1ª dúvida: Seria adequado para uma criança de 5 anos visitar Die Mauer, exposição no Checkpoint Charlie? 2ª: Com tantas opções de lugares para conhecer mais sobre a construção do Muro de Berlim e a cidade dividida (e sempre insuficiente tempo para todas), valeria ir além dos clássicos?
A curiosidade move jornalistas, e foi ela que nos levou, Fernando e eu, juntamente com nosso filho, Joaquim, até a entrada da caixa cilíndrica de 15 m de altura que abriga o panorama da cidade alemã dividida criada pelo artista Yadegar Asisi. Perguntas feitas na bilheteria, passamos adiante. Die Mauer – Das Asisi Panorama zum Geteilten Berlin (O Muro – Panorama Asisi de Berlim Dividida) começa com uma exibição de fotos e vídeos; garanta seu ingresso.
São cenas da construção do Muro de Berlim, como janelas sendo fechadas com tijolos e pessoas vendo seu horizonte sumir tapado pelo concreto tão de perto. Os vídeos também mostram depoimentos de gente que teve a vida impactada por aquela fronteira forçada. Entre as aproximadamente 100 fotos está essa imagem de Heidemarie Beyer com a família diante do Portão de Brandemburgo fechado.
Placas com escritos e desenhos dos visitantes ilustram as paredes. No centro desse foyer, 2 placas soltas da altura do Muro (3,6 m) lembram as de concreto pintadas vistas por Berlim. Pretendem causar no visitante a sensação de estar ali pequeno e poder expressar isso em formas ou palavras. Ao lado dos painéis, canetas para quem quiser deixar sua mensagem. Joaquim quis logo pegar uma. Como ainda não sabia escrever (tinha acabado de completar 5 anos quando fomos à Alemanha), pediu ao pai para deixar alguma coisa para ele copiar. Ficou satisfeito por participar.
Visão de Berlim Ocidental para Oriental
Atravessamos a porta para ver o panorama que batiza o subtítulo da exposição. Fomos completamente tomados pela ambientação. No escuro, saltam as cores em tons arroxeados da pintura. À música de Eric Babak se misturam efeitos especiais, como sons do cotidiano e falas históricas. A rispidez do alemão deixa o clima ainda mais intenso para quem não entende nada da língua. Entre os áudios está a fala de Walter Ulbricht, presidente do Conselho de Estado da Alemanha Oriental, negando a intenção do regime comunista de construir o Muro de Berlim, numa gravação de 15 de junho de 1961, pouco menos de 2 meses antes de ele ser erguido.
O enorme painel, realizado enfatizando profundidade e forma, apresenta a vida perto da barreira física, num dia qualquer do outono da década de 1980. A visão a partir de Kreuzberg, com Mitte no horizonte, mostra a Torre de TV ao fundo e a Faixa da Morte (temor de quem do lado de lá se arriscava a furar o bloqueio). Do lado de cá, acampamentos e os tipos que habitavam aquela região suburbana no oeste da cidade. Em Kreuzberg, lugar do movimento punk em Berlim Ocidental, Iggy Pop e David Bowie eram vistos nos anos de 1970 na casa noturna que leva o nome do distrito, a SO36.
Do alto da plataforma de 4 m de altura, os visitantes se confundem com as pessoas pintadas diante do Muro de Berlim. Como bem definiu Joaquim, o cenário é muito ‘realista’. Vê se consegue encontrar Fernando e nosso filho na foto abaixo. A imagem aqui foi um pouco clareada para mostrar os desenhos do artista. Lá, com a penumbra e com o clima instaurado, tudo se confunde.
O cilindro de Yadegar Asisi guarda um dos trabalhos mais tocantes que vimos sobre o Muro, pela maneira como retrata a vida nos tempos da cidade partida e proporciona ao visitante uma imersão nela.
Panorama Asisi: cenas em 360°
Natural da Saxônia (região do leste da Alemanha), Asisi vive em Berlim. Desde 2003, o arquiteto e pintor cria panoramas 360°, alguns chegando a medir 32 m de altura e a ter até 110 m de circunferência. O trabalho iniciado numa exposição dentro de um antigo gasômetro de Leipzig se expandiu e hoje se materializa em diversas pinturas panorâmicas expostas em cidades alemãs.
Para nosso filho, a representação deu forma a explicação simplificada que demos a ele quando Joaquim se deparou pela primeira vez com o Muro, num dos nossos passeios por Berlim Oriental. Usamos elementos da nossa realidade para tentar torná-lo algo um pouco mais compreensível para nosso pequeno menino: ‘Seria como se, de uma hora para outra, a gente não pudesse mais visitar seu tio, que mora a poucas ruas de casa. Tudo isso porque os 2 times que mandam, um de cada lado, não gostam um do outro’. Foi o jeito que encontramos, compatível com a simplicidade emocional dele. Parece que ele entendeu porque, 2 anos depois, ainda sabe que Berlim foi dividida por um Muro e que as pessoas não podiam atravessá-lo livremente.
Em outros lugares da capital alemã, é possível chegar perto de restos do monumento histórico, para conhecer como era a vida em Berlim Oriental e para aprender mais sobre a construção da barreira física pela Alemanha Oriental e como se chegou à sua destruição. Mas em nenhum outro dá para experimentar a sensação (ainda que simulada) de estar numa cidade dividida.
Não resta dúvida: uma criança é capaz de entender a história (por mais dura que ela seja) quando contada numa linguagem acessível, e Die Mauer merece entrar na lista de atrações da sua viagem.
VALE SABER
Endereço: Friedrichstrasse 205, Berlim
Transporte: A pé (muito se caminha na capital alemã), de metrô (descer na estação Kochstrasse/Checkpoint Charlie do U-Bahn) e até de ônibus de turismo (as linhas no estilo hop on hop off passam por lá), há várias maneiras de se chegar ao Checkpoint Charlie, lugar onde a exposição está instalada.
Funcionamento: Todo dia, das 10 às 18 horas (última entrada às 17h30)
Preço: € 10 — crianças até 5 anos, grátis; entre 6 e 16 anos, € 4; ticket para pais e filhos (até 2 adultos e 4 crianças entre 6 e 16 anos), € 27. A GetYourGuide, empresa alemã parceira do Como Viaja, vende ingresso para o Panorama Asisi.
Site: die-mauer.de
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