Os botequins são uma instituição tão sagrada quanto as praias da zona sul. São muitos os botecos no Rio de Janeiro inteiro. Há bares na Tijuca, na Lapa, na Urca, no Leblon, em Ipanema e em Copacabana, entre outros bairros. Cada qual com uma característica que o torna especial, único. Um jeito de ser, um despojamento pretensamente imitado por estabelecimentos da noite paulistana e de outras cidades brasileiras. A expressão ‘buteco carioca’ virou selo de qualidade, sinônimo de chope gelado e petiscos bem feitos, em uma equação cujo produto final é casa cheia.
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Veja a lista a seguir para saber onde comer e beber no Rio de Janeiro e experimentar comidas de boteco de responsa com chope ou cerveja estupidamente gelada, como cariocas gostam de pedir. E até acompanhar a bebida com um bom prato, já que é comum bares no Rio de Janeiro serem bar e restaurante ao mesmo tempo.
Para muitos, esses lugares abaixo estão entre os melhores bares do Rio de Janeiro. Não são barezinhos ou versões modernas de boteco. Têm tradição. Espontâneos como tudo na cidade, os botequins não têm hora certa para estar com muito ou pouco movimento. Botequim é lugar para se ir de dia, de noite, antes ou depois da praia. Ou para a saideira, quando todos os bares já baixaram as portas e apenas um, teimosamente como seus frequentadores, mantém-se de pé, iluminado pelas primeiras luzes da manhã.
No Rio, chamar o garçom pelo nome, conhecer o bar por um apelido que em nada lembra o que está escrito na fachada ou pedir um prato que não está no cardápio são detalhes que dão alma aos botequins. E torná-los patrimônios cariocas, com direito a placa que reconheça tal virtude, foi a maneira encontrada para preservar esse espírito que diz tanto sobre a cidade.
E, antes que alguém se apresse, avisamos que a relação de bares a seguir não se trata de uma lista fechada, definitiva. Até porque seguiremos bebendo e incluindo aqui muitos outros lugares. Vamos, então, à lista em construção:
1 | Bar Urca
A mureta que dá de frente para o Pão de Açúcar é o salão informal desse bar e restaurante especializado em comida portuguesa. Casquinhas de siri, bolinhos de bacalhau e pastéis de camarão são muito bem-vindos no Bar Urca quando acompanhados de cerveja a baixa temperatura. Essa combinação é recomendada para quem deseja testemunhar o pôr do sol. No tranquilo bairro da Urca, o movimento termina cedo, nunca ultrapassa as 23 horas. Mais: Instagram do Bar Urca.
2 | Bar Bracarense (Leblon)
‘Braca’, para os íntimos, o bar ocupa um tradicional endereço do Leblon. Os bolinhos de aipim e de camarão com catupiry são campeões de saída, na maior parte do tempo acompanhados do chope trincando de gelado. Nathalia conheceu o bar com um antigo chefe seu no Jornal do Brasil, que depois, por coincidência, também foi chefe do Fernando, na ESPN Brasil — para uma dupla que se conheceu num bar em São Paulo, nada mais adequado que essas conexões etílicas.
A parte bem legal do Bracarense é sua informalidade total, convite para uma parada na volta da praia no Leblon. Sente-se no balcão ou nas mesinhas na calçada. Nos dias de semana, o Bracarense serve almoço executivo. Nós dividimos para os três (Nathalia, Fernando e o pequeno Joaquim) dois pratos depois de uma rodada de bolinhos. Saímos bem satisfeitos. Mais: Instagram do Bar Bracarense. Mais: Instagram do Bracarense.
3 | Bar Jobi (Leblon)
Pequeno notável, o Jobi fica no coração do Baixo Leblon e é famoso pelo movimento que ostenta do lado de fora, na calçada. Culpa do acanhado salão e do chope cremoso e bem tirado. Para comer, pratos portugueses e petiscos como empada de camarão e bolinho de bacalhau. Abre às 11 horas e fecha tarde, por isso, o Jobi é opção para a saideira dos insones. Mais: Instagram do Jobi.
4 | Galeto Sat’s (Copacabana)
A coleção de 400 cachaças do proprietário, Sérgio Rabello, atrai apreciadores da bebida para o Galeto Sat’s. Um deles é um colega de profissão do Fernando, que se mudou para o Rio e vive explorando botequins dos bons. O chope também é uma boa razão para uma saideira no bar, que fica no limite entre Copa e Leme. Como beber sem comer dá ruim, como se diz, não se acanhe diante do galeto ou da porção de coração de galinha servida com cesto de pão de alho. Mais: Instagram do Galeto Sat’s.
5 | Pavão Azul (Copacabana)
A senha é a seguinte: patanisca. Nesse botequim sem frescura o petisco à base de bacalhau é campeão de venda. O arroz de polvo também está entre os preferidos do público, formado basicamente por gente de Copa e adoradores de pé-sujo. Se você acha que a calçada é o melhor salão de boteco que há, então seu lugar é aqui. Mais: Instagram do Pavão Azul.
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6 | Bip Bip (Copacabana)
Em 2 de março de 2019, o silêncio encheu o salão do Bip Bip. Pela primeira vez não era o dono, Alfredo Melo, cobrando que os presentes falassem mais baixo para não atrapalhar os músicos, cena rotineira no bar que ele fundou em Copacabana no auge do regime militar. A morte de Alfredinho foi um duro golpe para uma legião de frequentadores. Cantores, políticos, intelectuais e jornalistas se sucederam em obituários nas redes sociais. E muitos desses amigos correram para o número 50 da Rua Almirante Gonçalves. Era preciso romper aquela ausência de som com o samba do adeus. A música sempre será uma prioridade no Bip Bip, seja choro, bossa-nova ou batuque de bambas. Lugar de resistência e militância, o bar segue de portas abertas, ainda mais necessário e do povo, como seu fundador. Mais: Instagram da roda do Bip Bip.
7 | Cervantes Bar (Copacabana e Barra)
Para dizer que você realmente esteve no Cervantes é preciso ter provado o sanduíche de pernil com abacaxi, um clássico do bar e restaurante que funciona em Copacabana há 60 anos. Como a porção é bem farta, muitos frequentadores do Cervantes matam a fome da madrugada ali, enquanto tomam aquele último chopinho. Até hoje Fernando não perdoa que Nathalia ainda não o levou até lá para provar essa combinação matadora de carne de porco e abacaxi com chope. Mais: Instagram do Cervantes.
8 | Café Lamas (Flamengo)
Aberto por Francisco Lamas em 1874, serviu de Machado de Assis a Getúlio Vargas. Mas são boêmios comuns e gente que aprecia comer e beber bem que ocupam o salão do Café Lamas diariamente, das 9h30 até alta madrugada. A canja de galinha, por exemplo, é conhecida entre os notívagos. Se estiver com fome, experimente o suculento filé à francesa — já entrou no texto que Nathalia escreveu aqui sobre o prato com a guarnição preferida dela. O Lamas é um dos bares preferidos da Nath, que morou no bairro vizinho de Laranjeiras. Ali bebe-se chope, cerveja e até café. Mais: Instagram do Lamas.
9 | Armazém Cardosão (Laranjeiras)
Na linha Nutella x Raiz, o Cardosão é capitão do segundo time. O armazém com cara de botequim de subúrbio fica num endereço lá no alto do bairro de Laranjeiras. O Armazém do Cardosão tem feijoada bem concorrida e uma agenda de shows que leva muita gente para tomar cerveja em garrafa muito gelada. Com sorte, dá para encontrar uns rostinhos conhecidos da música e da televisão. Mais: Instagram do Armazém Cardosão.
10 | Bar do Mineiro (Santa Teresa)
Lembra aquelas vendas de interior, com suas portas de ferro altas. Da cozinha do Bar do Mineiro saem os famosos pastéis de feijão, friturinha a ser provada com cerveja em garrafa recoberta pela inconfundível ‘capa-branca’ de tão gelada. A porção de linguicinha mineira é outra receita a se provar, além dos croquetes de calabresa, queijo e de carne assada. No fim de semana, o povo sobe para Santa Teresa e faz fila em busca da feijoada, que tem versões para uma, duas e até três pessoas. Mineiro de Carangola, o proprietário, Diógenes Paixão, coleciona obras de arte que decoram o bar (só quadros de Alfredo Volpi ele tem 60). Recentemente, o bar inaugurou um rooftop. Mais: Instagram do Bar do Mineiro.
11 | Nova Capela (Lapa)
O azulejo das paredes nos remete aos restaurantes mais tradicionais de Lisboa. Pudera. É uma casa portuguesa, com certeza, aberta em 1903 com o nome de Capela. Mudou em 1967 para Nova Capela, após um incêndio destruir o antigo bar. Viveu a fase da Lapa em baixa e segue firme no bairro, atraindo gente de teatro e os notívagos da região. O cabrito com arroz de brócolis, batatas coradas e coberto por alho frito serve duas pessoas. Se quiser o bicho na forma de quitute, experimente como recheio de pastel ou na forma de croquete. Mais: Instagram do Nova Capela.
12 | Bar Brasil (Lapa)
Um dos muitos bares brasileiros que teve de mudar seu nome durante a Segunda Guerra. O antigo Zepelin foi fundado em 1907, era de donos austríacos, foi repassado a um espanhol, e até hoje serve pratos da culinária alemã. Destaque para o kassler com salada de batatas do Bar Brasil. Mas no Alemão da Lapa dá para traçar também um bom bife com fritas numa boa. Tudo regado a chope que corre a serpentina tão cheia de histórias quanto as paredes do prédio de pé direito alto. Mais: Instragram do Bar Brasil.
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13 | Bar Luiz (Centro)
Em matéria de tradição, o Bar Luiz extrapola. Abriu suas portas em 1887, no tempo em que D. Pedro II ainda mandava alguma coisa no Brasil. Na década de 1940, escapou de ser apedrejado porque levava o nome de um de seus donos, Adolph — o que que fez a turma anti-Hitler enxergar ali uma conexão esdrúxula com o nazismo. Virou então Bar Luiz, mas não perdeu sua essência germânica, especialmente nos pratos bem-servidos, como o kassler com batata e no chopinho tirado a baixa temperatura. Mais: Instagram do Bar Luiz.
14 | Restaurante Salete (Tijuca)
Tem muita comida boa para se provar nesse restaurante fundado há 60 anos pelo espanhol Manolo. Mas chega a ser deselegante sair do bar na Tijuca sem provar o carro-chefe da casa: empadas (de camarão, de frango ou de palmito, não importa se uma ou todas). O cardápio do Salete tem outros campeões de saída, como carne assada com purê e o espaguete com frutos do mar. Comida para forrar antes de tomar alguma coisinha estupidamente gelada. Mais: Instagram do Salete.
15 | Bar Madrid (Tijuca)
Aberto em 2015, virou referência entre os bares da Tijuca. Em tão pouco tempo de vida arrebatou paladares dos locais e dos tijucanos por adoção. Tem batidinhas que já caíram no gosto dos frequentadores, um sanduba de milanesa com queijo que dá fome só de ver a foto e um pastel de jiló com linguiça mineira que vale a visita — deixe seu preconceito em casa, porque o único amargor que você vai sentir é o da cerveja, se estiver bebendo uma (aliás, peça uma garrafa sem medo, pois estará no capricho). Fica na Almirante Gavião, uma rua estreita e curta, sossegada como testemunhamos numa tarde de terça. O ambiente é simples, mas convidativo. A origem espanhola dos donos do Bar Madrid explica o nome, as fotos do time do Real e do cantor Julio Iglesias como parte da decoração. Retratos da atriz espanhola Sarita Montiel e do ex-presidente Getúlio Vargas ajudam a preencher as paredes, onde também repousam flâmulas do América, o clube-símbolo da Tijuca. Mais: Instagram do Bar Madrid.
16 | Bar do Bode Cheiroso (Tijuca)
Deu medinho ao ler esse nome, deu? Bobagem, cheiroso mesmo é o molhinho de pimenta dos recipientes que descansam em cada mesa. Nesse boteco com B maiúsculo não é o bode quem reina, mas o porco. O pernil é servido de várias maneiras: em pratos, em sanduíches e em salgados, como o croquete acompanhado de molho de abacaxi. Releitura do famoso sanduba do Cervantes? A gente não crava, mas pode até ser. Mas o fato é que a carne vem desfiadinha de um jeito que lembra muito o modo de se fazer bolinhos de bacalhau. Pudera, a origem dos donos é portuguesa, o que muito explica o jeitão de pé-sujo-luso-das-antigas, com direito a venda de aparelho de barbear descartável. Pertinho do Maracanã, o Bar do Bode Cheiroso vira ponto de encontro, de esquenta e até de concentração de torcedores em dias de jogos — o escudo do Vasco não deixa dúvida de o ambiente respira futebol. Ideal para compor uma dobradinha em dias de bola rolando ou depois de fazer a visita guiada ao estádio. Mais: Instagram do Bode Cheiroso.
17 | Na Brasa Columbia (Tijuca)
Haddock Lobo com Afonso Pena. Desde 1974, o Na Brasa Columbia funciona na mesmíssima esquina, servindo sua especialidade: galeto, coradinho e saboroso — o ponto da carne fica a critério do freguês. No passado, os clientes comiam em balcões com banquetas, que terminaram por dar ao lugar a sugestiva alcunha de ‘bunda de fora’ — apelido de casas similares pela cidade. Hoje em dia dá para sentar do lado de fora ou no salão com ar-condicionado. Peça chope e fique atento ao tec-tec-tec da tesoura que destrincha os galetinhos antes de eles desembarcarem nas mesas da clientela. O Columbia ultrapassou as fronteiras tijucanas, podendo ser encontrado também na Barra, em Botafogo e no Recreio. Mais: Instagram do Na Brasa Columbia.
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