Prefere acarajé ‘quente’ ou ‘frio’? Leia sobre origem da receita e onde comer o quitute baiano em Salvador, no Rio e em São Paulo. Bola de fogo no idioma iorubá, o bolinho de raiz africana leva feijão fradinho e camarão
ATUALIZADO EM 20 DE MARÇO DE 2017
Aos 6 anos, Joaquim ainda não experimentou azeite de dendê, mas já sabe que o tempero da Bahia é forte. ‘Essa comida dos baianos é fogo!’, exclama nosso filho com voz caricata, lembrando da frase do personagem Stress, que passeia pelo país com o amigo Relax, na história do livro Brasil Animado, de Mariana Caltabiano. A receita típica, de origem africana, ganhou o Brasil e pode ser provada em cidades como Rio e São Paulo, além, é claro, de Salvador.
É bom lembrar daquela história clássica de ‘quente’ e ‘frio’ quando a baiana perguntar como você deseja seu acarajé. É ‘quente’, na pimenta. Ou ‘frio’, se não gostar de tanta picância ou o corpo não aguentar.
Origem do acarajé e receita
O quitute tem um nome bem adequado. De acordo com a Fundação Joaquim Nabuco, a palavra tem origem no idioma africano iorubá. Vem da junção de ‘akará’ (‘bola de fogo’) com ‘jé’ (que significa ‘comer’). O bolinho de feijão fradinho é praticamente um ícone da gastronomia e da cultura da Bahia, mas se espalhou pelo país.
Principal item do tabuleiro da baiana, o acarajé vem recheado com camarão seco, caruru (com quiabo cozido em pedacinhos) e vatapá (massa cremosa que leva fubá, amendoim e leite de coco, entre outros ingredientes). Se acrescenta ainda vinagrete ou molho a campanha. Todos os ingredientes vistos na foto acima deste texto, imagem de divulgação da Secretaria de Turismo da Bahia clicada por Solange Rossini.
Onde comer acarajé
Quando estiver em Salvador, rume para o Rio Vermelho, onde fica o mais famoso trio de baianas da cidade. No Largo da Mariquita, o acarajé da Cira (ou dE Cira, como dizem os locais) forma filas enormes. Ou experimente o bolinho no Largo de Santana, na barraca da Dinha ou na da Regina (o melhor, no gosto de Tereza Leal, minha amiga moradora do Rio Vermelho). Decida qual é o seu preferido, se conseguir.
No Rio de Janeiro, a Barraca da Verinha tem fila na Feira Hippie de Ipanema, realizada aos domingos na Praça General Osório. Ao estilo Silvio Santos, eu não provei, mas minha mãe aprova. Ela costuma pedir com as amigas a iguaria, que vem no pratinho para quem conseguir lugar nas mesinhas se deliciar ali.
Cidade onde cabe o Brasil e o mundo, São Paulo também tem um lugar especial onde o acarajé é a grande estrela do cardápio. O Rota do Acarajé nasceu como um delivery do quitute baiano no bairro de Santa Cecília, região central da cidade. Fez fama, o que exigiu a abertura de um salão, e hoje serve porções regadas a cerveja gelada.
Vistas em Salvador há pelo menos meio século, as baianas do acarajé são descendentes de escravos da cidade, de acordo com a Fundação Joaquim Nabuco. Eda Romio conta no livro 500 Anos de Sabor que, já no século 19, era comum ver negras alforriadas vendendo alimentos pelas ruas da capital baiana. Desde 2005, a profissão foi declarada patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O tabuleiro das baianas de Salvador têm ainda as deliciosas cocadas, o abará (receita de massa de feijão fradinho cozida na folha de bananeira) e o bolinho de estudante. Uma curiosidade: feito com tapioca, o bolinho também é conhecido pelo nome sacana de ‘punhetinha’. Ah, essa Bahia é fogo…