O longo viaduto que leva do Aeroporto de Toronto (Canadá) ao centro da maior cidade do país passa por prédios novos, alguns bem altos. Não costumo me impressionar com arranha-céus (morei anos a duas quadras da Avenida Paulista, em São Paulo), mas, na minha primeira visita à cidade, eu vinha de Montréal, onde os edifícios maiores se concentram na parte comercial. Mas aquelas construções modernas pelos bairros de Toronto, a caminho de conhecer a maior cidade do Canadá, já apontavam para uma metrópole bem distante do que eu tinha acabado de ver, apesar de geograficamente separada de Montréal por apenas 500 km.
Isso não é nada num país de dimensões continentais (a área total beira 10 milhões de quilômetros quadrados, fazendo dele o segundo maior do mundo, depois da Rússia). Também bem turística, Vancouver, por exemplo, já está lá do outro lado do mapa do Canadá, no oeste, à beira no Oceano Pacífico. Cidade mais populosa do país (com a área metropolitana, passa de 6 milhões de habitantes), Toronto é tão conhecida que muita gente pensa que é a capital do Canadá – posto ocupado, de fato, por Ottawa.
Desembarquei na metrópole canadense no fim de uma tarde de domingo. Nos dias seguintes, explorei os bairros de Toronto e conto aqui o que vi por eles. Mas já no primeiro dia deixei as malas no quarto e saí para dar uma volta. O distrito financeiro, onde me hospedei, estava vazio. O pretexto para o passeio: encontrar um muffin de qualquer berry e usar o wifi do café. A desculpa era boa: as frutas silvestres são extremamente saborosas no Canadá e a saudade batia forte do marido e do filho, na época com apenas 1 ano.
CN Tower, símbolo da maior cidade do Canadá
Instalada no hotel Fairmont Royal York, na Front Street, rua atrás da famosa CN Tower, tive a visão da torre como primeiro contato com Toronto. Me interessei por tentar fotografar sua imagem distorcida refletida num dos edifícios. Um ícone, de certo, mas não me disse grande coisa daquele ângulo. Com os dias, de tanto ver aquela agulha furando o horizonte, me acostumei. Só entendi o bafafá em torno da CN Tower, no entanto, quando subi a torre.
Aberta ao público há 35 anos, ela tem 553 m de altura. Os corajosos podem andar sobre um piso de vidro, a 342 m. Eu pus o pé rapidinho, enquanto a criançada literalmente rolava e se deitava olhando lá para baixo. Fiquei mesmo com a vista do LookOut, aquela parte gordinha da torre, onde uma varanda fechada mostra o Lago Ontário de um lado e a maior cidade do Canadá a se esparramar do outro. Respirei fundo e dei um pulinho no Sky Pod também. É o pedacinho em que começa a parte pontuda da CN Tower, a 447 m.
A experiência é bacana, mas, para conhecer Toronto, é preciso descer ao nível da rua, e até abaixo dela. Ali, sob a torre, encontra-se outra emblemática atração. Com 28 km de percurso, o Path Toronto é uma cidade subterrânea que conecta mais de 50 edifícios em Downtown. Segundo o Guinness , o Livro dos Recordes, é o maior complexo de compras embaixo da terra.
Em cerca de 370 mil m² de área comercial, há 1.200 lojas e pontos de serviço. Conseguir subir e descer em qualquer ponto é um dos grandes baratos do Path Toronto. Isso na área central. Outro é explorar o St Lawrence Market, mercado público de Toronto, com muitas berries e o apetitoso sanduíche peameal bacon.
A outros bairros de Toronto dá para ir de metrô, ônibus ou bonde. Uma forma gostosa de explorar a maior cidade do Canadá é, curiosamente, seguindo as rotas de bonde. A maioria leva no nome a rua principal por onde passa. Por exemplo, a linha 501 Queen percorre a Queen Street de leste a oeste, onde se encontra com a 508 Lake Shore, que começa seu trajeto no Lake Shore Boulevard.
Compras de West Queen West a Yorkville
A linha 501 Queen corta West Queen West, bairro alternativo de Toronto, ótimo para fuçar lojinhas. Antenada com a sustentabilidade, a Preloved vende peças fabricadas a partir de retalhos de tecidos e de pedaços de tricô. Fica ao lado da Type Books, uma simpática livraria com vários títulos sobre gastronomia e vinhos.
Na porta seguinte, está a The Paper Place, colorida e tentadora papelaria. Quem me apresentou a esse trio foi Barbara Captijn, dona da Insider Shopping Toronto. O trabalho dela é sair com turistas para compras como personal shopper.
Também me levou a Yorkville, bairro descolado no entroncamento da Bloor Street com a Yonge Street. Em setembro, mês do mais renomado festival de cinema de Toronto, o Toronto International Film Festival, essa área fica bem badalada. É um bonito, com cafés, restaurante e lojas.
Barbara me apresentou a Eleven, boutique na Cumberland Street com peças exclusivamente de estilistas canadenses. Na porta ao lado, a L’Elegante é um brechó que trabalha apenas com marcas como Chanel, Louis Vuitton, Gucci, Dior, Versace, Fendi, Hugo Boss, Prada e Cartier. Tive a sorte de ser iniciada a Toronto por moradores que escolheram como trabalho mostrar diferentes aspectos da sua cidade.
Downtown Toronto e Kesington Market
Com Bruce Bell, da Bruce Bell Tours, descobri que o Lago Ontario começava na Front Street (por isso, ‘rua da frente’). A situação mudou com a chegada da ferrovia a Toronto, em 1850, já que precisavam de terra para passar os trilhos. Com ele, soube que Toronto em 1793, ano da sua fundação, tinha 200 moradores e que atualmente é a cidade mais populosa do Canadá. De acordo com dados do governo do Canadá, Toronto com sua área metropolitana já contabilizava 6,2 milhões de habitantes em 2016.
Bruce é daqueles apaixonados pela história do lugar onde mora. Me contou que o primeiro nome dado a Toronto pelos ingleses foi York. Somente em 1834, o assentamento foi elevado à categoria de cidade e teve o nome como era originalmente conhecido — a palavra indígena significaria algo como ‘lugar de encontro’. Não deixa de fazer sentido ainda hoje.
O principal aeroporto do país é o de Toronto. Lá chegam voos do mundo todo, incluindo os da Air Canada Brasil. A metrópole canadense reúne 200 grupos étnicos e, além da língua oficial do Canadá — na verdade, são 2: o inglês e o francês —, se escutam cerca de 130 idiomas.
Muito em parte devido à sua vocação cosmopolita e financeira. Toronto é sede de 4 dos 5 bancos canadenses. A bolsa de valores da cidade é a segunda mais importante da América do Norte, atrás apenas da Bolsa de Nova York. E é com a grande irmã americana (a velha e a nova York) que Toronto é muitas vezes comparada: Little Apple se intitula a canadense.
As semelhanças existem. Toronto já foi York, é a cidade mais populosa e também a capital financeira do país (a administrativa é Ottawa), se desenvolveu em bairros de imigrantes e tem até sua Times Square (a Yonge-Dundas Square, também cheia de sinais luminosos).
Mas, para quem conhece a metrópole dos Estados Unidos, as comparações são até engraçadas. E, para quem conhece Toronto, desnecessárias. Nova York é Nova York, não há nada parecido no mundo. Toronto é infinitamente menos frenética. É uma cidade simpática, com uma população atenciosa. Com 630 km² quadrados, tem metade da área nova iorquina. Um lugar fácil de se conhecer com transporte público aliado a gostosas caminhadas.
Uma delas foi a que fiz com John Lee, um agitado chef, professor, dono da lanchonete Chippy’s Fish and Chips e guia sob demanda nas (poucas) horas vagas. John me mostrou Kensington Market, área conhecida nos anos de 1920 por seu mercado judeu. Nesta região, imigrantes se instalaram e abriram pequenos negócios. Nos anos 40, a comunidade judaica se deslocou para a parte norte da cidade. Desde então, Kensington Market recebeu levas de imigrantes açorianos, caribenhos, africanos e asiáticos.
Atualmente ali, no quadrilátero delimitado pela Spadina Avenue, pela Dundas Street, pela Bathurst Street e pela College Street, a diversão é checar essa diversidade espiando brechós, bancas de frutas e até portinhas mais prosaicas, de açougues e peixarias.
Cai bem uma pausa para um café na Casa Açoreana (na esquina da Augusta Street com a Baldwin Street) e para ver as prateleiras coloridas cheias de potes de café, chá e guloseimas de várias partes do mundo. Ou provar uma das delícias da My Market Bakery (na Baldwin Street): se lambuze com a nanaimo bar de lá – doce típico do Canadá, tem uma camada de massa de biscoito, uma de creme de baunilha e uma de chocolate e leva o nome da cidade de Nanaimo, na Ilha de Vancouver, na costa oeste.
Depois de passear por Kensington Market, andamos até a Spadina Avenue, já na vizinha Chinatown. Ali John me indicou o restaurante King’s Noodle. Comi o melhor pato assado que já experimentei. O porco assado e o brócolis no vapor também estavam deliciosos. Além da qualidade da comida, os preços eram bons.
Principais museus e Distillery Historic District
Dali fui à Art Gallery of Ontario (AGO) para ver as obras do Grupo dos Sete, pintores que nos anos 1920 promoveram o primeiro grande movimento artístico do Canadá. Eles acreditavam que uma identidade para a arte canadense viria do contato com a natureza e, por isso, retrataram a paisagem do país. Inaugurado em 1900, esse museu tem uma boa coleção de arte moderna.
Toronto tem diversos tipos de museu. O gigante Royal Ontario Museum (ROM), maior do Canadá, possui mais de 6 milhões de peças no acervo. Fiquei boba mesmo foi com a ala dos dinossauros. Não ligo muito para os bichões, mas a recomposição dos esqueletos e a variedade de espécies expostas me chamaram atenção.
Para os interessados no passado da cidade e do Canadá, há 10 museus históricos, como o do Fort York, fortificação construída no ano de fundação de Toronto (na época, York, lembra?).
Eu prefiro lugares históricos, como Distillery Historic District, um pouco mais ao leste em relação ao forte. A área que começa na Mill Street com Parliament Street é patrimônio nacional e reúne o maior conjunto de arquitetura industrial vitoriana preservada no país. No complexo, é montado o principal mercado de Natal de Toronto.
Durante o século 19, funcionou ali The Gooderham and Worts Distillery. Nos 44 prédios de tijolinhos da antiga destilaria, desde 2003 abrigam galerias de arte, lojas, restaurantes, escolas, teatros e escritórios. O lugar é lindo e já serviu de locação para 1.700 filmes.
Ao lado do ROM, na mesma Bloor Street, me diverti muito no Bata Shoe Museum. É um museu minúsculo, mas adorei o acervo: sapatos. Não que homens não possam gostar, mas é um museu muito mulherzinha. Logo na entrada pares de sapatos estão à disposição em frente a um espelho para uma sessão de brincadeira.
Na coleção permanente, é uma delícia ver exemplares de vários países, modelos consagrados na moda e alguns usados por estrelas do cinema e da música. Gostei da sequência de caixas transparentes que apresentam calçados históricos como o de um astronauta.
Também nessa linha de acervo bem específico, não deu tempo, mas fiquei morrendo de vontade de ver o Gardiner Museum, dedicado à cerâmica.
Hockey Hall of Fame, o esporte do Canadá no gelo
Nada pode ser mais particular e ligado ao Canadá do que o Hockey Hall of Fame. O que eu sei de hóquei no gelo? Tem um disco que desliza, e o jogador usa um bastão torto para empurrá-lo. Por isso, hesitei em ir até lá. Mas não dava para estar no Canadá e não ver o hall da fama do hóquei, ainda que fosse para ter algum contato com a modalidade.
Achei o museu impressionante, com um extenso acervo (claro, esse é o esporte nacional canadense). Na entrada estão os uniformes de todos os times participantes da National Hockey League (NHL) — apesar de levar ‘nacional’ no nome, a liga reúne times do Canadá e dos Estados Unidos.
O Hall of Fame exibe ainda uniformes de época dos times e recompõe um vestiário do Canadiens de Montréal. Há uma sala de troféus, outra com uniformes de seleções internacionais e uma especial para o puck (disco) usado na vitória do Canadá sobre os Estados Unidos na Olimpíada de Inverno de Vancouver, em 2010.
Para terminar a visita, a sala com figurinhas de jogadores e jogos interativos envolvendo hóquei. É possível experimentar o jogo, como atacante ou goleiro (os nomes devem ser outros, mas deu para entender as posições, certo?). Nunca foi desportista, fiquei um pouco acanhada de tentar, mas não resisti. Na primeira tacada, disco na rede! Sorte de principiante. No hóquei e em Toronto.