ATUALIZADO EM 23 DE DEZEMBRO DE 2018
No Brasil de municípios surgidos ao sabor do crescimento desordenado, Curitiba sempre foi aquele pontinho (de orgulho) fora da curva. A capital do Paraná ganhou o apelido de cidade modelo por causa do planejamento urbano que, desde os anos 1970, colocou bem-estar e qualidade de vida da população como prioridades, alinhado à preservação de seus mais de três séculos de patrimônio histórico e da manutenção de áreas verdes.
Espaços como a Ópera de Arame simbolizam essa ideia de cidade. Um complexo cultural forjado em ferro e vidro sobre um lago em pleno Parque das Pedreiras. Inaugurado em 1992, o teatro com capacidade para cerca de 1.600 pessoas é rodeado por vegetação nativa e tem cascata artificial.
Dessa harmonia entre o cinza urbano e a natureza nasceu o orgulho que os curitibanos têm de seus parques e bosques, indicados para passeios em Curitiba. A cidade conta com cerca de 30 deles e quase todo bairro tem o seu. O maior é o Parque Barigui, no bairro Mercês. Nesse pulmão da cidade, formado por 1,5 milhão de m² de vegetação, onde residem animais silvestres, dá para correr, pedalar, fazer ioga ou declarar amor eterno ao prender um cadeado na chamada ponte dos namorados. Instalado em uma pedreira desativada, o Parque Tanguá tem um mirante de onde se pode testemunhar o pôr do sol em Curitiba.
Se a intenção for enxergar a cidade de um ponto de vista privilegiado, a sugestão é encarar os cerca de 95 metros de altura do mirante da torre panorâmica, mais um dos lugares para visitar e comprovar a presença dos bolsões verdes que cobrem a capital.
Em Curitiba, causar o menor impacto ao meio ambiente é tarefa que vem de longe. Em 1971, a cidade foi a primeira do Brasil a ter uma via pública destinada exclusivamente ao trânsito de pedestres. Com cafés, bancas e lojas, a Rua XV de Novembro, a Rua das Flores, é famosa pelos canteiros coloridos e por um ponto de encontro que serve como termômetro dos ânimos curitibanos.
A Boca Maldita não é um espaço delimitado fisicamente, mas um ajuntamento de rodas de conversa que tratam de temas do momento, com destaque para a política. No Natal, a agitação na região da XV é motivada pelas concorridas apresentações dos corais de crianças, que cantam nas janelas do Palácio Avenida, edifício art déco que fica ricamente decorado e iluminado nas festas de fim de ano.
Cidade sem metrô por opção, Curitiba apostou, quase 45 anos atrás, em um sistema de ônibus que corresse por caminhos exclusivos, com paradas em futuristas estações-tubo, em que para embarcar fosse necessário ter em mãos um bilhete em vez de pagar a tarifa ao motorista ou ao cobrador. Revolucionário, o sistema inspirou outras cidades do mundo (o Rio e seu BRT é uma delas), virou símbolo de eficiência e alimentou o marketing da cidade verde e vanguardista.
Expressos, ligeirões e outras linhas são responsáveis por deslocar quase metade da população por suas canaletas diariamente, mas já não conseguem manter a regularidade de passar a cada minuto, como antigamente. Mesmo assim, são a maneira mais rápida e econômica de conhecer a cidade sem apelar para o automóvel, táxi ou não.
Descolados talvez torçam o nariz, achem aquele micaço, mas subir num ônibus de dois andares da Linha Turismo pode ser uma alternativa interessante ao visitante. Custa R$ 45 e permite ao viajante desembarcar em 4 pontos turísticos de Curitiba, podendo prosseguir viagem depois de visitar a atração com calma. Os ônibus circulam a cada 30 minutos e passam por 23 cartões-postais da cidade. É possível subir e começar o passeio em qualquer ponto do roteiro, que tem início na Praça Tiradentes, onde Curitiba foi fundada em 29 de março de 1893. Funciona de terça a domingo, das 9 horas às 17h30.
Jardim Botânico e Museu do Olho
O Jardim Botânico, um dos principais pontos turísticos de Curitiba, é uma das paradas do itinerário. A atração mais visitada da cidade é a soma de canteiros ao estilo geometrizado francês com uma estufa que nos remete aos palácios de cristal típicos da Inglaterra do século 19. No seu interior estão inúmeras espécies da nossa flora.
Mas em Curitiba não há espaço só para a inspiração europeia. O Museu Oscar Niemeyer (MON) carrega o nome do gênio da arquitetura brasileira. As cerca de 4.000 peças incluem trabalhos de artistas locais, como Alfredo Andersen, João Turin e Helena Wong, e obras de autores de expressão nacional, casos de Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral e Cândido Portinari. É neste edifício, cujo formato lembra o olho humano, que fizeram parte das mostras temporárias as peças de arte compradas com dinheiro de propina, apreendidas pela Operação Lava Jato.
A área externa do MON recebe eventos como festivais de cervejas e de hambúrgueres artesanais. Aliás, se o tempo de viagem permitir, Curitiba tem tours de vinho e de cerveja em sua região metropolitana, em fábricas de São José dos Pinhais, a cerca de 40 km da capital paranaense.
Batel, Rua 24 Horas e Santa Felicidade
A dobradinha de cerveja com hambúrguer também é encontrada em outros restaurantes e bares da cidade, especialmente no Batel, bairro próximo ao centro histórico e sinônimo de boa-mesa, diversão e compras — além de lojas, há três shoppings na região (Curitiba, Cristal e Pátio Batel).
As principais redes de hotéis em Curitiba estão no Batel, com hospedagem que alternam entre três e quatro estrelas (Ibis, Mercure, Pestana e Slaviero são alguns deles). No mesmo bairro, fica o cinco-estrelas Nomaa, famoso pelo brunch aos domingos, quando atrai tanto turistas quanto moradores da cidade. É um programa indicado para quem gosta de mimos e busca o que fazer em Curitiba no fim de semana.
A lista de lugares onde comer tem aumentado. Nos últimos anos, novas opções abriram pela cidade, com propostas culinárias que atraem adeptos da comida de boteco, dos sanduíches gourmet ou da cozinha criativa. Se a fome bater em um momento inesperado, o visitante tem à disposição Rua 24 Horas. Uma praça de alimentação com 120 metros de extensão e coberta, que leva esse nome porque funcionava dia e noite sem parar quando foi criada, em 1991. Após ajustes e mudanças, atualmente ela fica aberta apenas metade do tempo idealizado inicialmente, com 12 de seus 16 boxes dedicados a saciar o apetite.
Santa Felicidade segue como importante polo gastronômico. Nos restaurantes do bairro fundado por imigrantes italianos não faltam o vinho nem a pasta. E nem vaga, como comprova o Madalosso. Um gigante com 4.645 lugares, onde se sentam cerca de 55 mil clientes por mês, responsáveis por consumir quase 40 mil quilos de frango em igual período. Números superlativos que conferiram ao Madalosso o recorde de maior restaurante das Américas, segundo o Guinness Book, em 1995.
Italianos são parte da gente curitibana. A importância de outros imigrantes na construção da cidade está representada no Memorial Polonês (Bosque João Paulo II), no Memorial Ucraniano (Parque Tingui), no Bosque Alemão e na Praça do Japão. Preservadas, memória e natureza convivem em harmonia.
E, para conhecer ainda mais sobre as origens de Curitiba, não deixe de ver o casario de sobrados e prédios centenários do Centro, onde ficam a Igreja da Ordem e a Casa Romário Martins (as duas construções mais antigas do município), o Museu Paranaense (primeira instituição do gênero no Paraná) e as Ruínas de São Francisco (igreja inacabada do século 18). O centro de Curitiba também é um lugar bem procurado para hospedagem, especialmente em hotéis voltados para negócios como o Bourbon Curitiba Convention Hotel e o Hotel Deville Business Curitiba.
Aos domingos, o calçadão de pedra do setor histórico é ocupado pela Feira do Largo da Ordem, com boa oferta de artesanato e comidinhas: empanadas, batata suíça e o pierogi, pastel típico da Polônia. Há barraquinhas que também se esparramam pelas praças Osório e Santos Andrade, famosas pelos mercados de Páscoa e de Natal que organizam todos os anos.
Deixe um comentário