Sem glúten: um mês na Alemanha e uma descoberta

Sem glutén, Viagem à Alemanha - Foto Nathalia Molina @ComoViaja
Fotos: Nathalia Molina @ComoViaja

Quando dizem que viajar faz bem para a saúde, pode acreditar, não é força de expressão. A incursão de quase um mês pela Alemanha me trouxe benefícios que vão além da cultura e da beleza do país. Me levou a perceber que eu poderia ter um problema com glúten.

Já vinha me sentindo mal havia tempos, com períodos de melhora e piora. Mas durante os primeiros 20 dias na Alemanha fiquei melhor. Nem me dei conta (quando está bem, quem se lembra de problema, né?). Além disso, em viagens sempre caminho muito, tomo bastante água. Tendo, então, a acreditar que esses efeitos são os responsáveis pelo bem-estar. Sem contar, é claro, na quantidade imensa de serotonina que a felicidade de viajar deve liberar em mim.

Sem glutén, Viagem à Alemanha - Foto Nathalia Molina @ComoViajaMas no fim da viagem, já em Frankfurt, voltei a me sentir mal. Também tomada pelo prazer da visita à Alemanha em família, não parei para pensar sobre o assunto. De fato, essas observações só vieram depois, já no Brasil. E pelo meu marido, Fernando: ‘Você se deu conta de que quase não passou mal na Alemanha? Só em Frankfurt, quando começamos a comer massa, você voltou a ter problema.’

Nossa, era verdade. Na visita a Berlim, Munique, Nuremberg e Stuttgart, eu havia comido basicamente comida alemã. Sem glutén, Viagem à Alemanha - Foto Nathalia Molina @ComoViajaMuita carne de porco e salsichas mil, acompanhadas de repolho e batata em muitas variações. Especialmente a salsicha de Nuremberg, minha preferida. Comi em vários lugares da Alemanha. Em Nuremberg, alguns foram o restaurante medieval Zum Gulden Stern e barracas nas ruas, no formato drei im weggla. Afpelstrudel, aquela maravilha de torta de maçã, só experimentamos uma vez, em Berlim.

Alergia à cerveja alemã?!

Além disso, tinha outra constatação revelada ainda antes de sair do Brasil: eu não conseguia mais tomar cerveja alemã. Custei muito a acreditar nessa ideia, que parece mais uma praga. Logo eu, tão cervejeira. Eu amo cerveja alemã!

Há dois anos tomei meio copo e, em questão de minutos, minha cara parecia estar pegando fogo de tanto que queimava. Uma mancha vermelha foi pintando meu rosto todo e chegou ao pescoço. Fui parar no pronto-socorro. Fato inesquecível. Até hoje me dói o lugar onde o enfermeiro do São Camilo me aplicou uma injeção para estancar a crise alérgica.

Na ocasião, meu marido e eu pensamos que pudesse ter sido algum problema com a garrafa da cerveja. Será que tínhamos lavado direito? Quase um ano depois, resolvi fazer um teste. Dois goles na cerveja, e corri para o comprimido de corticoide para parar a vermelhidão galopante.

Sem glutén, Viagem à Alemanha - Foto Nathalia Molina @ComoViajaFui para a Alemanha – viagem que incluía a minha primeira visita a Munique – lamentando que não poderia entornar os canecos como fazem os locais, mas ainda esperançosa de que poderia bebericar. Afinal, eu já tinha ido ao país várias vezes e sempre tinha bebido cerveja alemã!

Sem glutén, Viagem à Alemanha - Foto Nathalia Molina @ComoViajaChegando lá, até conseguia tomar uns golinhos de cerveja, da mais clarinha, amarelinho quase bebê. Ficava vermelha, nada alarmante. Mas só uns golinhos. Fernando pedia um canecão para ele, e eu bebericava, como fiz no Löwenbräu em Berlim (primeiro restaurante onde comemos na viagem) ou no biergarten do Viktualienmarkt em Munique (jardim de cerveja na praça do mercado). Valeu para tirar as tradicionais fotos segurando o caneco.

Na nossa ida à Hofbrauhaus, a cervejaria mais famosa de Munique, me rebelei: pedi uma cerveja de trigo. ‘Vou pedir a que eu gosto mais. Se não der para beber, você toma, Fê?’. Proposta difícil de topar, né?

Quase me emocionei com aquele copão quando a garçonete colocou nossos pedidos à mesa. Minha alegria foi embora depois de dois goles. O comprimidinho de corticoide estava na bolsa para me salvar. Pronto, não dava mais para tentar tomar. Melhor era procurar entender no Brasil o que estava acontecendo. Pelo menos valeu o brinde com Fernando de chope tradicional e Joaquim de suco de maçã espumado. Vê só as caras engraçadas na foto do alto deste texto.

Em comum entre massa e cerveja: o glúten

Em casa, quando Fernando chamou atenção para minha melhora nos primeiros 20 dias na Alemanha, juntei lé com cré. O que havia em comum entre massa e cerveja? O glúten! A proteína é encontrada no trigo, na cevada e no centeio.

Resolvi, então, testar uma alimentação sem glúten. Durante 40 dias, me senti outra pessoa. Nesse período, estive na Argentina, onde não encontrei nenhuma dificuldade para manter a opção gluten free, lá tem até voo da LAN com lanche especial sem glúten.

Interessante ver que, mais do que descobertas turísticas ou gastronômicas, viajar proporciona tantas sensações e experiências que podem mudar sua vida. Comigo tem sido assim. Não só pelo glúten. O contato com os muitos mundos com que topo me traz vários benefícios. Agora efetivamente até para a saúde.


*

Depois que escrevi este texto em 2014, passei por um longo período de testes, exames e consultas. Isso porque voltei a me sentir mal, mesmo sem comer glúten. Agora, em 2016, estou bem e de volta à ativa! Ao que parece, o glúten me prejudicava por causa do intestino irritável, um dos sintomas da minha fibromialgia, descoberta nos últimos anos. Tudo ainda é novidade para mim. No entanto, já voltei a comer glúten gradativamente. Ah, e já tomei cerveja algumas vezes! Ainda não testei a alemã 

 

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo