Autor: Fernando Victorino

  • Checkpoint Charlie: hoje ponto turístico de Berlim, antes posto militar

    Checkpoint Charlie: hoje ponto turístico de Berlim, antes posto militar

    Gente andando de um lado para o outro, gente parada no meio da rua, ônibus turístico desembarcando mais gente para andar de um lado para outro e parar no meio da rua, tudo isso entre o vaivém dos carros. Impensável para os padrões alemães. Estamos em Berlim, em um lugar onde, no passado, não convinha ficar andando de bobeira se não fosse para parar, mostrar documentos, seguir em frente ou parar por ali mesmo.

    Posto militar que ficava na fronteira entre Berlim Ocidental e Oriental, o Checkpoint Charlie agora é parada obrigatória por outro motivo: visitar os pontos turísticos da capital da Alemanha relacionados ao antigo Muro de Berlim, que caiu em 1989. Muita gente vai até lá por conta própria, por exemplo, com ônibus hop-on hop-off ou transporte público (o Berlin WelcomeCard dá direito a transporte público nas zonas A e B e tem versões de 48 horas a 6 dia). Outros preferem fazer alguma visita guiada na capital da Alemanha. Há desde tour de bicicleta sobre Muro de Berlim e Guerra Fria à visita guiada a pé sobre Terceiro Reich e Guerra Fria.

    Algumas placas coloridas estão expostas em uma das esquinas. Tudo bem que Joaquim, uma criança, e eu, um baixinho, ficamos reduzidos a nada diante da placa de 3 m de altura.

    Quim, Fê & Die Mauer

    No entroncamento de 2 ruas, num raio de não mais que 100 m, outras 3 atrações ‘dialogam’ com o Checkpoint Charlie. Vizinho à cabine, apenas 1 ano depois de o muro ter sido levantado, surgiu o Museu do Muro de Berlim, o Mauermuseum, iniciativa do ativista Rainer Hildebrandt de mostrar histórias de quem buscou vencer a fronteira pela falta de perspectiva do que não fosse muro.

    Visitantes mais empolgados podem dar uma olhada na banca com artigos vintage, como bandeiras da Alemanha Oriental, casacos militares da ex-União Soviética ou gorros cossacos. Fica na calçada da Zimmerstrasse na esquina com a Friedrichstrasse, perto dos blocos do Muro de Berlim.

    Já a tentativa de levar uma vida comum às margens do emparedamento é a base de Panorama Die Mauer (garanta sua entrada para a exposição), exposição que ocupa uma grande estrutura metálica cilíndrica na Zimmerstrasse. A poucos passos da obra de Yadegar Asisi, a Guerra Fria é tema de BlackBox. Como numa caixa-preta de avião, a mostra registra ações dos Estados Unidos e da União Soviética entre 1945 e 1990, época em que o mundo vivia se perguntando: quem iria apertar primeiro o botão vermelho?

    Farda e chapéu russo

    Aliás, o próprio Checkpoint Charlie foi cenário de um dos vários momentos de tensão durante a polarização política. Em 1961, um incidente diplomático entre norte-americanos e soviéticos levou seus países a enviaram tanques para a região do posto de checagem. Após tensa negociação entre os presidentes John Kennedy e Nikita Krushev, os veículos foram recuados e nenhum tiro foi disparado.

    Hoje, as ruas por onde circularam tanques recebem ônibus de turismo, enquanto militares de mentirinha fazem pose de sentinela em fotos com visitantes.

  • Alexanderplatz (Berlim): a principal praça da capital da Alemanha

    Alexanderplatz (Berlim): a principal praça da capital da Alemanha

    Alexanderplatz, em Berlim, é a principal praça da capital da Alemanha — ou, pelo menos, a mais conhecida delas. Fica no lado leste da cidade, no Mitte, o bairro mais central. Assim batizada por causa da visita do czar da Rússia Alexander I no início do século 19, a praça já foi palco de manifestações de alemães contra o governo da então Alemanha Oriental. Nos dias atuais, ela atrai turistas em visita a atrações como a Torre de TV de Berlim e o relógio com horário mundial, que completou 50 anos em 2019.

    Quando garoto, Berlin Alexanderplatz era todo o meu conhecimento sobre a capital da Alemanha. Corriam os primeiros anos da década de 1990 quando a TV Cultura exibiu a série baseada em romance homônimo, escrito por Alfred Döblin em 1929. Com direção de Rainer Fassbinder, a produção narra a história de um homem que deixa a prisão e recomeça sua vida, tendo a praça como centro dos principais acontecimentos da história.

    Sem drama, esperei muito tempo para poder botar os pés na Alexanderplatz. Durante nossa viagem em família pela Alemanha, Nathalia, Joaquim e eu passamos muitas vezes pela praça, fosse porque iríamos subir os 365 metros da Torre de TV e encarar a cidade lá do alto ou porque deveríamos subir ou descer de alguma linha de transporte público (a estação de mesmo nome que funciona ali é bem movimentada.

    Na Alexanderplatz, temos todo o tempo do mundo

    O que ver na região da Alexanderplatz

    Símbolo da urbanização moldada à moda socialista, após a queda do Muro de Berlim a Alexanderplatz passou por mutações até chegar à concepção atual, com prédios que espelham passado e presente da capital alemã. Tudo ao redor parece grande e amplo diante das pessoas, que caminham de um lado para o outro. Essa imensidão toda da praça me fez perder um pouco o senso de direção até.

    Atrações como a Catedral de Berlim, a Ilha de Museus (com instituições culturais imperdíveis), o SeaLife & AquaDom (aquário de Berlim) e o DDR Museum (museu que mostra como era o cotidiano na antiga Alemanha Oriental) estão a uma curta caminhada da Alexanderplatz, que funciona como referência e imã. De um modo ou de outro, você quase sempre é atraído para lá.

    Bem perto dali, a Unter den Linden, principal avenida da cidade na porção oriental, foi renovada e está cheia de novidades. Após 7 anos de restauração, a Staatsoper acaba de ser reinaugurada, com óperas e concertos na programação. O Humboldtforum é outra atração bastante esperada na cidade. Instalado na Schlossplatz, o espaço de experimentação e instalações, ele será reaberto aos poucos a partir de setembro de 2020. A própria construção, um palácio do século 15, será um atrativo.

    Seguindo a pé pela Unter den Linden, chega-se ao Portão de Brandemburgo, símbolo da cisão e da reunificação da Alemanha, com a celebração na noite da queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. É atualmente o maior cartão-postal da capital alemã. Tudo isso fica a uma agradável caminhada a partir da Alexanderplatz.

  • Hotel em Berlim no centro e para crianças: Novotel Berlin Mitte

    Hotel em Berlim no centro e para crianças: Novotel Berlin Mitte

    O Novotel Berlin Mitte tem boa relação custo-benefício. Quando ficamos nesse hotel em Berlim no centro da cidade, perto da Alexanderplatz, achamos que, além de bem localizado, ele valeu a pena pelo preço cobrado diante da estrutura oferecida, boa tanto para negócios quanto para viagens de férias. Estávamos em família — nosso filho tinha então 5 anos — e consideramos a hospedagem bem confortável e atraente para crianças.

    Numa região abraçada pelo Rio Spree e por um de seus canais, o Novotel Berlin Mitte fica na Fischerinsel (Ilha dos Pescadores, em alemão). Essa faixa de terreno se estende até a Ilha de Museus (Museumsinsel), atração que se alcança com uma caminhada de 15 minutos a partir do hotel. Para atingir outros pontos turísticos da cidade, a opção é a estação Spittelmarkt de metrô (U-Bahn), a 200 m de distância.

    Da varanda do quarto, vimos o entardecer em Berlim. Espaçosa, a acomodação tinha cama queen-size, sofá-cama para até 2 pessoas, ar-condicionado, TV a cabo, frigobar e janelas com isolamento acústico. O banheiro era pequeno, mas bem funcional. Oferecia secador de cabelo e itens de banho gratuitos (xampu e sabonete). Como em grande parte dos hotéis na Europa, a ducha ficava dentro da banheira.

    Pequeno, mas funcional e com banheira

    O armário compacto na entrada do quarto, incluía prateleiras e uma área para roupas de pendurar. Ao lado dele e diante da cama, ficava uma larga bancada de trabalho, com várias tomadas, para carregar equipamentos fotográficos, celulares e notebooks.

    No quarto, armário na entrada, bancada e wifi

    Preço atraente e wifi: hotel de bom custo-benefício

    O Novotel Berlin Mitte oferece rede wireless com acesso gratuito. Hoje em dia wifi free é fundamental, especialmente se você usa aplicativos para se comunicar durante a viagem e se publica nas redes sociais. A estrutura inclui ainda espaço para crianças (que ganham um brinquedinho no check-in), academia, sauna e 7 salas de reuniões. Uma piscina até cairia bem depois de tanta caminhada em Berlim (fica a sugestão). O hotel aceita animais de estimação.

    Brinde para a garotada na chegada

    Hotel para família em Berlim

    Berlim foi a 1ª parada de nossa viagem em família pela Alemanha. Passamos quase 10 noites na capital, sempre hospedados em Mitte. Primeiro ficamos no NH Berlin Mitte, depois rebatizado para chamado de NH Collection Berlin Mitte am Checkpoint Charlie (o hotel fica realmente perto desse hoje ponto turístico de Berlim). Só saímos do hotel por 1 noite porque havia uma convenção da Deutsche Bahn (empresa ferroviária alemã) realizada no próprio hotel — todos os quartos estavam ocupados apenas para aquela diária, daí termos achado que valeria a pena fazer um bate-e-volta.

    Ainda no Brasil, Nathalia pesquisou alternativas localizadas no mesmo bairro e encontrou o Novotel, a 2 estações de metrô do NH Berlin Mitte (ou 10 minutos de deslocamento cronometrados). Deixamos as malas no depósito de bagagens do hotel e levamos apenas uma mochila cada um, com o necessário para dormirmos ‘fora de casa’.

    Frigobar no quarto e bar ao lado da recepção

    Ainda que só por uma noite, ficamos com uma impressão geral bem positiva do Novotel Berlin Mitte. Além da estrutura de quarto descrita no começo do texto, o hotel atende muito bem a quem viaja com criança. No lobby, uma área de lazer foi testada e aprovada por Joaquim. Pequena, mas bem ajeitada, tinha aqueles tapetes emborrachados para forrar o chão, uma estante com bichos de pelúcia e brinquedos, livros infantis, gibis e um console de videogame.

    Cantinho para crianças no hotel em Berlim

    Café da manhã no hotel ou na padaria perto do metrô

    Na noite da chegada, lanchamos no bar do Novotel Berlin Mitte (havíamos nos metido em uma jornada meio maluca para assistir a um jogo do campeonato alemão de futebol num bar, o que acabou não dando muito certo). O hotel possui também o restaurante Novo², de comida mediterrânea. Nele é servido o café da manhã, cobrado à parte.

    Café da manhã na padaria em Berlim

    Nós decidimos sair bem cedo e fazer a 1ª refeição do dia a caminho do metrô (U-Bahn). A estação mais próxima é Spittelmarkt, a 200 metros de distância do hotel. Tomamos café da manhã na movimentada padaria e confeitaria Thürmann. Em frente à entrada da estação, é uma alternativa bacana para começar o dia e ficar um pouco mais enturmado com Mitte, o bairro central de Berlim.

  • Unter den Linden (Berlim): a avenida mais clássica da capital alemã

    Unter den Linden (Berlim): a avenida mais clássica da capital alemã

    A Unter den Linden é um bom ponto de partida de uma visita a Berlim. Mais tradicional avenida da capital da Alemanha, ela rasga cerca de 1,5 km do centro histórico, conectando alguns dos principais cartões postais da cidade, entre eles, a Bebelplatz, a Staastoper (ópera que reabriu suas portas depois de 7 anos de reforma) e a Universidade Humboldt. O Hotel Adlon Kempinski é um 5 estrelas de nota máxima no quesito localização: a 100 metros do Portão de Brandemburgo, onde a avenida tem início.

    Aberta a partir de 1573, a Unter den Linden ganhou forma em etapas, transformando-se progressivamente de zona residencial em comercial até tornar-se região turística, especialmente depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. É atualmente território de embaixadas, lojas finas, restaurantes e caminho livre para alcançar atrações como a Ilha de Museus e a Catedral de Berlim.

    Dá para dizer que é a avenida mais prussiana de Berlim, cheia de estilo e classe. Caminhando pela Unter den Linden, também a principal via do lado leste, o viajante passa pela Staatsoper e pela Schlossplatz, praça onde em breve será inaugurado o Humbodltforum, espaço de experimentação de arte. Seguindo reto pela Karl-Liebknecht-Strasse, chega-se ainda à central Alexanderplatz e à Torre de TV de Berlim.

    De acordo com o site do Humboldtforum, sua inauguração está prevista para ocorrer em etapas, a partir de setembro de 2020. Além das exibições permanente e temporárias, o visitante poderá conhecer a história da construção, um palácio do século 15. Quando estivemos em Berlim em 2014, ali funcionava uma estrutura temporária para exposições, chamada de Humboldt-Box.

    O temporário Humboldt-Box, na Unter den Linden em 2014 – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

    Ainda na Unter den Linden, o prédio barroco do Palais Populaire abriga agora arte moderna, com manifestações de literatura, música, dança e esporte. Ao lado, a Staatsoper recebe óperas e concertos. No prédio renovado, há visitas guiadas regulares em alemão, mas o tour em inglês pode ser agendado.

    Como praticamente toda a cidade, a Unter den Linden não escapou da destruição trazida pela chuva de bombas durante a Segunda Guerra. No centro da avenida, fica um dos maiores trechos onde se encontram as tílias (em alemão, linden), as árvores que dão nome à via e ganham iluminação especial durante o período de Natal.

  • Portão de Brandemburgo (Berlim): ponto turístico da Alemanha

    Portão de Brandemburgo (Berlim): ponto turístico da Alemanha

    Do ponto de vista arquitetônico, o Portão de Brandemburgo é um exemplo do neoclassicismo alemão, com seu conjunto de colunas de inspiração grega. Até aí, beleza (licença pelo trocadilho).

    Portão de Brandemburgo
    O majestoso cartão-postal da capital alemã – Foto: Dagmar Schwelle visitBerlin

    Acesso para a Unter den Linden, uma das mais importantes avenidas de Berlim, sua localização central ganhou ainda mais relevância nos anos em que a capital da Alemanha foi dividida ao meio.

    Portão isolado pelo Muro

    Por quase três décadas, o Muro de Berlim isolou o Portão de Brandemburgo das metades leste e oeste da cidade, sem que qualquer pessoa pudesse acessá-lo. Porém, as altas placas de concreto não esconderam o portão por completo.

    Isso explica porque o Portão de Brandemburgo virou o cenário mais captado por lentes de máquinas e câmeras de TV na histórica noite de 9 de novembro de 1989.

    Ao mesmo tempo em que o muro começava a ser progressivamente derrubado, milhares de alemães e muitos jornalistas mostravam ao mundo que a Alemanha voltaria a ser uma só a partir daquela data. O fotógrafo norte-americano Justin Leighton fez esta imagem do dia da queda do Muro de Berlim. Só que, logo depois, os soldados dariam lugar à população.

    Queda do Muro de Berlim – Foto: Justin Leighton visitBerlin

    A foto com máquina analógica (abaixo) revela, a partir do lado ocidental, a perspectiva dos acontecimentos que culminaram na queda do Muro. A saber: a imagem é dos arquivos da cidade de Berlim.

    Berlim Ocidental, 1989: o povo em expectativa – Foto: Landesarchiv Berlin

    Biga alvo de briga

    Das invasões napoleônicas ao isolamento provocado pelo Muro de Berlim, passando pelas bombas da Segunda Guerra, o Portão de Brandemburgo exigiu inúmeras restaurações até chegar por fim à forma atual.

    A estátua no topo traz uma Quádriga, biga puxada por quatro cavalos, e simboliza a deusa da paz, Irene. Ironicamente, quando Napoleão tomou a cidade, ela foi levada a Paris com o intuito de representar um troféu de guerra para os franceses. Do mesmo modo, no tempo da Guerra Fria, ela virou motivo de briga ideológica em relação à posição em que os cavalos deveriam marchar. Desde 1958, a estátua aponta para o leste, o antigo lado socialista.

    Portão de Brandemburgo
    Quadriga: estátua que virou troféu de guerra – Foto visit Berlin

    Por outro lado, para uma visão mais adocicada da história, vale ir à Fassbender & Rausch, uma loja que reproduz em forma de chocolate pontos turísticos de Berlim. Com um café no segundo andar, a chocolateria fica num dos cantos da Gendarmenmarkt, praça considerada a mais bonita da cidade por muitos berlinenses – sem dúvida, mais um dos cartões-postais da capital da Alemanha.

    portão de brandemburgo
    Portão de Brandemburgo em chocolate, na Fassbender & Rausch

    Como é a região do Portão de Brandemburgo hoje

    A região do Portão de Brandemburgo é imã de visitantes na cidade (há até um escritório de informação turística bem do lado esquerdo dele). A Pariser Platz foi reconstruída após a reunificação, nos anos 1990. Então passou abrigar embaixadas, algumas casas e o cinco-estrelas Adlon, um dos hotéis em Berlim.

    Portão de Brandemburgo
    Pariser Platz virou ponto turístico depois dos anos 1990 – Foto visitBerlin

    Uma vez que você cruze o portão e siga pela Unter den Linden, a principal avenida do lado leste de Berlim, vão surgir no seu caminho atrações como a Ilha de Museus, a Catedral de Berlim e o DDR Museum. Se seguir em frente pela Karl-Liebknecht-Strasse, o visitante encontra a Alexanderplatz e a Torre de TV de Berlim.

    Caso passe pelo Portão de Brandemburgo rumo ao lado oeste da cidade, você vai em direção ao Tiergarten, o maior parque da capital alemã. No outro extremo dessa área verde, fica o centenário zoológico de Berlim, o mais antigo da Alemanha.

    portão de brandemburgo
    Nossa visita em família à capital alemã

    Nos dias atuais, triunfam a liberdade e o direito de somente pedestres atravessarem o Portão de Brandemburgo para o lado que quiserem.

    Nosso filho, Joaquim, aproveitou a tranquilidade do momento para se sentar com a mãe e comer pipoca. Todos os dias, grupos guiados e muita gente sozinha se posta diante do cartão postal de Berlim para uma foto de viagem.

    Nem todos conseguem ficar parados, como Joaquim e eu na imagem do alto do texto registrada por Nathalia. Um salto para história. Ao menos a nossa.

  • East Side Gallery: arte no Muro de Berlim

    East Side Gallery: arte no Muro de Berlim

    EAST SIDE GALLERY E TORRE DE TV (ESQ) - Foto: Philip Koch/visitBerlin/Divulgacao
    EAST SIDE GALLERY E TORRE DE TV AO FUNDO – Foto: Philip Koch/visitBerlin/Divulgacao

    Em fevereiro de 1990, poucos meses depois de o Muro de Berlim começar a ser derrubado, centenas de artistas de 20 países se reuniram para produzir as 101 pinturas expostas ao longo de 1.316 metros do lado oriental do muro, maior segmento da antiga fronteira que permanece de pé.

    O tom cinza, medonho e triste das imensas placas de concreto originais, que repartiram Berlim ao meio por 28 anos, foi substituído por cores e traços fortes, dando origem ao East Side Gallery. Esse espaço às margens do rio Spree tornou-se mais que a maior galeria de arte a céu aberto do mundo. Virou um permanente convite à reflexão sobre liberdade.

    Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
    Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

    Além de um passeio a pé para ver de perto toda a extensão da exposição, vale experimentar enxergá-la por outro ângulo. Em uma manhã chuvosa de domingo, Nathalia, Joaquim e eu subimos num ônibus hop on hop off e conseguimos fotos bem interessantes, sentados no 2º andar do ônibus panorâmico. O ritmo lento do circular que visita os principais pontos de Berlim ajuda a visualizar os painéis do East Side. Vítimas da ação do tempo, de pichações e até de vandalismo, as pinturas foram restauradas em 2009.

    Turistas posando para selfies em frente às obras fazem parte da rotina da cidade atualmente. Vejas alguns dos destaques:

    • Fraternal Kiss (Mein Gott hilf mir, diese tödliche Liebe zu überleben): ao pé da letra, a obra chama-se Meu Deus, ajude-me a sobreviver a este amor mortal! O Beijo Fraterno (em alemão, Bruderkuss) entre o então presidente da República Democrática da Alemanha, Erich Honecker, e seu camarada Leonid Brejnev, líder da União Soviética, é o grande cartão-postal do East Side Gallery. O tradicional cumprimento soviético selou o encontro entre os líderes políticos em 1979. A foto famosa correu o mundo e foi reproduzida pelo artista russo Dmitri Vrubel.

    Beijo Franterno East Side Gallery Muro de Berlim, Queda, Viagem 2014 - Foto Nathalia Molina @ComoViaja (13)
    Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

     

    • Wall Jumper (Mauerspringer): de autoria do neo-zelandês Gabriel Heimler, a pintura de um homem que foge do lado oriental pulando o muro é um dos cenários mais buscados para cliques.

    Wall Jumper Gabriel Heimler East Side Gallery Berlim Alemanha - Foto de dietadeporte no Flickr por Creative Commons
    Foto: dietadeporte/Flickr/Creative Commons

     

    • Test The Rest: o Trabant, veículo-símbolo da Alemanha socialista, atravessando o muro é outro imã de visitantes. A obra de Birgit Kinder carrega na placa a data da queda do Muro de Berlim, 9 de novembro de 1989.

    Foto do perfil 'savagecats' no Flickr por Creative Commons
    Foto: savagecats/Flickr/Creative Commons

     

    • Homage to the Young Generation (Hommage an die Junge Generation): um dos primeiros artistas que começou a pintar o Muro ainda em 1984, Thierry Noir também tem trabalhos expostos nas ruas de Londres e Nova York. O francês é visto de pincel à mão trabalhando em uma de suas obras numa cena do filme Asas do Desejo, de Win Wenders, de 1987.

    Foto: Tanja Koch/visitBerlin/Divulgacao
    Foto: Tanja Koch/visitBerlin/Divulgacao

     

    • It Happened in November (Es Geschah im November): nascido no Irã, Kani Alavi estudou artes em Berlim e viveu nas imediações do Checkpoint Charlie durante a Guerra Fria. O mar de rostos buscando atravessar o Muro expressa o tamanho do impacto gerado pelo que aconteceu em novembro de 1989.

    Foto: Perfil 'savagecats'/Flickr/Creative Commons
    Foto: savagecats/Flickr/Creative Commons

     

    • Worlds People (Wir sind ein Volk): a psicodelia presente no painel do alemão de origem russa Schamil Gimajew também tem forte impacto visual.

    Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
    Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

     

    • Berlyn: a pintura do ilustrador de livros infantis Gherard Lahl dispensa tradução.

    Foto: Fernando Victorino @ComoViaja
    Foto: Fernando Victorino @ComoViaja

     

    VALE SABER

    Endereço: Mühlenstrasse, entre a Oberbaumbrücke (Ponte Oberbaum) e a estação Ostbahnhof

    Transporte: De S-Bahn e desça na estação Warschauer Strasse ou Ostbanhhof. A linha U1 também leva à 1ª estação

    Funcionamento: 24 horas

    Preço: Grátis

    Site: eastsidegallery-berlin.de

  • Ampelmänn: boneco do semáforo da Berlim comunista vira souvenir

    Ampelmänn: boneco do semáforo da Berlim comunista vira souvenir

    Em 1961, Karl Peglau criou um par de bonequinhos para ajudar os pedestres a atravessarem a rua em segurança. O objetivo era diminuir o número de acidentes na antiga Alemanha Oriental. Para o psicólogo e especialista em trânsito, a imagem do farol deveria despertar nos cidadãos muito mais que um sinal de alerta, especialmente em crianças e idosos. Assim criou o Ampelmänn, boneco do semáforo.

    Por isso mesmo a suavidade do traço — em contraposição às linhas duras e retas dos símbolos similares mundo afora — dariam à criação dele um toque, digamos, mais humano. O que Peglau não imaginava era que as figuras desenhadas por ele nas cores verde e vermelha virariam ícones de Berlim Oriental.

    No início, a ideia do bonequinho levar um chapéu na cabeça foi rejeitada por Peglau, que o considerava um acessório um tanto burguês. Ele repensou seu conceito quando viu o então secretário do partido socialista, Erich Honecker, aparecer na televisão usando uma palheta para se proteger do sol. Nascia um mito naquele momento.

    Até hoje, os Ampelmännchen (diminutivo de Ampelmann; numa tradução livre, homenzinhos do farol), fazem as pessoas avançar nos cruzamentos de ruas e avenidas da capital alemã e/ou parar diante de vitrines cheias de produtos com suas estampas.

    Durante nossa passagem por Berlim — 1ª parada na nossa viagem em família à Alemanha —, os bonequinhos conquistaram nosso filho, Joaquim. Se dependesse dele, teríamos levado tudo o que havia disponível na loja da Ampelmann na Gendarmenmarkt, onde há objetos para casa, roupas, acessórios e o que mais você julgar bacana ser identificado por um dos poucos símbolos da Alemanha comunista que resistiu após a queda do Muro de Berlim, em 1989. A marca vende em torno de 600 produtos diferentes com os bonequinhos.

    Como não amar esse bonequinho e esse menino?

    Vitória do proletariado

    Falar em resistência não é força de expressão. Entre 1990 e 1997, os semáforos do lado comunista foram sendo substituídos pelo padrão de luzes de tráfego utilizadas do lado capitalista. Com o objetivo de manter vivo algum traço de identidade dos alemães orientais, em meio ao novo país que surgia com a reunificação, o designer industrial Markus Heckhausen começou a recuperar os velhos faróis de pedestres que estavam sendo descartados.

    Boneco do semáforo em Berlim

    A causa defendida por ele passou a receber apoio de artistas, políticos e dos cidadãos que se sentiam representadas por aquelas figurinhas do farol. Um comitê sobre o assunto foi fundado. Protestos, realizados. A pressão popular surtiu efeito e outras partes do leste alemão voltaram a adotar os Ampelmännchen, assim como o antigo lado ocidental também cedeu à simpatia da dupla.

    A história do Ampelmann virou livro, fruto da parceria entre Heckhausen e Karl Peglau. O sucesso da publicação estimulou o designer a lançar outros produtos que tivessem os bonequinhos como tema. Como empresa, a Ampelmann surgiu em 1997, e hoje conta com 7 lojas próprias espalhadas pela capital (os produtos também podem ser encontrados em pontos turísticos da cidade). A maior variedade de mercadorias se encontra na loja principal, localizada na Unter den Linden, principal avenida do lado oriental da cidade, que começa no Portão de Brandemburgo.

    Soma ainda café e uma bicicleta que serve café. E uma franquia da marca foi aberta em 2010 na cidade de Tóquio, no Japão. Incrível imaginar que um ícone do comunismo rendesse tantos dividendos nos dias de hoje, não? O mesmo ocorre com o Trabant, carro símbolo da Alemanha Oriental, que também virou cult.

    Lojas na capital alemã têm souvenir de todos os preços

    Quando a conheci, Nathalia tinha uma abridor de garrafas em alumínio, no formato do boneco verde, lembrança trazida da viagem feita à Alemanha em 2001. Já a despesa durante o tour em família foi bem maior: compramos camisetas, capa de celular, um par de esponjas de banho (a vermelha, tadinha, hoje em dia está sem a cabeça, de tanto ser usada), um guarda chuva do qual Joaquim se orgulha muito (quando chove em São Paulo, evidentemente). Ah, ainda temos da viagem da Nathalia em 2001 dois imãs, o verde e o vermelho, que me vigiam neste exato momento em que decido não mais avançar com este texto. Parei!

  • Ilha de Museus (Berlim): conheça os 5 na região central de Mitte

    Ilha de Museus (Berlim): conheça os 5 na região central de Mitte

    É uma ilha, posto que é cercada por água. Mas é acessível por terra, visto que nós chegamos até ela a pé. Uma vez ilha, poderíamos dizer, sem medo, que é paradisíaca, dada a quantidade de museus (5) que, reunidos, guardam em torno de 6 mil anos de história da humanidade. A Ilha de Museus (Museumsinsel) fica em uma faixa de chão envolvida pelo Rio Spree, no distrito de Mitte, região central de Berlim. Ali perto, fica outro museu imperdível para quem se interessa pela história da Alemanha Oriental, o DDR Museum (compre o ingresso).

    Em virtude do monumental acervo, é praticamente impossível ver tudo na Ilha de Museus em uma mesma visita. Se quiser conhecer só as principais obras expostas, reserve pelo menos 1 dia inteiro para isso. Nesse caso, a tarefa é facilitada porque os museus ficam perto uns dos outros.

    Mapa da Ilha de Museus Berlim Viagem Alemanha - Foto Nathalia Molina @ComoViaja

    A proximidade explica porque quase todos eles terminaram arrasados ao final da Segunda Guerra. Além dos bombardeios sobre Berlim que destruíram muitas obras de arte, algumas peças foram roubadas em meio ao caos que tomou conta da cidade, sem falar na divisão feita em parte do acervo após a separação das Alemanhas. O processo de revitalização dos museus ainda não havia começado quando Nathalia esteve em Berlim, em 1992 – o 1º museu reaberto totalmente foi o Alte Nationalgalerie, 2 anos após a Unesco declarar a Ilha de Museus Patrimônio da Humanidade, em 1999.

    Cada prédio tem estilo arquitetônico próprio, motivo suficiente para conhecer o conjunto formado por eles. Visitar a Ilha de Museus é prestar adoração à arte, tomá-la como algo sagrado. A seguir, um resumo do que você vai encontrar em cada espaço.

    1 | Pergamonmuseum

    Quando Nathalia, Joaquim e eu atravessamos a Via Procissional da Babilônia, rapidamente entendemos o que aquele corredor desejava despertar nos visitantes que se aproximavam da cidade na região da Mesopotâmia. A ferocidade dos leões pintados nas paredes buscavam intimidar a quem desejasse transpor aquela fronteira sem que tivesse sido convidado a fazer isso.

    Não era o nosso caso. Vencido o grande corredor, nos depararmos com a majestosa Porta de Ishtar, um dos acessos para a cidade da Babilônia. Aquela imensidão de azulejos azuis vitrificados nos torna ínfimos diante de seus mais de 14 metros de altura e 30 metros de extensão. A luz natural que entra pelo teto do museu potencializa a grandiosidade arquitetônica da obra.

    Caçula da ilha, o Pergamon é o museu mais frequentado de Berlim, com 1 milhão de visitantes por ano. Erguido em 1930, está dividido em 3 espaços e se destaca por reconstruir partes de cidades da Antiguidade. Quando estivemos na Alemanha, o museu já se encontrava em reforma, mas ainda foi possível nos sentarmos na escadaria do Altar de Pérgamo, obra erguida no século 2 a.C e dedicada a Zeus.

    Joaquim e eu nos aboletamos nos degraus enquanto ouvíamos as explicações do audioguia (Quim não entendia nada do inglês que era dito, mas fazia aquela cara de conteúdo, que terminou despertando risos num grupo de estudantes sentados ao nosso lado).

    Veja o altar e o painel de 113 m em baixo relevo que narra a luta entre deuses e gigantes da mitologia. Na ala dedicada à arte islâmica encontram-se ruínas da fachada do palácio de Mshatta. Compre o ingresso com direito a audioguia.

    2 | Neues Museum

    Construído na metade do século 19, o Novo Museu foi bastante castigado pelas bombas na Segunda Guerra, permanecendo em ruínas até 1999. Restaurado e reaberto 10 anos depois, apresenta peças de arte egípcia e coleções que abrangem do período Paleolítico à Idade Média. Vale ver o busto da rainha Nefertiti, encontrado em 1912 durante escavações em Amarna, capital do Egito Antigo. Compre o ingresso sem fila e com audioguia.

    Neues Museum (à direita) e cúpula da Catedral de Berlim (ao fundo)

    3 | Altes Museum

    Inaugurado em 1830, é o mais antigo museu da ilha, obra de arquitetura neoclássica do renomado Karl Friedrich Schinkel, que projetou um pórtico de quase 90 metros de altura, sustentado por 18 colunas em estilo jônico. Trata-se do maior e mais importante acervo de arte antiga, com peças greco-romanas e etruscas. Esculturas, vasos, moedas e joias estão entre as peças em exposição, com destaque para a estátua da Deusa Berlim. Veja também as representações dos rostos de Júlio César e Cleópatra.

    Altes Museum Berlim Museu Ilha Museumsinsel Viagem Alemanha - Foto Nathalia Molina @ComoViaja
    Altes Museum, o mais antigo da Ilha

    4 | Bode-Museum

    Por fora, é o prédio que mais passa a sensação de que os museus ficam mesmo sobre uma ilha — sua estrutura lembra um pouco a proa de um navio. Esculturas produzidas do início da Idade Média até o final do século 18, obras do Período Bizantino, de parte do Renascimento Italiano e uma das maiores coleções de moedas do mundo fazem parte do acervo do museu, que leva o sobrenome de seu 1º diretor, Wilhelm von Bode. Há uma galeria para as crianças participarem de oficina de artesanato, lerem ou ouvirem histórias.

    ILHA DE MUSEUS
    Bode Museum, cuja arquitetura lembra a proa de um navio

    5 | Alte Nationalgalerie

    Depois de projetar o Neues Museum, o arquiteto Friedrich August Stüler se inspirou na Acrópole de Atenas para erguer a Antiga Galeria Nacional, inaugurada em 1876. Lá estão obras do século 19 doadas pelo banqueiro Joachim Heinrich Wilhelm, principalmente quadros de Caspar David Friedrich, representante da pintura romântica alemã.

    O museu foi o primeiro do mundo a comprar quadros impressionistas, de Édouard Manet e Claude Monet, em 1896. Atualmente o acervo é inspirador, com quadros também de Pierre-Auguste Renoir e Paul Cézanne – difícil fazer Nathalia querer sair do 2º pavimento, dedicado ao impressionismo.

    1º museu a investir em Impressionistas – Foto: @ComoViaja

    VALE SABER:

    Endereço: A Ilha de Museus fica em Mitte, perto da Catedral de Berlim (Berliner Dom)

    Funcionamento: De terça a domingo, das 10 às 18 horas. Os 5 museus fecham às segundas

    Preço: Altes Museum e Bode-Museum, 10 euros cada; Pergamonmuseum e Alte Nationalgalerie, 12 euros cada; Neues Museum, 14 euros. O ingresso que dá acesso a todos os museus custa 19 euros (ou seja, se você já tiver interesse em visitar pelo menos 2 museus, esse é o bilhete a ser comprado).

    Há ainda a opção de comprar o ingresso do Pergamonmuseum (com direito a audioguia) e o ingresso do Neues Museum (sem fila e com audioguia), com a GetYourGuide, empresa alemã que vende tours e entradas de atrações em destinos pelo mundo.

    Transporte: Se os museus ficam em uma ilha, natural que uma das maneiras de se chegar até lá seja navegando. Em Berlim, há várias empresas que realizam passeios de barco pelo rio Spree, cada uma com um píer próprio.

    De metrô (U-Bahn), use a linha U6 e desça na Friedrichstrasse

    De trem (S-Bahn), utilize as linhas S1, S2, S25 e desça também na Friedrichstrasse ou as linhas S5, S7 e S75 para descer na Hackescher Markt

    De tram (trem de superfície), use as linhas M1 ou 12, que param na Am Kupfergraben ou M4, M5, M6 e desça em Hackescher Markt

    De ônibus, tome as linhas 100 e 200 e desça no Lustgarten (o Jardim das Delícias fica em frente à entrada do Altes Museum) ou pegue o TXL e salte na Staatsoper ou ainda utilize a linha 147 e desça na Friedrichstrasse

    Alimentação: Cada um dos 5 museus possui um café. Paramos para um lanche rápido dentro da Alte Nationalgalerie. Enquanto folheou livros infantis, Joaquim faturou umas 4 ou 5 madeleines, aqueles bolinhos franceses em forma de conchas que acompanham uma xícara de café. Virou fã. Agora acha que tem madeleine sempre que paramos para um café

    Dicas: Se a ideia for se aprofundar um pouco mais sobre acervos e exposições, pergunte na bilheteria sobre audioguias.

    Lembre-se de andar com moedas de 1 euro se quiser usar os guarda-volumes dos museus. A moeda é usada para abrir o compartimento. Quando você retira suas coisas, ela é devolvida

    Site: smb.museum

  • Trabant, carro símbolo da Alemanha Oriental: o Trabi

    Trabant, carro símbolo da Alemanha Oriental: o Trabi

    A passagem por Berlim me fez recordar de uma das aulas do antigo curso colegial, quando aprendi o princípio de Lavoisier, para quem ‘na Natureza, nada se perde, tudo se transforma’. Aqui, a teoria do pai da Química Moderna é licença poética para resumir como os alemães lidam com heranças e memórias do antigo lado oriental da cidade. Na maioria das vezes eles sabem explorá-las de modo turístico e lucrativo, mas sem deixar de preservar a história.

    Ampelmänn, boneco do semáforo de pedestres da antiga Berlim Oriental, virou uma espécie de embaixador informal da cidade unificada, por exemplo. A situação não é muito diferente com o Trabant, o carro símbolo da antiga Alemanha Oriental. Chamado pelo carinhoso apelido Trabi, o veículo virou atração turística. Há um Trabi Safari, passeio de 1h15 para quem quiser dirigir o carro pela capital alemã, o Berlin Trabi Museum (garanta o ingresso) e até o tour de Trabi Limousine

    O último Trabi — apelido carinhoso que o carro recebeu — deixou a linha de montagem em 30 de abril de 1991, quase 1 ano e meio após a queda do Muro de Berlim. Desde então, virou objeto de adoração e nostalgia não só na Alemanha como também em outros países. É possível dirigir o veículo, ainda que virtualmente, até no museu, na entrada do DDR Museum (compre ingresso sem fila), sobre a vida no antigo país comunista.

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    Até viajar para Berlim (1ª cidade que visitamos na nossa viagem em família pela Alemanha), o único e escasso Trabant que eu havia visto de perto era o do Flávio Gomes, jornalista e ex-companheiro de trabalho. Colecionador de carros antigos, Flavinho é entusiasta do Trabi, “o veículo mais perfeito já construído pela humanidade”, segundo ele. “Pequeno, econômico, leve, feito de fibra de algodão com resina plástica, que dura até o fim dos tempos”, acrescenta.

    Do ponto de vista técnico, o Trabant é um veículo simples, cuja potência do motor equivale à de uma moto de 250 cilindradas. No painel não há mais do que o velocímetro e um botão para acionar o limpador de para-brisa. Politicamente insuspeito (luxo é algo pequeno-burguês) e ecologicamente incorreto (o fumacê que produzia atingia níveis de poluição impensáveis nos dias atuais), o Trabi era um sonho de consumo dos alemães orientais.

    Até 10 anos à espera de um Trabi

    Nesse caso, sonho não é força de expressão, não. Muitas pessoas esperavam mais de 10 anos para poder comprá-lo porque a velocidade de produção da única fábrica de Trabant do país — em Zwickau, cidade a 300 km de Berlim — não acompanhava a demanda. Ou seja, teve gente que viu o comunismo chegar ao fim antes de guiar seu Trabi.

    Vários modelos de Trabi: souvenir do DDR Museum

    Quem quer conhecer mais sobre a produção, que chegou a um total de 3 milhões de unidades entre 1958 e 1991, pode ir ao Berlin Trabi Museum (garanta o ingresso), próximo ao Checkpoint Charlie. Foram muitos os exemplares do carrinho na Alemanha Oriental, transformado em todo tipo de veículo. Alguns exemplos são o modelo Panzer (militar), a versão em forma de limosine, o veículo para camping (em que a barraca é montada acima dele) e a Ferratrabi, adaptação inspirada no automóvel italiano.

    Tour real e virtual de Trabi em Berlim

    Hoje em dia, quem visita Berlim pode se aventurar pelas ruas da capital alemã a bordo de um Trabi, sentindo a emoção de dirigir o veículo. “A experiência de guiar esse carro é única. Poucos veículos representam a história de uma nação como o Trabi. Talvez nenhum”, ressalta Flávio Gomes, que foi buscar seu Trabant de cor Sky Blue diretamente na fonte, em 2009. A bordo de seu Gerd, nome que Flavinho deu à nova aquisição, ele deu um giro pelo Leste Europeu antes de embarcar o carro para o Brasil.

    Em Berlim, cruzamos diversas vezes com a carreata puxada pelo guia do Trabi Safari. Atrás dele, modelitos conversíveis, um cor-de-rosa, outro em estilo tigresa passavam por nós deixando um inconfundível cheiro de combustível queimado. O tour passa pelo Portão de Brandemburgo, pela Potsdamer Platz, pela Alexanderplatz e a pela Torre de TV, pela Catedral de Berlim e pela Unter den Linden.

    Quanto estivemos no DDR Museum, Nathalia e eu encaramos fila para brincarmos de pilotagem no simulador, que reproduz as ruas e os velhos prédios da Berlim Oriental. Foi como jogar XBox usando joystick de Attari. Eu ao volante e Joaquim de colo-piloto esmerilhamos, fizemos altas manobras — muitas delas sobre as calçadas.

    Brincadeiras à parte, guiar um Trabant ou apenas vê-lo de em circulação por Berlim nos ajuda a entender um pouquinho mais sobre o passado da antiga Alemanha Oriental, como resume Flávio Gomes: “Quando você entra num Trabi, visita a história.”

  • Gastronomia na Dinamarca

    Gastronomia na Dinamarca

    GERANIUM – Fotos: Visit Denmark/Divulgação

    Há algo de saboroso no reino da Dinamarca. Essa parece ser a conclusão a que chegaram os especialistas em gastronomia. Nos últimos 10 anos, os chefs de cozinha do país nórdico voltaram seus olhos para dentro de seus quintais e de lá tiraram inspiração para recriar receitas tradicionais da Escandinávia.

    Como resultado desse movimento, a Dinamarca consolida sua posição de destaque no cenário gastronômico europeu com 26 estrelas no Guia Michelin 2016, sendo 3 delas dadas pela 1ª vez ao restaurante Geranium, que usa produtos orgânicos nos pratos de seu cardápio (desde 1987, a Dinamarca é pioneira na utilização de um sistema de selos para identificar alimentos livres de agrotóxicos e outros agentes químicos. Há 6 anos, essa certificação também é encontrada em muitos restaurantes).

    NOMA
    NOMA

    Copenhague detém o título de capital nórdica da boa mesa, com 16 casas estreladas pelo Michelin, entre elas o Noma. Eleito 4 vezes o melhor restaurante do mundo nos últimos 6 anos, a casa que funciona em um armazém do século 18, na orla do canal de Nyhavn, foi quem liderou a volta às origens da culinária escandinava.

    A tradição culinária do país também se estende a refeições rápidas de lugares como o novato Øl & Brød (Pão e Cerveja, em dinamarquês), que vende o autêntico smørrebrød — sanduíche aberto feito com pão de centeio coberto por frutos do mar defumados, frios, queijo e temperos — acompanhado por um dos 10 tipos de cerveja disponíveis. Em Copenhague, há espaço ainda para comida de rua em muitos foodtrucks que ocupam o antigo depósito de papel da cidade. Das panelas e chapas saem receitas italianas, tailandesas, marroquinas, entre outras nacionalidades.

    Direto da fonte

    Um dos segredos do sucesso da gastronomia dinamarquesa está enterrado no solo arenoso e rico de Lammenfjorden, pedaço de chão avançado sobre o mar, a pouco mais de 1 hora de carro de Copenhague. O caminho feito pelos chefs na hora de buscar a matéria-prima para seus menus agora é a rota apontada para visitantes que desejam experimentar o conceito farm-to-table (levar alimentos do campo à mesa no menor intervalo possível).

    No Dragsholm, castelo com mais de 800 anos de história transformado em hotel, os hóspedes consomem pratos feitos à base de legumes, raízes e folhas cultivadas na propriedade. E ainda podem participar de um tour guiado para procurar alimentos na floresta.

    Os visitantes podem experimentar o que de mais saboroso está sendo preparado na Dinamarca nos diversos festivais de comida organizados pelo país, eventos onde é possível comer e beber nos melhores restaurante a preços reduzidos ou ainda ir às compras nos mercados de alimentos. Conheça 2 deles:

    1 > COPENHAGEN COOKING

    O maior e mais importante festival gastronômico do norte da Europa promete novidades para a edição de 2016. A expectativa é ultrapassar a casa dos 150 eventos organizados, responsáveis por atrair 100 mil pessoas ao festival.

    VALE SABER

    Quando: Em 2016, de 19 a 28 de agosto

    Site: copenhagencooking.dk

    Dinamarca Gastronomia Cafes Aarhus - Foto Photopop VisitDenmark Divulgacao
    CAFÉ EM AARHUS

    2 > FOOD FESTIVAL (AARHUS)

    A 2ª cidade mais importante do país organiza anualmente, às margens de sua baía, o Food Festival. A parceria entre chefs de cozinha e produtores locais foi reconhecida pelo Instituto Internacional de Gastronomia, Cultura, Artes e Turismo, que indicou Aarhus e seu entorno como Região Europeia da Gastronomia em 2017.

    VALE SABER

    Quando: Em 2016, de 2 a 4 de setembro

    Site: foodfestival.dk

     

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