Park, portanto, mudam bastante conforme a estação. Campings costumam abrir do meio de maio ao início de setembro. O parque reúne perto de 1 mil quilômetros de trilhas para caminhadas e áreas delimitadas para acampamento (reservas pelo pccamping.ca).
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Nos meus deslocamentos de ônibus pelas estradas locais, observei pela janela o zanzar de motorhomes, para lá e para cá. ‘Que divertido deve ser isso’, me peguei pensando. ‘Meu filho iria adorar viajar num carro-casa desses.’ Mas internamente me soou mais como delírio do torpor com o visual. ‘Você? Não, acho que uma viagem de trailer já seria demais para alguém tão urbano…’
Dormir num lodge, acomodação no meio do parque, já foi um grande paradigma quebrado. Altamente recomendável, aliás. A experiência faz da natureza algo ainda mais palpável do que se hospedar na cidade e sair para passeios. Se estiver dirigindo, é bom checar a página do Jasper National Park no site da Parks Canada para ver os avisos de interrupção nas estradas por causa de construções durante a época de tempo quente.
Entre lagos, motos e alces
Os meses mais quentes são os mais indicados para aproveitar tudo o que a região oferece. Por isso, aproximadamente 2 milhões de pessoas visitam o parque a cada verão. Foi quando eu tive a sorte de cruzar com alces e veados à beira da estrada — demais a sensação de estar perto desses animais, tão simbólicos para o Canadá (agora falta o urso!). Mas não se empolgue, é importante lembrar da recomendação da Parks Canada de manter certa distância dos animais: pelo menos 100 m de ursos, lobos e pumas; e no mínimo 30 m de alces, ovelhas e cabras.
IMPRESSIONANTE VER UM ALCE TÃO PERTO
Ainda entrei num sidecar de uma Harley-Davidson para me jogar nas curvas do parque. O vento no rosto, em meio a todo aquele verde, aumenta a sensação de liberdade. É como se você fizesse parte do cenário.
BORN TO BE WILD
LÁ VAMOS NÓS
PAUSA PARA VER A VISTA
No verão, também dá para observar com tranquilidade os lagos de tonalidades entre o azul turquesa e o verde esmeralda, que banham vales entre os montes de pico nevado. Nessa minha segunda ida a Jasper, atravessei o Maligne Lake, maior lago do parque, com 22 km de extensão. Barcos levam os visitantes até Spirit Island, ilhota de solo pedregoso, que dá um bonito contraste com a água verde-claro e as coníferas em perspectiva. Certeza de boas fotos.
Durante uma hora e meia de navegação, o tom esverdeado do lago serviu de base para enquadramentos com montanhas de topo branco. Esse passeio, a cerca de 50 km de Jasper, é realizado de maio a outubro. Desde a área de embarque, o visual já rende lindas imagens. É daquelas cenas que se veem em filmes ou cartões-postais.
CENÁRIO BUCÓLICO
PASSEIO DE BARCO
ANTES DO MEU EMBARQUE
NEVE NO TOPO
Terminamos a tarde, com um chá no histórico Maligne Lake Chalet, entre petit fours e goles quentinhos. Gostei de encerrar a visita ao lago com um tea with a view, experiência bucólica disponível também nos meses de verão.
TEA WITH A VIEW
Uma volta de caiaque ou de barco nos lagos de águas clarinhas das Rochosas é mesmo uma experiência marcante. Só de olhar já dá uma paz enorme. Na minha visita ao Fairmont Jasper Park Lodge, pertinho do centro da cidade, as cores do horizonte com canoas despojadamente dispostas formam um painel irretocável.
CANOAS E MONTANHAS NO HOTEL FAIRMONT
Hóspedes jantavam em mesinhas na varanda, enquanto outros assistiam ao entardecer sentados à margem do pequeno lago azul diante do hotel, o Beauvert Lake. Fiquei ali em pé por minutos. Foi difícil mesmo deixar para trás aquele céu que se pintou do laranja ao roxo para receber a noite.
JANTAR NA VARANDA DO HOTEL
AS CORES DO ANOITECER NO LAGO, NO PARQUE NACIONAL DE JASPER
Sempre contei das minhas andanças pelo Canadá para o Joaquim. A superalta CN Tower, o divertido Hockey Hall of Fame, o interessante Royal Ontario Museum. Mas, ao ver os vídeos do novo site do Toronto Tourism para criança com o chão de vidro no alto da torre, as tacadas na casa do hóquei e os dinossauros do museu canadense, meu filho de 7 anos se empolgou ainda mais. “Olha isso, mamãe! Adorei!”, exclamava ao ver em ação crianças como ele.
Dos desenhos às atividades propostas, o Yo-Toronto.com usa muita cor e a linguagem de uma geração acostumada a lidar com a tecnologia. Os vídeos, curtinhos, evitam cansar e dão uma ideia da cidade sob a ótica infantil. A Casa Loma vira uma aventura em um castelo medieval, e a área do porto (Harbourfront), um passeio lúdico diante do Lake Ontario, o lago que banha a cidade.
Até eu conheci atrações sobre as quais não tinha ouvido falar ainda. Minha lista para levá-lo um dia já incluía o Ripley’s Aquarium of Canada, aquário na região da CN Tower. Mas acrescentei mais uma: Ontario Science Centre, com experiências científicas que fizeram Joaquim se lembrar dos cabelos arrepiados com que ficou na visita ao paulistano Catavento Cultural.
O site é todo em inglês, o que dificultou a compreensão de Joaquim das curiosidades e dos trocadilhos feitos com a língua inglesa, nas piadinhas infantis. Eu fui traduzindo o que ele sentiu necessidade de informação adicional. No entanto, por meio dos vídeos e de atividades (como desenhos para colorir após download e quebra-cabeça de dinossauro), ele entendeu o que Toronto tem para oferecer a alguém da idade dele.
Museu e transporte grátis no mesmo dia em Montréal. Rotas de ônibus públicos levam os visitantes até as instituições participantes. Belas Artes, Mc Cord, Biosphère e Biodôme são alguns dos destaques da programação
ATUALIZADO EM 17 DE MAIO DE 2017
La Journée des Musées de Montréalais, o Dia dos Museus de Montréal, celebra sua 31ª edição em 28 de maio, com a participação de mais de 30 museus. É um dia em que as instituições participantes abrem suas portas sem cobrar entrada e o transporte público até elas também é grátis.
MUSÉE MCCORD E AS BICICLETAS DE MONTRÉAL – Fotos: Nathalia Molina @ComoViaja
O evento é organizado pela MTL Museums, ou Société des Musées de Montréal, que reúne 41 instituições, como o Musée des Beaux-Arts de Montréal (o de Belas Artes) e o Pointe-à-Callière (sobre arqueologia e história). Além da entrada franca nos museus participantes, o visitante conta com transporte. Para esse dia especial, a companhia de transporte da cidade — a STM (do nome em francês, Société de Transport de Montréal) — mantém 5 rotas de ônibus gratuitas.
BIODÔME
MUSÉE DES BEAUX-ARTS
POINTE-À-CALLIÈRE
A festa se espalha pela cidade, mas as atividades fora de museus se concentram no Promenade des Artistes, no Quartier des Spectacles, das 9 às 16 horas. Os visitantes podem participar da criação de um mural coletivo com artistas. Para quem vai ao evento em família, há pintura facial para as crianças. Como Montréal comemora seus 375 anos em 2017, esta edição terá a representação de Jeanne Mance e Paul de Chomedy (conhecido como Sieur de Maisonneuve), contando histórias sobre como os dois fundaram a cidade em 1642. A organização promete ainda a chance de “tirar uma foto com a dupla”.
Destaques para você conferir
Se sua ideia for visitar 2 das principais atrações culturais da cidade, embarque na linha amarela e desça nas paradas do Musée McCord (com objetos, fotografias e documentos conta a história do Canadá e de Montréal, seu povo e costumes) e do Musée des Beaux-Arts de Montréal. Tive a sorte de ver uma temporária sobre Fabergé no Beaux-Arts e também uma interessante exibição sobre a história da música no McCord.
MÚSICA
FABERGÉ
MUSÉE DES BEAUX-ARTS
MUSÉE MCCORD
A azul segue rumo ao leste e leva ao Biodôme de Montréal e ao Planétarium Rio Tinto Alcan, na região do Parque Olímpico. São programas divertidos para se fazer também com crianças: o 1º apresenta ecossistemas do mundo; e o 2º, o universo em 2 experiências de imersão. Ambos fazem parte do Espace pour la Vie, que reúne ainda O Jardin Botanique e o Insectarium, que não participam do Dia dos Museus de Montréal — portanto, será cobrado ingresso para o Jardim Botânico e para o Insetário.
ECOSSISTEMA
IMERSÃO NO UNIVERSO
TORRE DO PARQUE OLÍMPICO COM PLANETÁRIO
BIODÔME, VISTO DO ALTO DA TORRE
Meio ambiente é o assunto do Biosphère, um dos últimos pontos da rota vermelha.Instalado na grade esfera que se vê no Parc Jean-Drapeau, o museu aborda temas como recursos hídricos, clima e qualidade do ar. Logo no início do trajeto, o Pointe-à-Callière e o Château Ramezay são paradas para quem deseja conhecer a história da cidade.
VALE SABER
Quando: Em 2017, será realizado em 28 de maio
Transporte: Desça na estação de metrô Places-des-Arts e pegue a saída para a Rue Jeanne-Mances.
As 5 rotas especiais de ônibus também saem daí. Conheça os trajetos, que funcionam das 9h30 às 16 horas:
Rota azul: Musée Régimentaire des Fusiliers du Mont-Royal > Château Dufresne (Dufresne-Nincheri Museum) > Biodôme de Montréal e Planétarium Rio Tinto Alcan > Studio Nincheri (Dufresne-Nincheri Museum) > Centre d’Exposition La Prison-des-Patriotes > Ecomusée du Fier Monde > Cinémathèque Québécoise > Musée d’Art Contemporain de Montréal
Rota verde: Galerie d’art Stewart Hall > Musée d’Histoire et du Patrimoine de Dorval > Musée de Lachine (Pavillon de l’Entrepôt) > Lieu Historique National du Commerce-de-la-Fourrure-à-Lachine > Musée de Lachine (Pavillon principal)
Rota amarela: Musée du Rock’n’Roll > Musée des pompiers de Montréal > McCord Museum > Musée Redpath > Musée des Beaux-Arts de Montréal e Guilde Canadienne des Métiers d’Art > Maison Saint-Gabriel > Maison Nivard-De Saint-Dizier > Musée des ondes Emile Berliner > Musée des hôpitaux Schriners pour enfants-Canada
Rota vermelha: Centre d’Histoire de Montréal e DHC/ART Fondation pour l’Art Contemporain > Pointe-à-Callière e Centre des Sciences de Montréal > Musée de l’imprimerie du Québec > Château Ramezay, Musée Marguerite-Bourgeoys e Musée de la Mode > Musée Stewart > Biosphère > Galerie de l’UQAM
Rota roxa: Musée des Hospitalières de l’Hôtel-Dieu de Montréal > Centre d’Exposition de l’Université de Montréal > Musée Eudore-Dubeau > Musée de l’Oratoire Saint-Joseph du Mont-Royal > Musée de l’Holocauste à Montréal > Musée des Maîtres et Artisans du Québec > Centre d’exposition Lethbridge
Sabe aquele museu em Toronto que você tem curiosidade de conhecer, mas não tem tempo de ver com calma durante essa viagem? Ou você já esteve lá, mas quer dar aquela passadinha para ver uma parte da coleção que faltou na visita anterior? Dá uma olhada, então, nesta lista com alguns dos principais museus da metrópole do Canadá que oferecem entrada grátis uma vez por semana.
Art Gallery of Ontario tem entrada grátis na quarta – Fotos: Nathalia Molina @ComoViaja
1 | Art Gallery of Ontario
Projetado pelo renomado arquiteto Frank Gehry, o prédio serve de pretexto para quem gosta de arquitetura dar um pulo nessa grande galeria de arte. O acervo, com um total aproximado de 90.000 peças, inclui obras canadenses e europeias. Veja os quadros do Grupo dos Sete, movimento artístico de pintores que no início do século 20 retrataram paisagens do Canadá e revolucionaram a arte do país.
Vale saber
Preço: CAN$ 25 – quem tem até 25 anos não paga para visitar a AGO
Grátis: Quarta, das 18 às 21 horas. Na segunda, às 10 horas, o museu libera uma certa quantidade de ingressos gratuitos, que podem ser reservados aqui. Para evitar muita espera, a dica do museu é chegar às 18 horas e não levar mochilas
Pinturas, cerâmicas, tapeçarias e manuscritos estão no Aga Khan, museu inaugurado em 2014 dedicado à arte islâmica. O museu também se destaca pela arquitetura com projeto do japonês Fumihiko Maki. No auditório da instituição, são realizados espetáculos de dança e música.
Vale saber
Preço: até 7 de outubro de 2022, CAN$ 10 – entrada franca para crianças de até 5 anos
A coleção desse museu, com cerca de 13.000 sapatos e artefatos, é um barato. Não é preciso ser estilo mulherzinha ou ligado em moda para curtir. As 4 galerias contam 4.500 anos de história do sapato, de exemplares chineses e egípcios a pares de celebridades do século 20.
Vale saber
Preço: CAN$ 14 – entre 5 e 17 anos, CAN$ 5; até 4 anos, grátis. O pacote para família, com até 4 menores de 18 anos, custa CAN$ 24 incluindo 1 adulto e CAN$ 35 para 2
É o museu de cerâmica do Canadá. Mostra civilizações e culturas pelo mundo, representados por artefatos de argila. Dos 4 museus apresentados aqui, é o único em que não estive. Achei meio caro para algo tão específico, assim como o Bata Shoe. Decidi ir a 1 dos 2 e acabei escolhendo o de sapatos, por ser bem diferente e ficar ao lado do ROM. Mas uma amiga me disse que é bem interessante. Na próxima viagem a Toronto, vou pensar em aproveitar essa noite de desconto.
Vale saber
Preço: CAN$ 15 – até 18 anos, grátis (menor de 12 anos deve estar acompanhado de 1 adulto)
O ROM é um bônus. Focado em história natural e culturas pelo mundo, o museu mostra ainda costumes, roupas e objetos de países na Ásia e no Oriente Médio. Com a renovação de seu prédio, que terminou em 2007, ganhou a moderna extensão projetada pelo escritório do arquiteto Daniel Libeskind, com formas espetadas, resultado da inspiração na coleção de cerca de 3.000 pedras e minerais do museu. Aqui a entrada grátis vale para todos os dias de funcionamento, mas apenas para a Daphne Cockwell Gallery, dedicada à arte e à cultura das Primeiras Nações do Canadá, os povos que habitavam o país antes da chegada dos europeus.
Vale saber
Preço: CAN$ 23 só para a exposição permanente e CAN$ 35 com a temporária – entre 4 e 14 anos, CAN$ 14 só com o acervo e CAN$ 21 incluindo a temporária
Grátis: Em qualquer dia da semana, dá direito à visita gratuita da Daphne Cockwell Gallery
Em 18 de maio, Dia Internacional dos Museus, instituições do mundo todo montam programação especial, inspiradas por um mesmo tema. No sábado mais próximo, ocorre a Noite Europeia dos Museus, com atividades e horários especiais
ATUALIZADO EM 15 DE MAIO DE 2018
Realizado desde 1977, o Dia Internacional dos Museus (em inglês, International Museum Day) ocorre sempre em 18 de maio. Várias instituições pelo mundo preparam programação especial para a ocasião, com atividades para adultos e crianças. Em 2017, a participação no evento ultrapassou o total de 36.000 museus em cerca de 160 países.
Em alguns museus, a programação especial é realizada em outras datas de maio ou às vezes estendida a mais dias. A 16ª Semana Nacional de Museus no Brasil é realizada de 14 a 20 de maio. Na Europa, muitas atividades se concentram na Noite Europeia dos Museus, em 2018 marcada para sábado 19 de maio.
As instituições costumam liberar a entrada gratuitamente nesse dia ou dão desconto no ingresso. Em Portugal, museus, monumentos e palácios administrados pela Direção Geral do Patrimônio Cultural (DGPC) têm entrada gratuita e programação especial para 19 de maio, a Noite Europeia dos Museus.
MUSEO SEFARDÍ, EM TOLEDO (ESPANHA) – Fotos: Conselho Internacional dos Museus/Divulgação
ATIVIDADE NA REPÚBLICA DOMINICANA
O Dia Internacional de Museus é uma iniciativa do Conselho Internacional de Museus (em inglês, International Council of Museums – Icom), que reúne atualmente 37.000 instituições de 141 países. A entidade foi criada em 1946 com o compromisso de “promover e proteger a herança natural e cultural, presente e futura, tangível e intangível”, segundo a explicação oficial.
O tema
Todo ano um assunto é proposto para discutir a importância dos museus na sociedade. Em 2018, é Museus Hiperconectados: Novas Abordagens, Novos Públicos. Considerando a rede global de conexões e a era tecnológica em que vivemos, o tema convida as instituições a repensarem como apresentar seus acervos e atrairem o interesse do público.
VALE SABER
Site:imd.icom.museum — na página, é possível fazer uma busca interativa, filtrada por museus, exposições, eventos ou programas educacionais.
Se a história não tivesse dado liga ainda mais forte à mistura de concreto e aço de sua estrutura, a Ponte dos Espiões seria apenas mais uma em Berlim. A Glienicker Brücke foi mais que uma passagem de veículos e pedestres sobre o Rio Havel, conectando a cidade à vizinha Potsdam, na antiga Alemanha Oriental. Durante a Guerra Fria, americanos e soviéticos ficaram frente a frente sobre ela em 3 oportunidades, sem que isso resultasse necessariamente num confronto. A mais famosa delas inspirou o filme A Ponte dos Espiões, indicado ao Oscar em 2015 em 6 categorias.
A ponte de aço, originalmente aberta em 1907, veio abaixo com os bombardeios da Segunda Guerra. Depois do fim do confronto e da consequente cisão de Berlim, a Glienicker Brücke teve seu controle partilhado entre Estados Unidos e União Soviética. Reconstruída e reaberta em 1949, serviu por pouco tempo para reconectar o fluxo com Potsdam.
Durante a vigência do Muro de Berlim erguido entre as 2 partes da cidade dividida, a passagem pela ponte ficou restrita a missões militares e, mais tarde, diplomáticas. Hoje uma placa no chão, no meio da ponte, lembra que ali um dia se dividiu a Alemanha. Desde 1989, é possível cruzá-la livremente, motorizado ou a pé.
As 3 trocas de espiões sobre a ponte
Durante a Guerra Fria, o 1º e mais notório encontro entre os 2 países oponentes sobre a ponte na Alemanha resultou na troca entre o espião soviético Rudolf Abel, preso nos Estados Unidos, e o piloto americano Gary Powers, capturado após sobrevoar o espaço aéreo adversário. Conduzida habilmente pelo advogado James Donovan, a negociação foi concluída numa noite fria de 10 de fevereiro de 1962, sobre a Glienicker Brücke.
Giles Whittel transformou o episódio no romance Ponte dos Espiões, que virou filme homônimo nas mãos do diretor Steven Spielberg, com Tom Hanks no papel do advogado de seguros escolhido para resolver a questão diplomática. Das 6 indicações ao Oscar em 2015, o longa Bridge of Spies ganhou apenas o prêmio de ator coadjuvante para Mark Rylance, o espião russo da trama.
Outras 2 trocas foram realizadas sobre a mesma Glienicker Brücke. Em 1985, a negociação envolveu 27 agentes, 4 deles de países da Cortina de Ferro. No ano seguinte, sob as lentes da imprensa, 9 pessoas foram trocadas, entre elas o ativista de direitos humanos Anatoly Sharansky, preso na União Soviética acusado de espionagem.
Tão logo a Guerra Fria chegou ao fim, a ponte foi liberada. Desde então, carros e pedestres podem atravessá-la e, se quiserem, dar meia-volta e retornar. Sem sustos.
Quem tem mais de 40 anos certamente ouviu muitas e muitas vezes o noticiário da TV falar sobre a Guerra Fria e o Muro de Berlim. Era permanente o clima de tensão vivido pelo mundo a cada movimento feito por Estados Unidos e pela ex-União Soviética. Construída pelos comunistas a partir de agosto de 1961, a barreira física dividindo a Alemanha tornou palpável a polarização do planeta.
Os principais fatos e as crises que marcaram a política mundial entre 1945 e 1990 estão expostos em BlackBox – Cold War (Zentrum Kalter Krieg). A atração está no Checkpoint Charlie desde 2012, no interior de uma grande caixa preta, como o nome em inglês diz.
Com 16 estações de mídia, 1 curta, documentos e objetos originais, a exposição explica o que foi a Guerra Fria e o que a divisão da Alemanha e de Berlim têm a ver com acontecimentos históricos como a Crise de Cuba e a Guerra da Coreia.
Do lado de fora, 175 painéis com fotografias e informações abordam aspectos relacionados ao Checkpoint Charlie (uma das passagens entre as 2 partes da Berlim dividida). Também tratam dos movimentos sociais que contribuíram para o fim do socialismo, não só na Alemanha como em outras partes do Leste Europeu. As explicações estão em inglês e alemão.
Fotos e vídeos mostram acontecimentos dentro da caixa preta
Durante nosso giro por Berlim Oriental, Fernando serviu de audioguia adaptado para o Joaquim, que ficou no colo enquanto percorremos a exposição. O preto e branco das fotos não agradou muito ao nosso menino. Quim gostou foi do mapa da divisão de Berlim em 4 setores, menos pelo aspecto geopolítico (claro), mais pelas bandeirinhas de cada país envolvido no controle da capital alemã depois da 2ª Guerra.
VALE SABER
Endereço: Na esquina da Zimmerstrasse com Friedrichstrasse, 47 – Berlim, Alemanha
Funcionamento: Diariamente, das 10 às 18 horas
Preço: € 5 — menores de 14 anos, grátis. A entrada combinada dá direito ao BlackBox e à exposição Panorama Die Mauer, que fica na calçada oposta da Zimmerstrasse, custa 12,50 euros
Transporte: De metrô, use a linha U6 (desça na Kochstrasse/Checkpoint Charlie). Se utilizar ônibus, tome o M29 (desça na Kochstrasse). De um modo ou de outro, você vai ter de caminhar um pouco (mas é pouco mesmo)
1ª dúvida: Seria adequado para uma criança de 5 anos visitar Die Mauer, exposição no Checkpoint Charlie? 2ª: Com tantas opções de lugares para conhecer mais sobre a construção do Muro de Berlim e a cidade dividida (e sempre insuficiente tempo para todas), valeria ir além dos clássicos?
A curiosidade move jornalistas, e foi ela que nos levou, Fernando e eu, juntamente com nosso filho, Joaquim, até a entrada da caixa cilíndrica de 15 m de altura que abriga o panorama da cidade alemã dividida criada pelo artista Yadegar Asisi. Perguntas feitas na bilheteria, passamos adiante. Die Mauer – Das Asisi Panorama zum Geteilten Berlin (O Muro – Panorama Asisi de Berlim Dividida) começa com uma exibição de fotos e vídeos; garanta seu ingresso.
São cenas da construção do Muro de Berlim, como janelas sendo fechadas com tijolos e pessoas vendo seu horizonte sumir tapado pelo concreto tão de perto. Os vídeos também mostram depoimentos de gente que teve a vida impactada por aquela fronteira forçada. Entre as aproximadamente 100 fotos está essa imagem de Heidemarie Beyer com a família diante do Portão de Brandemburgo fechado.
Placas com escritos e desenhos dos visitantes ilustram as paredes. No centro desse foyer, 2 placas soltas da altura do Muro (3,6 m) lembram as de concreto pintadas vistas por Berlim. Pretendem causar no visitante a sensação de estar ali pequeno e poder expressar isso em formas ou palavras. Ao lado dos painéis, canetas para quem quiser deixar sua mensagem. Joaquim quis logo pegar uma. Como ainda não sabia escrever (tinha acabado de completar 5 anos quando fomos à Alemanha), pediu ao pai para deixar alguma coisa para ele copiar. Ficou satisfeito por participar.
Nossa participação
Visão de Berlim Ocidental para Oriental
Atravessamos a porta para ver o panorama que batiza o subtítulo da exposição. Fomos completamente tomados pela ambientação. No escuro, saltam as cores em tons arroxeados da pintura. À música de Eric Babak se misturam efeitos especiais, como sons do cotidiano e falas históricas. A rispidez do alemão deixa o clima ainda mais intenso para quem não entende nada da língua. Entre os áudios está a fala de Walter Ulbricht, presidente do Conselho de Estado da Alemanha Oriental, negando a intenção do regime comunista de construir o Muro de Berlim, numa gravação de 15 de junho de 1961, pouco menos de 2 meses antes de ele ser erguido.
O enorme painel, realizado enfatizando profundidade e forma, apresenta a vida perto da barreira física, num dia qualquer do outono da década de 1980. A visão a partir de Kreuzberg, com Mitte no horizonte, mostra a Torre de TV ao fundo e a Faixa da Morte (temor de quem do lado de lá se arriscava a furar o bloqueio). Do lado de cá, acampamentos e os tipos que habitavam aquela região suburbana no oeste da cidade. Em Kreuzberg, lugar do movimento punk em Berlim Ocidental, Iggy Pop e David Bowie eram vistos nos anos de 1970 na casa noturna que leva o nome do distrito, a SO36.
Do alto da plataforma de 4 m de altura, os visitantes se confundem com as pessoas pintadas diante do Muro de Berlim. Como bem definiu Joaquim, o cenário é muito ‘realista’. Vê se consegue encontrar Fernando e nosso filho na foto abaixo. A imagem aqui foi um pouco clareada para mostrar os desenhos do artista. Lá, com a penumbra e com o clima instaurado, tudo se confunde.
Onde está Wally?
O cilindro de Yadegar Asisi guarda um dos trabalhos mais tocantes que vimos sobre o Muro, pela maneira como retrata a vida nos tempos da cidade partida e proporciona ao visitante uma imersão nela.
Artigos vintage e cilindro da exposição
Panorama Asisi: cenas em 360°
Natural da Saxônia (região do leste da Alemanha), Asisi vive em Berlim. Desde 2003, o arquiteto e pintor cria panoramas 360°, alguns chegando a medir 32 m de altura e a ter até 110 m de circunferência. O trabalho iniciado numa exposição dentro de um antigo gasômetro de Leipzig se expandiu e hoje se materializa em diversas pinturas panorâmicas expostas em cidades alemãs.
Para nosso filho, a representação deu forma a explicação simplificada que demos a ele quando Joaquim se deparou pela primeira vez com o Muro, num dos nossos passeios por Berlim Oriental. Usamos elementos da nossa realidade para tentar torná-lo algo um pouco mais compreensível para nosso pequeno menino: ‘Seria como se, de uma hora para outra, a gente não pudesse mais visitar seu tio, que mora a poucas ruas de casa. Tudo isso porque os 2 times que mandam, um de cada lado, não gostam um do outro’. Foi o jeito que encontramos, compatível com a simplicidade emocional dele. Parece que ele entendeu porque, 2 anos depois, ainda sabe que Berlim foi dividida por um Muro e que as pessoas não podiam atravessá-lo livremente.
Quim, Fê & Die Mauer
Em outros lugares da capital alemã, é possível chegar perto de restos do monumento histórico, para conhecer como era a vida em Berlim Oriental e para aprender mais sobre a construção da barreira física pela Alemanha Oriental e como se chegou à sua destruição. Mas em nenhum outro dá para experimentar a sensação (ainda que simulada) de estar numa cidade dividida.
Não resta dúvida: uma criança é capaz de entender a história (por mais dura que ela seja) quando contada numa linguagem acessível, e Die Mauer merece entrar na lista de atrações da sua viagem.
VALE SABER
Endereço: Friedrichstrasse 205, Berlim
Transporte: A pé (muito se caminha na capital alemã), de metrô (descer na estação Kochstrasse/Checkpoint Charlie do U-Bahn) e até de ônibus de turismo (as linhas no estilo hop on hop off passam por lá), há várias maneiras de se chegar ao Checkpoint Charlie, lugar onde a exposição está instalada.
Funcionamento: Todo dia, das 10 às 18 horas (última entrada às 17h30)
Preço: € 10 — crianças até 5 anos, grátis; entre 6 e 16 anos, € 4; ticket para pais e filhos (até 2 adultos e 4 crianças entre 6 e 16 anos), € 27. A GetYourGuide, empresa alemã parceira do Como Viaja, vende ingresso para o Panorama Asisi.
Gente andando de um lado para o outro, gente parada no meio da rua, ônibus turístico desembarcando mais gente para andar de um lado para outro e parar no meio da rua, tudo isso entre o vaivém dos carros. Impensável para os padrões alemães. Estamos em Berlim, em um lugar onde, no passado, não convinha ficar andando de bobeira se não fosse para parar, mostrar documentos, seguir em frente ou parar por ali mesmo.
Posto militar que ficava na fronteira entre Berlim Ocidental e Oriental, o Checkpoint Charlie agora é parada obrigatória por outro motivo: visitar os pontos turísticos da capital da Alemanha relacionados ao antigo Muro de Berlim, que caiu em 1989. Muita gente vai até lá por conta própria, por exemplo, com ônibus hop-on hop-off ou transporte público (o Berlin WelcomeCard dá direito a transporte público nas zonas A e B e tem versões de 48 horas a 6 dia). Outros preferem fazer alguma visita guiada na capital da Alemanha. Há desde tour de bicicleta sobre Muro de Berlim e Guerra Fria à visita guiada a pé sobre Terceiro Reich e Guerra Fria.
Algumas placas coloridas estão expostas em uma das esquinas. Tudo bem que Joaquim, uma criança, e eu, um baixinho, ficamos reduzidos a nada diante da placa de 3 m de altura.
Quim, Fê & Die Mauer
No entroncamento de 2 ruas, num raio de não mais que 100 m, outras 3 atrações ‘dialogam’ com o Checkpoint Charlie. Vizinho à cabine, apenas 1 ano depois de o muro ter sido levantado, surgiu o Museu do Muro de Berlim, o Mauermuseum, iniciativa do ativista Rainer Hildebrandt de mostrar histórias de quem buscou vencer a fronteira pela falta de perspectiva do que não fosse muro.
Visitantes mais empolgados podem dar uma olhada na banca com artigos vintage, como bandeiras da Alemanha Oriental, casacos militares da ex-União Soviética ou gorros cossacos. Fica na calçada da Zimmerstrasse na esquina com a Friedrichstrasse, perto dos blocos do Muro de Berlim.
Já a tentativa de levar uma vida comum às margens do emparedamento é a base de Panorama Die Mauer (garanta sua entrada para a exposição), exposição que ocupa uma grande estrutura metálica cilíndrica na Zimmerstrasse. A poucos passos da obra de Yadegar Asisi, a Guerra Fria é tema de BlackBox. Como numa caixa-preta de avião, a mostra registra ações dos Estados Unidos e da União Soviética entre 1945 e 1990, época em que o mundo vivia se perguntando: quem iria apertar primeiro o botão vermelho?
Farda e chapéu russo
Aliás, o próprio Checkpoint Charlie foi cenário de um dos vários momentos de tensão durante a polarização política. Em 1961, um incidente diplomático entre norte-americanos e soviéticos levou seus países a enviaram tanques para a região do posto de checagem. Após tensa negociação entre os presidentes John Kennedy e Nikita Krushev, os veículos foram recuados e nenhum tiro foi disparado.
Hoje, as ruas por onde circularam tanques recebem ônibus de turismo, enquanto militares de mentirinha fazem pose de sentinela em fotos com visitantes.