Quando criança, eu ouvia falar da Pousada do Sandi, em Paraty, a cada fim de semana, pelo menos. Era botar uma fita alugada de VHS no videocassete e assistir ao comercial que rodava antes de alguns longas começarem. Isso porque Alexandre Adamiu, presidente do Grupo Filmes, teve a ideia de veicular nos filmes distribuídos pela empresa dele anúncios do hotel de charme que deu de presente à mulher, Sandra Foz.
Trinta anos separam esse meu primeiro contato com o hotel, no centro histórico de Paraty, dos dias em que Nath, Joaquim e eu nos hospedamos lá, debaixo de muita chuva sobre a cidade do litoral sul do Rio de Janeiro. Apesar da localização, são os paulistas que costumam frequentar mais Paraty, que fica praticamente no meio do caminho entre as capitais dos dois estados.
Como eu dirigiria até lá, decidi pegar a Rodovia dos Tamoios e depois tomar a Rio-Santos a partir de Caraguatatuba. A rodovia Oswaldo Cruz e a tradicional estrada Cunha-Paraty são outros caminhos possíveis, mas cheios de curvas fechadas e mais perigosas, menos indicados em dias de chuva.
Como é a Pousada do Sandi
Integrante da Associação Roteiros de Charme, a Pousada do Sandi é formada por um conjunto de edifícios restaurados. Você deixa o carro em um estacionamento e segue a pé por cerca de 50 metros até a entrada dela, bem no comecinho do Centro Histórico de Paraty, onde só é permitida a circulação de pedestres.
O casarão do século 18 mescla seus traços coloniais a peças contemporâneas da decoração, com destaque para elementos da fauna e da flora da Mata Atlântica, representados em trabalhos de muitos artesãos locais. Além disso, há memorabílias ligadas ao cinema, como objetos pessoais de Carmen Miranda, um projetor de 35mm e fotos de astros e estrelas.
Em nosso quarto havia um pôster do filme Gabriela, rodado em Paraty em 1973. A Suíte Sacada tem um balcão que se debruça sobre a rua, o que permite acompanhar o vaivém do povo pelo calçamento de pedra ao estilo pé de moleque. Mas basta fechar as portas anti-ruído para se isolar na tranquilidade da Pousada do Sandi.
A gente riu muito pelo fato de a cama com dossel ser bem alta, quase obrigando o baixinho aqui a pegar impulso para subir nela. Joaquim dormiu em uma cama de solteiro, junto à parede, que durante o dia tinha almofadas, como num sofá. O tempo ameno por causa da chuva não exigiu que ligássemos o ar-condicionado split. O quarto tinha um excelente banheiro, com amenities Trousseau.
O que fazer na Pousada do Sandi
Em dias de tempo ruim como o que a gente pegou, fica difícil curtir um coquetel à beira da piscina ou relaxar na jacuzzi, que até estava protegida por um ombrelone. Com sol e céu azul, estes são dois espaços gostosos para ficar no pátio interno da pousada, cujas instalações incluem spa, academia de ginástica e saunas seca e a vapor.
A localização é um trunfo e tanto da Pousada do Sandi. Sair dela e caminhar pelo Centro Histórico é o programa a ser feito, não importa a condição climática – se estiver chovendo, eles emprestam grandes guarda-chuvas.
Logo na chegada, rodamos as principais ruas e vielas na companhia do Cristiano, guia da Paraty Tours que nos contou histórias da cidade, no passado um importante porto de escoamento de ouro a partir de Minas Gerais e de café paulista, posteriormente. Atualmente, seu nome está mais associado à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e à boa mesa, tendo sido declarada pela Unesco como Cidade Criativa para a Gastronomia. Também fizemos passeios pelo litoral e pela mata com a agência, como a visita à Fazenda Bananal.
Comprovamos essa fama no café da manhã da Pousada do Sandi, cheio de coisas que amamos comer na primeira refeição do dia. O pão de queijo quentinho merece bis, assim como o bolo de aipim. A garçonete quis saber quantos pedaços mais nós gostaríamos de repetir. “Como a gente vai pegar a estrada para ir embora, não sei, uma meia-dúzia”, disse Nath de forma gaiata. Não demorou e a quantidade veio delicadamente embrulhada.
Para quem segue dieta restritiva, há sempre pudim de chia (bom, sem sem gosmento) e bolo sem glúten nem lactose entre os itens do café da manhã.
Se você está livre para consumir de tudo, a pousada tem conexão direta com três ambientes propícios aos gulosos: uma loja da Kopenhagen, a Gelateria Miracolo e o Pippo, restaurante com ambiente que remete aos anos 1960, cheio de referências ao cinema italiano da época.
Sentados ao lado da foto de Anita Ekberg na cena antológica da Fontana de Trevi em La Dolce Vita, jantamos na última noite. Joaquim, que nunca foi fã de menù per bambini, pediu com responsa o ravioli dello chef, feito com massa preta de tinta de lula e recheado por camarões, vieira e peixe.
Em breve, os hóspedes da Pousada do Sandi também vão poder acessar facilmente o Apothekario, bar que tem Sandi Adamiu, filho dos fundadores da pousada, como um dos sócios. À base de cumaru, redução de espumante e maracujá, o Passion Tonic é o coquetel queridinho dos frequentadores (incluído este que vos escreve).
A simpática bartender Vick Draganov preparou ainda versões sem álcool de drinks para a Nath (vetada pelo departamento médico pelo uso de antibióticos) e para o Joaquim. Ele gostou tanto da brincadeira que até sugeriu tomarmos outros coquetéis na noite seguinte, para espanto e incredulidade de uma senhora que ouviu aquilo, nos encarando com olhar de reprovação.