O que fazer em um biergarten de Munique? Beber e conversar nestes jardins de cerveja, que lotam de turistas e habitantes no verão. Conhecemos três deles e explicamos por que é um programa para ser feito até em família.
A bandeja pesa, mais até do que a mochila nas costas. Os olhos varrem o horizonte. Não há lugares disponíveis. Aparentemente. Mesmo sem ter vocação para garçom, você ousa dar alguns passos, ganha confiança ao ver que os pratos ainda não caíram no chão, mas segue sem encontrar um espaço onde possa apoiar aquilo tudo. De repente, alguém tenta te puxar pelo casaco. Você olha para trás e se depara com bochechas rosadas, sorriso amistoso, palavras num carregado alemão e um gesto que dispensa tradução.
Pronto. Você acaba de descobrir na prática a primeira regra dos biergartens na Alemanha: a da boa convivência. Dois velhinhos, respeitosamente escoltados por canecões de cerveja, convidavam Nathalia, Joaquim e eu para sentarmos com eles. Nossa estreia num biergarten foi no Viktualienmarket, mercado em Munique.
Fotos: Nathalia Molina @ComoViaja
Na capital da Baviera, cerveja é assunto sério. Foi lá que, em 1487, o duque Albert IV instituiu que a toda bebida produzida em Munique só seria considerada pura se levasse apenas três ingredientes em sua fabricação: cevada, lúpulo e água. Um mastro fincado no centro da praça onde estávamos ilustra esse decreto. Posteriormente, com a reunificação da Baviera, foi instituída pelo duque Wilhelm IV, em 1516, a lei da pureza da cerveja alemã para toda a região — que em 2016 completou 500 anos.
LEI DA PUREZA: MARCO DA CERVEJA ALEMÃ
O que é um biergarten
A beleza está na simplicidade. Uma das experiência mais bacanas na Alemanha é se sentar num biergarten. Os jardins de cerveja são áreas de reunião ao ar livre, de comunhão. Um canto para aproveitar o clima quente quando ele finalmente dá as caras naquele pedaço da Europa. Nos restaurantes, se existe uma área com mesas ao ar livre para as pessoas se sentarem e beberem cerveja, o lugar é chamado de biergarten. O espaço pode ser na frente ou no quintal e inclui mesas de madeira com bancos compridos. Por isso, você vai ouvir falar muito de biergarten se estiver viajando pela Alemanha, especialmente da primavera ao verão.
BIERGARTEN EM PLENO VERÃO – Foto: Tommy Loesch/Divulgação
Mas nenhuma cidade personifica melhor espírito desses bares ao ar livre do que Munique. Vale até uma licença poética para chamar de biergarten o espaço que fica dentro do estádio do time de futebol local. Enquanto esperávamos para fazer o tour da Allianz Arena e conhecer o Museu do Bayern de Munique, aproveitamos para pedir a dobradinha matadora: cerveja + schnitzel com salada de batata.
BIERGARTEN DA ALLIANZ ARENAESTÁ SERVIDO?
Na cidade da Baviera, faz parte da vida se sentar num biergarten, para curtir o bom tempo e confraternizar com amigos ou estranhos. Isso explica o convite dos dois senhores para que sentássemos ao lado deles. Havia espaço suficiente para comer e beber sem que nossa presença inibisse o papo que a dupla estava tendo antes de aparecermos.
UM BRINDE AO JOAQUIM: PROST!
FERNANDO ENTRE PROFISSIONAIS
BIERGARTEN NO VIKTUALIENMARKT
O que também não impediu que nos comunicássemos com eles. O homem que nos chamou para a mesa arranhou os acordes iniciais de Aquarela do Brasil assim que soube de onde éramos. Disse ainda que já tinha estado por aqui. Se encantou com as poucas palavras em alemão que Joaquim se atreveu a falar. Secou uma segunda caneca com o parceiro, despediu-se e foi embora com o amigo.
[mc4wp_form id=”28979″]
Como começou a tradição
Uma história iniciada por acaso. Entre os bávaros do final do século 19, prevalecia o gosto pela cerveja mais leve, de baixa fermentação, um tipo de bebida mais fácil de ser produzida no inverno. Para não deixarem de beber o precioso líquido amarelo também nos meses mais quentes do ano, a solução encontrada pelos cervejeiros foi abrir buracos profundos longe da cidade, mais próximos à beira de rios — em Munique, o Isar é um exemplo. Nestas adegas eram armazenados grandes barris de cerveja, cobertos pelo gelo que se formava durante o inverno rigoroso.
A fim de proteger as caves do sol e do calor, os cervejeiros também plantavam castanheiras. Era ali mesmo, debaixo da sombra das árvores, que se consumia cerveja em temperatura fresca quando o verão chegava. Nascia a tradição dos biergartens, que ficaram populares entre os cidadãos, mas descontentou os donos de tabernas de Munique, que perderam clientes para os jardins de cerveja. Para serenar os ânimos, em 1812, o rei Maximilian Joseph I liberou o consumo da bebida nos jardins das cervejarias, mas não permitiu a venda de comida por esses estabelecimentos. Segundo o órgão oficial de turismo de Munique, existem 180 jardins de cerveja na cidade, espalhados por praças e parques — tem até no aeroporto! O mais antigo, ligado à cervejaria Augustiner, data de 1812, é também o maior, com capacidade para receber até 8.000 pessoas. Um biergarten pode ter música ao vivo ou não. Ou apenas o som das conversas, ruidosas na direta proporção em que se acumulam canecas vazias sobres as mesas.
AUGUSTINER, O MAIOR E O MAIS ANTIGO BIERGARTEN – Foto: Divulgação
Nós fomos ao biergarten da Torre Chinesa (Chinesischer Turm), que se localiza dentro do Englischer Garten (Jardim Inglês de Munique). No grande parque urbano de Munique há também um jardim de cerveja às margens do lago Kleinhesseloher e até um pequeno ponto de venda da cervejaria Hofbräuhaus, versão reduzida da conhecida casa no centro de Munique. O biergarten da torre chinesa é o segundo maior da cidade. Conta com 7.000 lugares, aproximadamente. Alguns bancos têm encosto. No canto fica a parte de venda de comida e de cerveja. Nem é preciso abrir a boca para comprar a bebida. Você entra numa fila, bota o dinheiro num pratinho e pega uma das muitas canecas cheias que repousam sobre o balcão. O esquema é igual nos quiosques do Viktualienmarkt. É ou não é o drive-thru dos sonhos de quem ama cerveja?
Biergarten no Englischer Garten – Foto: Nathalia Molina
VISÃO A PARTIR DO LAGO KLEINHESSELOHER
BIERGATEN DA TORRE CHINESA
CAPACIDADE PARA 7.000 PESSOAS
DRIVE-THRU DOS SONHOS
PARE, PAGUE E PEGUE
OLHA A SELFIE!
LUGAR DE SOBRA
Viagem com crianças pode ser para grande cidade, sempre envolvendo o pequeno no roteiro – Fotos: Nathalia Molina e Fernando Victorino @ComoViaja
DESCIDA NÚMERO 5.347
Compramos uma porção de batata frita e duas canecas de cerveja, e nos sentamos para fazer um piquenique à tarde. Em frente às mesas, um parquinho com brinquedos de madeira é todo das crianças. Joaquim se aventurou por escorregadores, escaladas e afins enquanto Nath e eu curtimos o fim de tarde. A sensação de estar num biergarten é a de quem participa de uma grande festa ao ar livre, em que se celebra a alegria do bem-viver.
No princípio, era a Marienplatz. Que, quando da fundação de Munique, no século 12, ainda atendia por Schrannenplatz (praça dos grãos), o mercado de produtos agrícolas da cidade. Condição que a região ostentou por mais de 600 anos até ficar pequena para abrigar uma feira já robusta e bem alimentada.
Por determinação do Rei Max Joseph I, a partir de 1808, o mercado começou a se deslocar para as imediações da Heiliggeistkirche (Igreja do Espírito Santo). A mudança resultou no surgimento do Viktualienmarkt (em latim, victus quer dizer alimento).
Nós o conhecemos quase sem querer. Primeiro dia de nossa passagem por Munique. Famintos e exaustos, Nath, Joaquim e eu voltávamos a pé da visita ao Deutsches Museum quando avançamos por uma praça com bancas de comida, muita comida à vista. Sim, o mercado municipal estava no nosso roteiro de viagem em família pela Alemanha. Naquele momento só havíamos antecipados a programação.
Como é o mercado no centro de Munique
Espalhados por cerca de 18 mil m², perto de 140 comerciantes vendem frutas, legumes, verduras, carnes, queijos, pães, temperos e tudo o que for capaz de aguçar nossos sentidos. Produtos genuinamente bávaros, alemães e de outros cantos do mundo. Saborosa e bem-vinda diversidade.
Riqueza que, por pouco, não se transferiu outra vez de lugar. O Viktualienmarkt não ficou a salvo da destruição na Segunda Guerra, mas escapou de ver os escombros do conflito darem espaço a edifícios durante a reconstrução de Munique. A cidade engavetou esse projeto, decidindo por reerguer um dos seus símbolos. O mercado renasceu e cresceu além da vocação popular. Hoje, cores e sabores atraem muitos turistas e cozinheiros (profissionais ou de fim de semana).
Imagine o quanto salivamos enquanto dávamos um giro de reconhecimento pelo Viktualienmarkt! Nosso olhar se perdeu diante de generosos pedaços de queijo, tachos de azeitonas carnudas, embutidos e defumados.
Onde comer no Viktualienmarkt
Naquele fim de tarde, com o estômago pra lá de vazio, beliscar não estava em nossos planos. Quim, como de costume, queria a sua sagrada porção de fritas. Só depois descobri que um certo Uwe Luber é dono de uma banca onde é possível encontrar até 40 tipos de batata do mundo todo (a fome era tanta que talvez nosso filho encarasse até batata crua).
Nathalia e eu queríamos nos sentar e curtir o famoso biergarten que funciona no centro do Viktualienmarkt. Para evitar um pileque só no primeiro canecão de cerveja, entramos no NordSee, cadeia alemã de restaurantes especializada em peixes. Eles vendem de combos de lanches a pratos com filé e 2 acompanhamentos. Atacamos de salmão. O resto é história contada neste post sobre a nossa experiência na cervejaria ao ar livre do mercado.
NORD SEE
SALMÃO, BATATAS E MOLHO TÁRTARO
DUQUE JOACHIM I, O BATATEIRO
BIERGARTEN DO VIKTUALIENMARKT
O BOM E VELHO CANECÃO. NO FRIO OU NO CALOR
Quando da mudança do mercado municipal da Marienplatz para a região do Viktualienmarkt, o corredor formado pelos vendedores de grãos, protegidos debaixo de uma estrutura de ferro e vidro, foi rebatizado como Schrannenhalle. Desde novembro de 2015, a rede italiana de delicatessen Eataly abriu sua primeira filial europeia no local. Totalmente reformado, o edifício possui 16 restaurantes e barracas que vendem cerca de 10 mil produtos, a maioria originários da bota.
Isso reforça a já estreita ligação entre bávaros e italianos, cujos os territórios, no passado, fizeram parte do Sacro Império Romano-Germânico. Razão pela qual Munique é considerada a cidade mais ao norte da Itália.
A foto do brinde é mesmo assustadora. Joaquim parece estar segurando uma caneca de cerveja com a gente. Então, é totalmente compreensível o olhar de reprovação dirigido a nós pelo senhor da mesa ao lado durante nossa refeição na Hofbräuhaus da Alemanha, restaurante da famosa cervejaria de Munique. Como assim dar bebida alcoólica para uma criança de 5 anos? O líquido do copo do nosso filho era tão igual aos nossos, com espuma e tudo, que tanto Fernando quanto eu tivemos de experimentar para tirar a prova. O sabor doce da maçã não deixava dúvida: era suco.
Fomos à Hofbräuhaus para provar as especialidades (de copo e de prato) e para entender por que o restaurante faz um sucesso danado entre tantas boas possibilidades que o visitante encontra para comer na capital da Baviera. Basta uma refeição lá, e tudo fica muito fácil. A comida é boa, mas o que se leva vai bem além. A atmosfera de taberna, os trajes bávaros dos atendentes, os canecões de cerveja, a bandinha típica de música alemã, enfim, o clima de Oktoberfest permanente em plena cidade.
O que faz todo sentido quando se lê sobre a história da cervejaria Hofbräu, ou simplesmente HB, e sobre o começo da conhecida festa de Munique. Como cerveja oficial dos governantes da Baviera, ela foi servida no casamento do príncipe Ludwig (mais tarde, rei Ludwig I) com a princesa Therese de Saxônia-Hildburghausen — leia mais sobre o roteiro que fizemos na cidade de Munique passando por pontos turísticos ligados à realeza, como a Residência (Residenz), Englischer Garten e Viktualienmarkt, atrações ligadas à dinastia de Wittelsbach, que dominou a Baviera por mais de 7 séculos.
Cervejaria de Munique: a tradicional HofBräuhaus
A Hofbräus é uma instituição da cidade, literalmente. Foi fundada em 1589 sob o governo do duque Wilhelm V, que gostava de cerveja, mas não estava contente com a que era produzida em Munique. Até hoje a marca pertence ao estado da Baviera, juntamente com a Weihenstephan, da cidade de Freising, que se proclama a mais antiga cervejaria do mundo, com produção desde o século 8, na abadia estabelecida lá por monges beneditinos.
Prédio histórico da Hofbräuhaus
Como é a Hofbräuhaus, cervejaria de Munique
Sob o teto pintado, com desenhos de carnes e vegetais e quadriculados da bandeira da Baviera, até 1.300 pessoas podem se sentar para provar cervejas e pratos típicos. Ou ainda pretzel — na Alemanha, chamado de brezel — e Lebkuchenherzen, biscoitos em formato de coração muito populares em festas do país, como a Oktoberfest de Munique e as feiras de Natal pelas cidades da Alemanha. Um rapaz passa com um grande cesto na mão vendendo as duas guloseimas clássicas do país.
Bretzel para beliscar com cerveja alemã
Alimentam a alma os músicos do palco no centro do salão. Todo dia tem banda típica alemã. Nos fins de semana, outros grupos também se apresentam no restaurante. Os músicos não estavam tocando quando chegamos, mas nós curtimos sentir depois a atmosfera regional toda composta. Já o pequeno Joaquim, que adora música, estranhou o volume. Gostou mesmo foi de se distrair desenhando e rabiscando suas primeiras frases no ‘kit-arte’, que carregamos para ele se entreter se quiser. Com 5 anos, ele tinha acabado de aprender a ler e ensaiava começar a escrever.
Essa área onde ficam as mesas é a Schwemme, espaço onde anteriormente a bebida era fabricada. O prédio onde o restaurante está instalado hoje foi construído para abrigar a fabricação de cerveja de trigo, ordenada pelo duque Maximilian I, em 1607. Desde sua fundação, em 1589, a HB funcionava na casa real, a alguns metros da localização atual.
Que cardápio bonito, e ainda conta a história
Metade dos clientes diários do restaurante são frequentadores assíduos. Ainda hoje é mantida a tradição de terem lugar reservado. Algumas mesas estão lá desde 1897. Um grupo de policiais aposentados, por exemplo, bate ponto a cada primeira terça do mês. O rei Ludwig costumava ir à Hofbäuhaus diariamente, informa o site do restaurante, que mantém uma lista com os clientes frequentes. Todos, diz o texto, vão em busca do Gemütlichkeit, o aconchego, que o lugar oferece.
A Hofbräuhaus tem ainda um biergarten para até 400 pessoas. Atenção: é perigoso deixar para visitar a lojinha na saída. Depois de alguns canecos, pode ser ainda mais tentador levar vários produtos, como copos e abridores, para me ater ao tema.
O que comer e beber no restaurante
Durante nossa visita à Hofbräuhaus, Fernando pediu um caneco padrão (com de 1 l de cerveja!) da versão original. Eu fiquei com a de trigo (wiesse), minha preferida. Mas ironicamente eu não estava conseguindo tomar muita cerveja naquele período — logo na minha 1ª visita à Munique… Então tive de deixar boa parte do meu copo. Coube ao meu marido o ‘sacrifício’ de terminar com a dele e com a minha. Pela foto, parece que não houve sofrimento, né?
De trigo (à direita) ou não? Fernando não chegou à conclusão
Para combinar com a degustação, escolhemos salsichas com sauerkraut (chucrute) e schnitzel (milanesa de vitela) com batata. A dobradinha de pedidos nos acompanhou durante a viagem em família à Alemanha. Por mais que a gente se alimente da culinária alemã, parece que nunca chega ao ponto de enjoar.
Especialidade regional, a weisswurst também está no cardápio, bem bonito, aliás, com sua capa desenhada. A salsicha branca começa a ser preparada na casa às 4 horas da manhã, como manda o costume de comer a iguaria, feita de vitela com toucinho de porco, sempre fresquinha. De acordo com a Hofbräuhaus, se fossem enfileiradas todas as unidades de weisswurst que o restaurante vende durante um ano, a extensão chegaria a 20 km. É da série curiosidade de almanaque, mas dá a medida (nesse caso, de fato) da popularidade do prato bávaro.
Os números grandiosos são uma constante na história da cerveja em Munique. Durante a Oktoberfest, a HB serviu cerca de 780 l de cerveja, 70 porções de meio frango e 6.300 pares de salsichas.
Por sua história e pela fama mundial, a HB é uma espécie de representante da cultura da cerveja de Munique no exterior. Conhecida internacionalmente, abriu filiais em outras cidades alemãs e em outros países, incluindo o Brasil. Desde 2015, existe uma Hofbräuhaus em Belo Horizonte — ou seja, é para ontem marcarmos uma ida à capital mineira para matar a saudade dos copões. Assim como o duque Wilhelm V, muita gente quer ter cerveja de qualidade por perto.
VALE SABER
Endereço: Platzl 9, Munique — fica perto da Marienplatz
Se você não conhece a Marienplatz ou é porque nunca botou os pés em Munique ou é porque esteve na terceira maior cidade da Alemanha apenas em conexão. É praticamente impossível visitar a capital da Baviera e não passar pela sala de visitas de Munique, assim definida pelo órgão oficial de turismo alemão. Primeiro, porque ela fica no centro da cidade. E, por essa razão, concentra grandes eventos e manifestações, das políticas às esportivas (o elenco do Bayern sempre faz uma escala na sacada da prefeitura de Munique para festejar seus títulos e mostrar a taça a seus torcedores, que praticamente pintam a praça de vermelho com bandeiras e camisas).
A multidão também lota a Marienplatz no Fasching (Carnaval celebrado desde a Idade Média e que, a exemplo da nossa festa, também precede a Quaresma). Por lá, o esquenta começa sob o frio do outono, mais precisamente às 11h11 de 11 de novembro (11/11). Há desfiles pelas ruas da cidade, animados bailes de salão e até a escolha de um casal real oficial da festa, cuja a data de encerramento coincide com a terça-feira da nossa folia. Nem as baixas temperaturas esvaziam a Marienplatz, onde muitos turistas e moradores curtem as delícias do famoso mercado de Natal durante o período do Advento, a contagem regressiva para o dia 24 de dezembro (o mercado funciona até essa data).
Como é a principal praça de Munique
A área ocupada pela Marienplatz existe desde 1158. Lá funcionava o mercado local (Schrannenplatz, algo como praça dos grãos numa tradução livre do alemão). Em 1638, uma estátua erguida em homenagem à Virgem Maria foi inaugurada — promessa cumprida pelo rei Maximilian I, que temia ver a cidade ser invadida e saqueada pelo exército sueco durante a Guerra dos 30 anos, conflito entre católicos e protestantes. A praça só passou a ser chamada pelo nome da padroeira da Baviera tempos depois, mais precisamente em 1854.
A coluna com a imagem em bronze fica no centro da Marienplatz, em frente ao prédio da Neues Rathaus (Nova Prefeitura). O edifício neogótico que abriga a torre do relógio se estende por grande parte da lateral da praça. A construção fica a 200 metros da Altes Rathaus, antiga sede do poder municipal e outra atração a ser vista.
Prédios embelezam a principal praça de Munique – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Hospedar-se nos hotéis da região é certeza de cruzar a praça em algum momento da viagem. Utilizar-se do sistema de transporte público também. Pela estação Marienplatz passam trens e metrô rumo a várias partes da cidade, o que a transforma em ponto de encontro de pessoas. Dela também saem ônibus com destino aos principais pontos turísticos. Para comprar passes de transporte e de atrações, há um posto de informação turística debaixo da Neues Rathaus, de frente para a praça.
O que ver na Marienplatz
Durante a viagem que fizemos pela Alemanha, Nathalia, Joaquim e eu ficamos hospedados no hotel Bayerischer Hof, a uns 500 metros da Marienplatz. Não é preciso dizer quantas vezes cruzamos a praça, fosse para matar a fome, fazer compras ou usar o transporte público. Acontece que o nosso filho se apaixonou pela dança dos bonecos da torre do relógio (Glockenspiel). Sempre queria ver a apresentação que ocorre ao menos 2 vezes por dia.
Toda vez que falávamos da programação do dia seguinte pela cidade, Joaquim dava um jeito de participar da conversa e dizer: ‘Já sei, a gente sai do hotel, entra naquela praça (aquela que tem o relógio, sabe?) e vê os bonequinhos, que tal? Boa ideia né, papai e mamãe?’
Espetáculo dos bonecos na torre do relógio da Neues Rathaus – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
E é realmente bacana. Se encanta adultos, por que não pode fazer a alegria de um menininho, né? O teatro de bonecos lembra uma caixinha de música. Embalada por 43 sinos movidos a energia solar, ela reproduz duas cenas: uma disputa de cavaleiros ocorrida na Marienplatz em 1568, durante o casamento do duque da Baviera Wilhelm V com Renée de Lorraine; e a Schäffler-Tänzer, animada dança que celebra o fim da peste negra na Europa, até hoje realizada a cada 7 anos em Munique (a próxima edição será em 2019). O ritual todo dura uns 10 minutos, tempo em que turistas erguem braços e pescoços na direção da torre para registrar com câmeras e celulares a apresentação.
Se você não ficar com torcicolo depois de ver a dança dos bonecos, suba à torre da nova prefeitura. Pegue o elevador e complete o trecho final por uma escada. Do alto é possível avistar Munique e perceber como as principais atrações não estão assim tão distantes umas das outras (sou paulistano, vivo numa megalópole onde os pontos turísticos não ficam muito próximos nem quando olhados de luneta!).
Para ver a cidade do alto, – Foto: Nathalia Molina @ComoViajaDiversão em família na visita à torre da prefeitura – Foto: Fernando Victorino @ComoViaja
Munique é ainda mais bonita a 85 metros do chão, o que não chega a ser uma altura muito grande, se comparada a de outros observatórios mundo afora. Como as edificações baixas prevalecem, os telhados estão quase todos no mesmo nível, deixando a linha do horizonte praticamente desimpedida.
Apesar de o dia estar nublado, nós conseguimos enxergar do Englischer Garten ao Residenz, passando por 3 igrejas da cidade: a Fräuenkirche (Catedral de Nossa Senhora) e seu icônico par de torres, a Theatinerkirche (Igreja dos Teatinos, onde se encontram enterrados os reis da Baviera) e a Alter Peter (Igreja de São Pedro, a mais antiga de Munique). A identificação de todos os pontos foi possível graças à placa de acrílico que fica no pequeno muro ao redor do terraço e que mostra a silhueta dessas construções. Achar a torre de TV do parque olímpico (Olympiazentrum) e a Allianz Arena foi tarefa bem mais amena. Ambas as estruturas são muito peculiares.
Como se já não bastasse Joaquim ter ficado fascinado com os bonecos da torre, nosso filho ainda vidrou no que viu no Spielzeugmuseum (Museu do Brinquedo), que ocupa 5 andares do Altes Rathaus, sede da antiga prefeitura. Paga-se bem pouquinho para visitar as vitrines cheias de velhos modelos de carrinhos, trens, soldados e bonecas que fizeram a alegria de meninas e meninos alemães.
Onde comer e fazer compras na praça
Passados mais de 850 anos de seu surgimento, a Marienplatz não perdeu sua vocação de centro do comércio de Munique. Os carros não circulam na praça desde a sua transformação numa área exclusiva para pedestres, entre os anos 1960 e 1970. O grande calçadão facilita a vida de quem quer dar uma espiadinha nas vitrines das lojas segmentadas.
Ainda é possível fazer boas compras na própria Marienplatz e nas ruas que desembocam nela, como Kaufingerstrasse, Rindermarkt, Rosenstrasse, Weinstrasse, Tal e Dienerstrasse — você encontra de desde grandes grifes até lojas de varejo, passando ainda por casas que vendem artigos específicos, como guarda-chuvas e luvas, por exemplo. Meninos e marmanjos que gostam de camisas de time de futebol têm à disposição três grandes lojas de esportes: Sport Scheck, Schuster e Sport Münzinger.
Galeria Kufhof: loja de departamento alemã
Presente em toda a Alemanha, a Galeria Kaufhof salva a pele de quem quer comprar comida em seu supermercado, almoçar no restaurante no alto do prédio (provamos e aprovamos a comida) ou encontrar tudo o que uma grande loja de departamentos tem a oferecer. E nós fomos a várias unidades durante nossa viagem em família à Alemanha. Em Munique, vale ver a seção de souvenir. A Kaufhof vende também lembrancinhas do Bayern, além de camisetas do time.
A propósito, Bayern e Munique 1860 possuem lojas oficiais quase vizinhas, na Orlandostrasse. Só não cometa a imprudência de gritar o nome do time rival quando estiver numa ou noutra. Joaquim não gostou de nada do 1860 e ainda soltou um “Bayeeeerrrrn” enquanto o papai aqui pagava pelos artigos relacionados ao lado azul da cidade. Tudo bem, traquinagem de criança. Mas o vendedor nos olhou com cara não muito amistosa.
Sorvete para aplacar o calor
A Marienplatz também atrai visitantes para beber ou comer algo nos cafés e restaurantes. Há os que ficam de frente para a praça e muitos outros nas ruas do entorno, alguns deles com mesas estendidas na calçada. E não estamos falando só de casas que servem especialidades locais. Se deseja radicalizar e encarar um sushi, tem onde comer. Não quer perder tempo e só mandar para dentro uma fatia de pizza? Tem também. Para o Joaquim, uma volta na Marienplatz nunca era completa sem uma paradinha para um sorvete de baunilha na Richart, rede de padarias de Munique.
Em uma de nossa incursões pelo centro, almoçamos uma típica refeição alemã (com muita carne de porco e batata) no Zum Spöckmeier, na Rosenstrasse. Além dos pratos gostosos e da cerveja boa (a casa fundada em 1450 serve a local Paulaner), o garçom que nos atendeu foi um dos mais divertidos da nossa viagem à Alemanha. Para mim, ele era a cara do técnico Carlo Ancelotti, atual treinador do Bayern. Gentil, ele sempre dava um jeito de fazer graça conosco com os demais fregueses.
Restaurante em Munique perto da Marienplatz: Zum Spöckmeier
Foi um almoço ao ar livre super agradável. Ao nosso lado, o movimento era intenso na rua de pedestres. E não poderia ser diferente. Afinal, ali pertinho, na Marienplatz, é onde tudo acontece em Munique.
Enquanto grande parte do território da atual Alemanha encampava as ideias de Martinho Lutero no século 16, a Casa de Wittelsbach resistiu à Reforma Protestante e manteve a Baviera oficialmente um território católico. Ao longo dos séculos, a religião marcou Munique, deixando belas construções pela cidade. Conheça 3 igrejas que você pode botar na lista para ver:
1 > FRAUENKIRCHE, CATEDRAL E SÍMBOLO DE MUNIQUE
Fotos: Nathalia Molina/Divulgação
Com suas paredes de tijolos e um par de torres que se destacam na paisagem da cidade, a Frauenkirche (Catedral de Nossa Senhora) é um dos símbolos da capital da Baviera. Localizada próxima à Marienplatz, foi erguida em incríveis 20 anos (1468 a 1488), se consideradas as possibilidades de construção durante o século 15. De estilo gótico tardio, a obra foi assinada por Jörg von Halsbach, arquiteto responsável também pela construção da Altes Rathaus, a velha prefeitura.
As torres da catedral têm quase 100 metros de altura e possuem uma cobertura verde que remete ao Domo da Rocha, de Jerusalém. A cobertura só foi colocada 35 anos depois de a igreja ser concluída, devido à falta de dinheiro.
Em 2004, um referendo instituiu que nenhum edifício pode ser construído no centro velho de Munique acima da altura das torres. A medida beneficiou os visitantes que sobem ao topo da torre sul para admirar a cidade sem que a visão da paisagem seja comprometida — por causa de uma obra, a torre se encontra fechada no momento.
No interior da igreja, destacam-se o magnífico órgão principal (tocado aos domingos e em ocasiões especiais), o mausoléu do Rei Ludwig I (situado à direita da entrada, ricamente decorado) e a famosa pegada do diabo, uma única marca de pé no piso da catedral e atribuída ao demônio. Diz a lenda que o diabo teria tentado destruir a igreja depois de fazer uma aposta com o construtor dela. Não conseguiu porque foi atingido por um raio de luz ao tentar dar um segundo passo.
VALE SABER
Endereço: Frauenplatz, 1, Munique
Funcionamento: A igreja pode ser visitada diariamente, das 7h30 às 20 horas — no verão, até 20h30.
De maio a setembro, há tours guiados às terças, às quintas e aos domingos. No inverno, é feita 1 vez por mês, sempre na quinta — próximas datas previstas: 8 de dezembro, 12 de janeiro, 9 de fevereiro, 2 de março e 6 de abril.
FRAUENKIRCHE – Foto: Natalia Michalska/Turismo da Alemanha/Divulgação
2 > ALTER PETER (E A TORRE DA IGREJA COM VISTA)
ALTER PETER VISTA EM VIELA DA CIDADE
Se você já viu fotos do alto da Neues Rathaus (nova prefeitura) e da Marienplatz (principal praça da cidade), muito provavelmente as imagens foram captadas a partir da Alter Peter Kirche (Igreja de São Pedro). A mais antiga paróquia de Munique está localizada atrás de sua famosa praça e tem uma torre com vista para um dos melhores visuais da capital da Baviera.
Para subir ao mirante, que fica a 91 metros de altura, é preciso superar em torno de 300 degraus da escada. Esse caminho inclui a passagem pelos 8 sinos, dos quais o menor é também o mais velho. Além dos telhados, vê-se de um ângulo privilegiado as icônicas torres da Frauenkirche e tudo mais o que um dia sem nuvens permitir.
A Alter Peter remonta ao século 12 e ao longo de mais de 800 anos passou por modificações até atingir sua configuração atual — a última reforma teve início após a destruição provocada pela Segunda Guerra e foi concluída em 2000.
Se a pegada do diabo presente no piso da Frauenkirche não te impressionar, então dá para ver sem medo o relicário barroco dedicado a São Mundita. Trazido de Roma em 1675, o esqueleto do padroeiro das solteironas é todo ornado com pedras preciosas e fica dentro de uma caixa envidraçada, do lado direito do altar da igreja.
VALE SABER
Endereço: Rindermarkt, 1, Munique
Funcionamento: No verão, de julho a setembro, é possível subir na torre de segunda a sexta, das 9 horas às 19h30 — de março a junho e em outubro, apenas até as 18h30; no inverno, somente até as 17h30.
Durante o ano inteiro, aos sábados, domingos e feriados, o acesso começa 1 hora mais tarde e termina no horário determinado para a época do ano.
Preço: A subida à torre sai por 3 euros — entre 6 e 18 anos, 1 euro; até 5 anos, grátis
3 > THEATINERKIRCHE, A BARROCA COM O TÚMULO DOS REIS
TORRE DA THEATINERKIRCHE
Uma das principais atrações da Odeonplatz, a Theatinerkirche (Igreja dos Teatinos ou de São Caetano) pode ser vista de longe de vários pontos da Munique por conta de sua inconfundível e reluzente cor amarela. De estilo barroco, a igreja foi erguida a partir 1663 em cumprimento a uma promessa feita pelo duque Ferdinand Maria e sua mulher, a italiana Enrichetta Adelaide Maria di Savoia, após o aguardado nascimento do filho, Maximilian Emanuel, que veio a se tornar eleitor da Baviera.
Foto: Werner Boehm/Divulgação
O arquiteto italiano Agostino Barelli iniciou a construção, sendo sucedido pelo suíço Enrico Zucall, que idealizou as torres laterais. A fachada permaneceu inacabada por cerca de 100 anos até ser concluída por François de Cuvilliés, arquiteto responsável por levar o estilo rococó ao reino dos Wittelsbach, especialmente ao Residenz e ao palácio de Nymphenburg.
Até 2018, toda a área externa da Igreja de São Caetano passa por reforma. Do lado de dentro, prevalece o branco em sua decoração, com estuques e coluna de elementos coríntios. Na pequena capela fica o túmulo onde foram enterrados 49 membros da dinastia dos Wittelsbach, entre eles, o primeiro rei da Baveira, Maximilian Joseph I.
VALE SABER
Endereço: Theatinerstrasse, 22, Munique
Funcionamento: As visitas ao mausoléu dos Wittelsbach só é permitida entre 1º de maio e 2 de novembro, das 10 horas às 13h30 e das 14 horas às 16h30.
É muito fácil gostar de Munique. As tradições alemães, que deram fama ao país pelo mundo, estão todas lá. A cerveja deliciosa e seu jardim para bebê-la (biergarten), os tradicionais biscoitos de gengibre em formato de coração (lebkuchen), as áreas verdes e bem cuidadas (o gigante Englischer Garten), a Marienplatz com o centro histórico preservado (ali também reconstruído com precisão após a guerra), a comida alemã e suas apetitosas salsichas. Munique tem todos os pontos turísticos e atrativos de uma Alemanha típica, mas junta a isso características que a diferenciam do todo.
A concentração de velhas igrejas, as vitrines com trajes bávaros (ainda hoje usados), os prédios antigos de paredes pintadas, as festas seculares, as imponentes construções (de estilos arquitetônicos variados). Embora a cidade seja para brasileiros praticamente sinônimo de intermináveis canecos de cerveja na Oktoberfest Alemanha e do bem sucedido Bayern de Munique, time de futebol local, a reunião de beleza histórica e natural com costumes vivos dá à capital da Baviera um permanente ar de nobreza e tradição.
Ainda que o reino da Baviera tenha se estendido apenas de 1806 a 1918, uma única família dominou a região desde 1180. É a mais longa dinastia germânica a permanecer no poder na história da Alemanha. Como duques, depois na forma de eleitores e, posteriormente, como reis de fato, os Wittelsbach mandaram erguer boa parte do que se vê durante uma viagem à cidade do sul da Alemanha. Tirando a região do Parque Olímpico e o complexo da Allianz Arena (estádio do Bayern), os pontos turísticos de Munique são a própria Munique da realeza.
Brasão dos Wittlesbach, na residência dos reis em Munique – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
É o nome desses governantes da dinastia de Wittelsbach que você ouve falar durante sua visita a Munique. Mas quem é aquela gente toda? Ludwig II, o rei do Schloss Neuschwanstein — castelo da Cinderela na Alemanha, o exemplar legítimo, que teria inspirado Walt Disney a criar o da princesa dos contos de fada — até é fácil de reconhecer. Mas e os outros tantos nomes que aparecem nas visitas a atrações? Tudo fica bem mais palpável e divertido se você conhece esses personagens, cujo último representante foi Ludwig III. Até a saída dele do trono, em 1918, a presença dos Wittelsbach no poder ajudou a construir fisicamente a cidade que você vê hoje.
Até o maior patrimônio imaterial de Munique se deve à nobreza. Integrantes da casa de Wittelsbach foram responsáveis pela existência da Reinheitsgebot (lei da pureza da cerveja alemã, que já passa dos 500 anos de existência), pela fundação da Hofbräuhaus (cervejaria hoje internacionalmente conhecida) e pelo surgimento da Oktoberfest Alemanha (a mais emblemática festa da cidade e até do país). Em todo o território alemão, há em torno de 5.000 cervejas distintas, fabricadas em cerca de 1.300 cervejarias. Quase metade delas está na Baviera.
Cervejaria de Munique: a tradicional HofBräuhaus – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Também é muito interessante ver como Munique pode ser uma cidade moderna — evidente nas linhas arrojadas como as do BMW Museum (museu da luxuosa montadora) e nos vários pontos gratuitos de wifi — sem perder a conexão com suas tradições.
A cada 7 anos, é repetida a Münchner Schäffler-Tänzer, dança surgida após a praga de 1517 — a próxima edição será em 2026. O Fasching, Carnaval de Munique, ainda anima a cidade todo inverno, desde 1839. A festa começa às 11h11 de 11 de novembro (11/11) e segue até a data que coincide com a nossa folia. No encerramento, ocorre a lendária Tanz der Marktfrauen, a dança das mercadoras, realizada no Viktualienmarkt, o secular mercado de produtos alimentícios. O Münicher Christkindlmarkt, mercado de Natal, ilumina a Marienplatz, praça central da cidade, até 24 de dezembro.
Mercado de Natal de Munique – Foto: Joachim Messerschmidt/German National Tourist Board/Divulgação
Traçando uma espécie de linha do tempo pela história de Munique, conhecemos importantes personagens, festas centenárias e atrações turísticas erguidas em sua época. Então, vamos embarcar juntos nessa viagem pelo tempo e pelos principais pontos da capital da Baviera?
Duque Heinrich der Löwe: fundação de Munique e Marienplatz
A história de Munique começa com a Rota do Sal, caminho que levava a mercadoria da alemã Augsburg até a cidade de Salzburg, na Áustria. Heinrich der Löwe (Henrique, o Leão) disputou o poder com o bispo Otto von Freising, que controlava o pedágio sobre o Isar, rio da Baviera por onde passava o trajeto do comércio de sal. Dessa briga pelo comando nasceu Munique, fundada em 14 de junho de 1158. O documento assinado por Friedrich I (Frederico Barbarossa) — imperador do Sacro Império Romano-Germânico, que teve de resolver o conflito de família entre seu primo Heinrich e seu tio Otto — se encontra no Bayerisches Hauptstaatsarchiv, o arquivo do estado da Baviera.
A ponte construída por Heinrich der Löwe ficava perto de um área ocupada por monges beneditinos, conhecida como zu den Mönchen — em alemão, algo como lugar dos monges. Assim surgiu o povoado cujo nome acabou se transformando em München, como se chama Munique no idioma nacional.
Marienplatz, principal praça de Munique, vista do alto – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
A Marienplatz, principal praça da cidade, é dessa época, embora ainda não tivesse recebido esse nome. O espaço, praticamente do mesmo tamanho do atual, funcionava como um mercado ao ar livre. A praça só ganhou importância ao longo dos anos e segue como o centro da cidade de fato, por onde passam as principais linhas de transporte e onde começam algumas das mais importantes ruas de Munique, como Kaufingerstrasse, Rindermarkt, Rosenstrasse, Weinstrasse, Tal e Dienerstrasse.
O mercado não funciona mais lá, mas a Marienplatz continua sendo o ponto de encontro para festas populares e comemorações — até os jogadores do Bayern festejam seus campeonatos lá com os torcedores.
Duque Otto I: os Wittelsbach chegam ao poder
Por negar ajuda a Frederico Barbarossa em campanhas de conquista de território na Itália, Heinrich der Löwe foi punido pelo imperador com a perda de seus títulos de nobreza. Barbarossa, então, concedeu ao amigo Otto von Wittelsbach o comando do ducado da Baviera em 1180, com exceção de Munique, que voltou ao controle do bispo de Freising. A cidade só chegou às mãos dos Wittelsbach em 1240, quando a Baviera estava sob as ordens de Otto II.
Cavaleiros no novo prédio da prefeitura – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Duque Ludwig IV: nova muralha e seus portões
Apesar de comandar a Baviera por mais de 7 séculos, os Wittelsbach brigaram entre si pelo poder, razão pela qual a região foi dividida em mais de um ducado algumas vezes. Ludwig IV comandou de 1294 a 1347, com diferentes postos, acumulando de 1328 em diante o título de imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Conhecido como Ludwig der Bayer (Luís, o Bávaro), ele foi o mais famoso morador do antigo edifício-sede da corte, o Alter Hof.
Devido ao crescimento da cidade, Ludwig IV mandou ergueu uma nova muralha para proteger Munique, pois a fortificação medieval já não acomodava mais a expansão urbanística. Dos 4 portões da antiga muralha, 3 estão de pé: Isartor, Karlstor e Sendlinger Tor.
Portão da antiga muralha de Munique: Isartor – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Duque Stephan III: início do Residenz
Uma das maiores atrações turísticas de Munique, o Residenz surge nesse período. Foi Stephan III, que governou a Baviera de 1375 a 1392, quem deu início à construção de uma nova sede para o governo, em 1385. O Neuveste, embrião do que se tornaria atualmente a construção, foi demolido no século 19, numa das muitas ampliações que o tornariam um majestoso palácio.
Duque Sigismund: construção da Frauenkirche
Em 1468, um ano depois de assumir o ducado da Baviera-Munique, Sigismund lançou a pedra fundamental para a construção da Frauenkirche. A Catedral de Nossa Senhora, padroeira de Munique, levou 20 anos para ficar pronta e abriga o túmulo do próprio Sigismund, à frente da Baviera entre 1467 e 1508. Inicialmente erguida em estilo gótico-tardio, sofreu reconstruções e ampliações ao longo da história. O par de torres se tornou um ícone da cidade alemã.
Frauenkirche, igreja de Munique -Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
O duque também ordenou que o Alter Hof passasse por reformulações, inaugurando sua característica pintura em losangos.
Duque Wilhelm IV: transferência da corte para o Residenz
Depois de 265 anos de cisões e junções territoriais, a Baviera uniu-se definitivamente em 1505, sob o ducado de Albrecht IV. Seu filho e sucessor, Wilhelm IV, decidiu transferir a corte do Alter Hof para o Residenz logo que assumiu o comando da Baviera, em 1508. O palácio passou a ser sede oficial do poder e residência dos governantes até 1918, com fim do reinado.
O duque Wilhelm IV também entrou para a história por ter promulgado a Reinheitsgebot, em 23 de abril de 1516. Embora ainda não fosse chamada assim, a lei da pureza da cerveja alemã ficou registrada nessa data.
Duque Albrecht V: o salão mais bonito do Residenz
O salão mais imponente de todo o Residenz foi construído sob o governo de Albrecht V, entre 1568 e 1571, numa primeira expansão do Neuveste. Apreciador de antiguidades, o duque mandou erguer uma grande sala, o Antiquarium, para expor sua coleção de esculturas. Mais tarde, no governo de seu filho Wilhelm V, o hall de 66 metros de comprimento passou a ser usado como salão de baile e de banquetes. É, sem dúvida, o mais impressionante espaço de toda a visita ao antigo palácio.
Residenz, antiga residência dos reis bávaros, e seu Antiquarium – Foto: Nathalia Molina
Também graças a Albrecht V existe uma das partes mais reluzentes do Residenz: o Schatzkammer, setor onde está exposto todo o tesouro da Casa de Wittelsbach. Em testamento, o duque deixou o pedido de que a riqueza acumulada pela família permanecesse com seus descendentes.
Duque Wilhelm V: Hofbräuhaus, a cervejaria de Munique
O duque Wilhelm V apreciava uma boa cerveja e não gostava da que era produzida em Munique. Mandava importar de Einbeck, na Baixa Saxônia. Ele governou a Baviera por 18 anos, de 1579 a 1597. O suficiente para deixar um dos maiores patrimônios da cidade: a cervejaria Hofbräuhaus, que mantém um famoso restaurante no centro antigo. O espaço de fabricação própria nasceu em 27 de setembro de 1589.
A Hofbräu, bebida produzida pela casa (o haus, em alemão, que é incluído depois do nome da marca), demonstra já no rótulo sua vocação real: uma coroa dourada repousa sobre as iniciais HB.
Eleitor Maximilian I: Hofgarten e estátua da Virgem Maria
Entre 1618 e 1648, a Europa foi sacudida por conflitos entre católicos e protestantes. O duque Maximilian I fez uma promessa para que Munique não fosse invadida durante a Guerra dos Trinta Anos. Em agradecimento ao pedido atendido, mandou erguer a coluna da Virgem Maria na principal praça da cidade. Desde 1638, o monumento é um dos símbolos da Marienplatz (em alemão, Praça de Maria), que foi batizada assim muito tempo depois, já no século 19. Em 1623, a fidelidade à Igreja Católica rendeu a Maximilian I, duque da Baviera desde 1597, a elevação ao posto de eleitor, com direito a voto para escolher o imperador do Sacro Império Romano-Germânico.
Uma versão curiosa da história diz que a proteção durante a guerra se deve na verdade à boa bock produzida em Munique. Segundo texto publicado no site da cervejaria, 362 baldes da bebida fabricada pela Höfbräuhaus teriam sido dados ao exército sueco, que terminou por se render à cerveja da paz.
Hofgarten, um dos jardins de Munique – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Fato mesmo é que, durante o governo de Maximilian I, príncipe-eleitor da Baviera até 1651, Munique viu a mais expressiva expansão do Residenz, com a construção de muitas das alas que dão ao palácio à magnitude atual. Vizinho à construção, também foi criado em 1613 o Hofgarten, belo jardim real de linhas geométricas.
Eleitor Ferdinand Maria: Theatinerkirche e Schloss Nymphenburg
O catolicismo é muito presente na história (e segue ainda na vida) de Munique. Além da coluna da Virgem Maria na Marienplatz, importantes edifícios da cidade foram erguidos por governantes bávaros para demonstrar sua fé.
Coluna da Virgem Maria e torre da igreja Alter Peter – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Agradecidos pelo nascimento do tão esperado filho, após uns 10 anos de casamento, o eleitor Ferdinand Maria e sua mulher, a italiana Enrichetta Adelaide Maria di Savoia, mandaram erguer, a partir de 1663, um mosteiro e a Theatinerkirche, para a ordem dos Teatinos ou de São Caetano. Nessa igreja amarela da Odeonplatz, praça em frente ao Residenz, estão enterrados muitos dos membros da dinastia Wittelsbach, incluindo o primeiro rei da Baviera, Maximilian Joseph I.
A devoção do casal não parou por aí. Eleitor da Baviera entre 1651 e 1679, Ferdinand Maria ordenou, em 1664, a construção do Schloss Nymphenburg, palácio de verão, também em gratidão pelo filho, Maximilian Emanuel II, nascido 2 anos antes.
Eleitor Maximilian Emanuel II: expansão de Nymphenburg
Como eleitor, no poder da Baviera entre 1679 e 1726, o palácio de verão tomou sua forma grandiosa. Ao edifício central, em 1701, foram adicionados 2 pavilhões simétricos, um de cada lado. A maior expansão do Nymphenburg começou 14 anos depois, com a reconstrução da parte central do palácio, a rica decoração de diversos cômodos e a reformulação da área externa, ampliada até o presente tamanho.
Palácio de Nymphenburg – Foto: Bernd Roemmelt/Turismo da Alemanha/Divulgação
Outro feito de Maximilian Emanuel II foi ter comprado 12 quadros que, mais tarde, vieram a ser as primeiras pinturas da Alte Pinakothek, a antiga pinacoteca da cidade.
Eleitor Karl Albrecht: Ahnengalerie e Amalienburg
Ao visitar o Residenz, não deixe de ver a Ahnengalerie (Galeria Ancestral), sala com pinturas de todos os membros da dinastia Wittelsbach. A execução da obra, que mostra as conexões da família que dominou a Baviera por mais de 7 séculos, foi a primeira medida adotada por Karl Albrecht assim que chegou ao poder, em 1726.
Ahnengalerie, a galeria dos antepassados – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Em continuidade ao legado de seu pai no Nymphenburg, Karl Albrecht ordenou a construção de uma sala de caça anexa ao palácio principal. O projeto levou 4 anos para ser concluído. Ápice do estilo rococó em Munique, o palacete Amalienburg foi um presente dado pelo governante à esposa, Maria Amalia, da Áustria.
Eleitor Maximilian Joseph III: Cuvilliés-Theater e animais do Tierpark
A tradição da ópera italiana já existia na corte bávara desde o eleitor Ferdinand Maria, casado com Enrichetta Adelaide Maria di Savoia, nascida na Itália. Mas foi Maximiliam Joseph III quem mandou erguer no Residenz um teatro para essa expressão artística, 6 anos após assumir o controle da Baviera, em 1745. No Cuvilliés-Theater, Wolfgang Amadeus Mozart estreou algumas de suas grandes óperas, como La Finta Giardiniera.
Teatro Cuvulliés no Residenz – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Até deixar o posto de eleitor, em 1777, Maximilian III também começou a colecionar animais exóticos no Nymphenburg. Foram eles que deram origem ao conjunto visto no Tierpark Hellabrunn, zoológico de Munique, aberto e assim batizado apenas em 1911.
Zoológico de Munique, o Hellabrun- Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Eleitor Karl Theodor: Englischer Garten, o parque do povo
Originário de uma ramificação dos Wittelsbach, Karl Theodor comandou a Baviera entre 1777 e 1799. Não foi o mais popular dos líderes, mas curiosamente foi quem deixou um dos maiores legados públicos de Munique: o Englischer Garten. O Jardim Inglês ganhou esse nome por não seguir o estilo geometrizado do paisagismo francês, mas por respeitar as formas da natureza. Trata-se de um dos maiores parques urbanos do mundo, a grande área de lazer dos habitantes de Munique desde 1789.
Englischer Garten, com parquinhos para crianças – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
A exemplo de seu antecessor, Maximilian Joseph III, a ópera também estava entre as paixões de Karl Theodor, que encomendou uma a Mozart . Em 1781, o compositor estreou Idomeneo no Cuvilliés.
Rei Maximilian I: Viktualienmarkt e Nationaltheater
A Baviera virou um reino em 1806. Após a aliança formada com Napoleão Bonaparte, que buscava expandir seus domínios sobre a Europa, o eleitor Maximilian Joseph IV trocou de posto e de nome. Passou a se chamar rei Maximilian I, permanecendo no trono até a morte, em 1825.
Ainda como eleitor, ele decretou que o mercado de alimentos se transferisse da Marienplatz para a região onde hoje está o Viktualienmarkt, área de Munique com bancas de produtos frescos e delicioso biergarten.
Viktualienmarkt e suas barracas de comida – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Na condição de rei, Maximilian promoveu modificações no Residenz e no Nymphenburg. A mais significativa delas foi a transformação do estilo barroco francês dos jardins do palácio de verão, incorporando a eles trechos em que prevalecem formas naturais, ao gosto inglês, sem traços geométricos.
Também foi Maximilian I quem mandou erguer primeiramente o Nationaltheater. A edificação pegou fogo e foi reerguida por duas vezes, antes de ser novamente destruída durante os bombardeios da Segunda Guerra. A atual casa da Bayerische Staatsoper (ópera da Baviera), na Max-Joseph-Platz — praça com uma estátua do rei no centro — reconstitui o desenho original em escala superior: com 2.101 assentos, é o maior teatro de ópera da Alemanha.
Maximilian Joseph I, primeiro rei da Baviera – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Rei Ludwig I: Oktoberfest, Pinakothek e Bayerischer Hof
Ludwig I não foi um modelo de rei do qual os bávaros sentissem orgulho, tanto ele que acabou abdicando ao trono, em 1848. Em compensação, o nome dele está associado à origem de uma das festas populares mais famosas do mundo. A inspiração para a atual Oktoberfest Alemanha surgiu da grande festa de casamento do então príncipe Ludwig com Therese de Saxônia-Hildburghausen, em 1810. Um acontecimento que contou com a participação do povo de Munique. Nascia assim a tradição da Oktoberfest, a festa da cerveja que atrai milhões de pessoas anualmente a Munique, e que ganhou versões similares mundo afora.
Oktoberfest Munique, na Alemanha – Foto: A Kupka/Divulgacao
Nos anos de seu reinado, com início em 1825, Ludwig I enfrentou uma revolta popular pelo aumento do preço da cerveja. Logo ele, apreciador da bebida e um dos frequentadores assíduos da cervejaria Hofbräuhaus. As artes também estavam entre as predileções do rei, que ordenou a construção da Alte Pinakothek, em 1836, a fim de compartilhar as obras de seu acervo pessoal com o povo de Munique. Ele também foi responsável pela criação da Neue Pinakothek, museu público dedicado à arte contemporânea, que terminou sendo inaugurado em 1853, no reinado de Maximilian II.
À medida que cidade se desenvolvia, era necessário também ter um hotel de primeira classe capaz de receber visitantes estrangeiros. Um empresário do ramo de locomotivas aceitou a sugestão de Ludwig I e construiu o Bayerischer Hof. Desde que abriu as portas, em 1841, o hotel até hoje hospeda autoridades, artistas e celebridades que passam por Munique.
Hotel de luxo em Munique: Bayerischer Hof – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Ludwig I também é responsável pelo Feldherrnhalle, erguido entre 1841 e 1844 na Odeonplatz. Embora a loggia (construção coberta, aberta na frente e na lateral) tenha sido idealizada para homenagear o exército bávaro e seus generais, ela ficou associada ao episódio conhecido como Putsch de Munique, uma tentativa de golpe frustrada do nazista Adolf Hitler, em 1923.
Feldherrnhalle e a torre da Theatinerkirche – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Rei Maximilian II: Maximilianstrasse e Bayerisches Nationalmuseum
O endereço mais chique de Munique, a Maximilianstrasse, leva o nome do rei que planejou e iniciou a abertura dessa avenida, em 1853, após 5 anos de sua chegada ao trono. Nos dias de hoje, marcas como Gucci, Louis Vuitton, Bulgari e Dior ditam a moda e fazem companhia ao luxuoso hotel Vier Jahreszeiten Kempinski Munich.
Compras de luxo em Munique na Maximiliamstrasse – Foto: Nathalia Molina @ComoViaja
Também foi de Maximilian II, que governou a Baviera até 1864, a ideia de criar o Bayerisches Nationalmuseum, museu que desde 1855 expõe obras da Idade Média, do Renascimento, do Barroco até meados do século 19 e de Art Nouveau. O coração do acervo é composto por peças pertencentes à dinastia Wittelsbach.
Ludwig II: Castelo de Neuschwanstein
Apesar de permanecer no trono de 1864 a 1886, Ludwig II perdeu prestígio logo 2 anos depois de assumir o controle da Baviera, subjugada pela Prússia. Durante os 20 anos restantes, o monarca se dedicou às artes e a obras arquitetônicas grandiosas.
Admirador de Richard Wagner, patrocinou o compositor. Tristão e Isolda estreou em 1865 no Nationaltheater. Excêntrico, Ludwig II levou a Baviera à falência com seus projetos gigantescos, como o Schloss Neuschwanstein, inspiração para o Castelo da Cinderela. Por isso, é conhecido como o rei dos contos de fadas. Curiosamente, o monumento é hoje uma atração internacional, no topo da lista das que mais levam turistas a Munique e à Alemanha.
Mais famoso castelo da Alemanha: Neuschwanstein – Foto: Jim McDonald/ GNTB/Divulgação
Na viagem, tivemos apoio do Turismo de Munique, com hospedagem no Hotel Bayerischer Hof e com bilhetes de transporte público na cidade alemã
Ficamos rodeados por tubarões. Zebra, lixa, cinza… e outros mais bizarros. Se você tem interesse por essas temidas e instigantes criaturas, o SeaLife tem de estar no seu roteiro em Munique. Nos 33 ambientes, há 4.500 animais de diferentes espécies. Também achei muito forte a parte do aquário que trata de estrelas do mar e cavalos marinhos. Sensacional conhecer tantas variedades de cada um deles.
Nas 3 espécies que citei, além de ver animais de diversos tipos, é possível aprender muito sobre eles. Tanto em explicações nos painéis quanto em atividades interativas. Numa das salas, por exemplo, a parede era dividida em nichos com telas de programas. Ao toque do nosso filho, então com 5 anos, apareceram opções de tubarões para escolher sobre qual ele queria saber de hábitos e características. No nicho ao lado, Joaquim e eu ficamos bobos com a quantidade de dentes que um tubarão troca em vida.
Ficamos surpresos também com o formato de minhoca do tubarão epaulette. Tem uma curiosa mancha preta no corpo, que dá a impressão de um olho negro no meio daquela tripinha te olhando.
Num canto de outro ambiente do SeaLife, pinturas representam vários tipos de tubarões, com seus comprimentos. Nosso pequenino menino estava da altura do mais baixinho da turma feroz. Hoje arrisco dizer que ficaria lá pelo 3º ou 4º entre os menores.
Já cresceu bem na régua dos tubarões
Os tubarões são definitivamente o destaque do aquário, que informa ter a maior variedade de tipos na Alemanha. Até o pré histórico de Port Jackson está lá. Aliás, assim como o SeaLife Berlim, a unidade de Munique inaugurou a exposição Saurier der Meere (Mares Jurássicos, numa tradução livre), com descendentes de animais extintos, como o listrado náutilo (que lembra um esquisito caracol enroscado) e o mudskipper (que pode respirar fora da água).
Descobertas no aquário em Munique
Registrei em vídeo o rápido nado do tubarão blacktip (galha preta). Muito legal, aliás, esse tanque com espécies oceânicas. A visão do alto dá a noção do tamanho da área que abriga 400.000 l de água. Adorei ver ali também as tartarugas marinhas, espécie de xodó meu dentro do universo subaquático. A visão de baixo do tanque, dentro de um túnel panorâmico, rende muitas bocas abertas e lindas fotos. Nos fins de semana, em certos horários, dá para ver mergulhadores limpando o tanque e alimentando as duas espécies.
De cara com o polvo e a moreia
Em Munique achamos o polvo! E também a medonha moreia, enfiada dentro de uma rocha. Diante da cena de sua boca abrindo e fechando levemente, é assustador imaginar o tamanho e as arcadas que aquela mordida por tomar. Protegidos pelo vidro, Quim e eu fizemos muitas caretas para a selfie. Durante nossa ida à unidade de Berlim, ficamos a ver navios porque o polvo não quis saber de receber visita. Em Munique, Quim pirou com o movimento quase gelatinoso do ser de sangue azul e 3 corações.
Em Munique, vimos o polvo
Já tínhamos visto o SeaLife Berlim quando chegamos ao Parque Olímpico (Olympiapark) para visitar a unidade de Munique — Fernando foi ao Estádio Olímpico (Olympiastadion), ali pertinho. O aquário de Munique é uma das atrações que funcionam no complexo onde foram realizadas as Olimpíadas de 1972. Há 9 unidades alemãs do SeaLife. Nós visitamos 3 durante nossa viagem à Alemanha com criança: Berlim, Munique e Legoland Atlantis by SeaLife (atração dentro do parque Legoland Alemanha, localizado em Günzburg, também na Baviera.
Parque Olímpico de Munique tem várias atrações, entre elas, o SeaLife
Confesso que tive medo de o passeio em Munique ser chato — seria a mesma coisa de Berlim? Me surpreendi. A experiência no SeaLife tem semelhanças entre as 2 unidades: as crianças recebem na entrada máscara de mergulhador de papel e um livreto para carimbarem conforme passam pelas salas do aquário; no tanque interativo o monitor do SeaLife permite aos visitantes tocarem em estrelas do mar e caranguejos; ambientes mostram peixes típicos dos rios da região (no caso de Munique, especialmente o Isar); uma parede com iluminação colorida também exibe o movimento das águas vivas; há placas e painéis explicativos espalhados pelos ambientes; e alguns dos animais se repetem mesmo. Por exemplo, o laranja peixe palhaço e o azul cirurgião patela, simpáticos peixinhos que fazem sucesso com as crianças menores por terem inspirado Nemo, Marlin e Dory, protagonistas do filme Procurando Nemo.
Com máscara de mergulhador, Joaquim observa peixes de rios da regiãoCarimbo a cada estação cumprida pela criançaParade com o balé das águas vivas
De cardume ensaiado a cavalos marinhos
Mas até mesmo nas áreas parecidas há diferenças. Em Munique, o Schwarmring — sala redonda onde o cardume (‘schwarm’) nada no alto em círculo (‘ring’) — tem plaquetas com os sinais mais usados pelos mergulhadores para se comunicar embaixo d’água. Divertido e informativo. Assim como os espaços dedicados às estrelas-do-mar e aos cavalos-marinhos. Nas placas, aprendemos o tanto de tipo que existe de cada um deles. Algumas explicações estavam apenas em alemão, mas havia informação suficiente em inglês para se entreter.
Sinais de mergulhadores
No caso das estrelas, deu até para tocar em materiais para sentir a textura de 3 variedades. De mentirinha. As de verdade, com várias delas grudadas nas paredes de pedras dos tanques, criavam um cenário pontilhado por cores vivas. Em alguns deles, dava para enfiar a cabeça por baixo para se sentir entre estrelas.
Nosso peixinho entre as estrelas
Especial também foi apreciar os cavalos marinhos, de várias cores. O SeaLife tem um programa de reprodução desses delicados seres. Com o rabo enroscado em plantinhas, balançam levemente ao sabor do movimento da água.
A beleza do cavalo marinho
Saímos do SeaLife Munique com muitas imagens memoráveis. Como esquecer do azul intenso deste peixe lindamente horrendo? E da variedade de tubarões a que fomos apresentados? Ou das bonitas formas que a natureza pode tomar em águas-vivas, cardumes, cavalos-marinhos e estrelas? Depois dessa dose de maravilha animal, seguimos explorando as belezas construídas pelo homem na capital da Baviera.
Transporte: O aquário fica bem no Parque Olímpico de Munique (Olympiapark), de fácil acesso de metrô (U-Bahn). Pegue a linha U3 e desça na estação Olympiazentrum. Mesmo com criança, a caminhada não dura 10 minutos, e há sinalização no caminho.
Horário: Diariamente, abre às 10 horas. O horário de encerramento varia de acordo com a época do ano. Até 29 de abril de 2016 e de 13 de setembro a 28 de outubro, fecha às 18 horas. Durante o verão europeu e em feriados bancários ou bávaros, funciona até as 19 horas. Sempre o limite para entrar no SeaLife é 1 horas antes do encerramento
Preço: € 18,50 euros (online sai por € 12,95).
Alimentação: Não é permitido comer dentro do aquário, mas você pode levar seu lanche para comer no terraço ou numa área coberta para piquenique.
Confira uma lista de museus na Alemanha com atividades para criança. Visitamos vários em diversas cidades e contamos como eles são. Alguns são dedicados aos pequenos, outros mantêm áreas lúdicas ou interativas
Sobram museus na Alemanha, e igualmente não faltam possibilidades de se levar crianças para aprender e se divertir neles. A dica é escolher a área de interesse e explorar, já que uma viagem nunca será suficiente para englobar tudo. Em nosso roteiro, priorizamos assuntos como comunicação e tecnologia. Além da vocação do país para máquinas e aparatos tecnológicos, apostamos que os acervos interessariam tanto a nós, os pais, quanto ao filho, Joaquim, então com 5 anos. Acertamos, máquinas e afins agradaram aos três.
Outro tipo de instituição que ficamos curiosos em conhecer foi o Kindermuseum, museu das crianças. Adoramos a ideia. Seria tão bacana se no Brasil tivéssemos algo parecido. As 5 cidades que visitamos na nossa viagem em família pela Alemanha têm seu Kindermuseum. Eles não expõem necessariamente experimentos da ciência ou temas que a meninada estuda no colégio. São lugares dedicados a formar futuros frequentadores de museus. Com formatos e estruturas diferentes, proporcionam a garotada aprender experimentando e, assim, se sentirem à vontade dentro de um museu.
ATIVIDADE INFANTIL NO MUSEU DA COMUNICAÇÃO, EM FRANKFURT — Fotos: Nathalia Molina @ComoViaja
Também vimos crianças em instituições focadas em arte e cultura, com pais ou professores. E nós levamos Joaquim para conhecer, por exemplo, as esculturas da Antiguidade Clássica e o majestoso altar do Pergamonmuseum, que guarda ainda belos painéis e artefatos islâmicos em Berlim. Mas não incluímos essas instituições tradicionais na lista abaixo, tampouco os completos museus de carro existentes na Alemanha — no da Mercedes, além de veículos, descobrimos a história do automóvel.
Aqui selecionamos lugares que mexem com o lado lúdico ou criativo da meninada. Reunimos 13 museus para começar. Mas esta lista pode crescer. Se descobrirmos novos programas ou instituições indicados para a garotada, vamos incluir a seguir. Veja só o que separamos para você levar a criança para dentro do museu na Alemanha:
1, 2, 3 | MUSEUM FÜR KOMMUNIKATION (MUSEU DA COMUNICAÇÃO, EM BERLIM, FRANKFURT E NUREMBERG) Levar uma criança a um museu da comunicação é mais ou menos como apresentá-la aos dinossauros de um acervo de história natural. Muito do que ela verá deixou de existir faz tempo, mas nunca é demais saber de onde evoluímos. Na Alemanha, a Fundação de Museus de Correios e Telecomunicações mantém 3 instituições nas cidades de Berlim, Nuremberg e Frankfurt. O museu na capital alemã ficava quase em frente ao nosso hotel. Na chegada, Joaquim levou um susto ao ser saudado por 1 dos 3 simpáticos robôs que circulam pelo átrio. Lúdicas, as atrações das galerias interativas fizeram sucesso com nosso filho.
Em Nuremberg, o Museum für Kommunikation compartilha o prédio com o Deutsche Bahn Museum, museu de trens na cidade. Antes de conhecer o Kibala, a área infantil com o universo das ferrovias, Joaquim usou um telefone de disco para uma rápida conversa com o pai — acho curioso e pesado experimentar essa forma de comunicação. Apesar de vivermos a era da internet — e uma exposição discutir nosso papel como consumidores e produtores de conteúdo na grande rede –, brincar de apresentador de televisão, gravar seu programa em um estúdio e enviá-lo por e-mail ainda pode ser bem interessante para crianças.
Assim como na unidade de Nuremberg, também havia um correio pneumático no museu da comunicação de Frankfurt, no setor reservado à atividade infantil com monitores da instituição. Joaquim achou o máximo o sistema que transporta mensagens por uma rede de tubos. Ele escreveu um bilhete e enviou por um buraco, viu a cápsula com seu escrito viajar pelo espaço e foi encontrá-la em outro ponto do sala. Quim ainda usou uma pena para escrever seu nome em um cartão, enquanto nós, os jornalistas, voltamos ao passado que não vivemos e usamos tipos móveis para imprimir nossa marca, Como Viaja.
VALE SABER
Funcionamento: Berlim: Quarta a sexta, das 9 às 17 horas — terça, até as 20 horas; sábado, domingo e feriado, das 10 às 18 horas / Frankfurt: Terça a sexta, das 9 às 18 horas — sábado, domingo e feriado, das 11 às 19 horas / Nuremberg: Terça a sexta, das 9 às 17 horas — sábado, domingo e feriado, das 10 às 18 horas
Preço: Berlim: 4 euros — menores de 18 anos, grátis / Frankfurt: 3 euros — entre 6 e 16 anos, 1,50 euro; até 5 anos, grátis / Nuremberg: 5 euros — entre 6 e 17 anos, 2,50 euros; até 5 anos, grátis; bilhete familiar, 10 euros
4 | LABYRINTH KINDERMUSEUM (MUSEU DAS CRIANÇAS, EM BERLIM)
Na base da brincadeira, as crianças assumem o papel de construtores, arquitetos e urbanistas e transformam o pedaço de cidade instalada dentro do museu. Essa é a proposta da exposição Platz da! Kinder machen Stadt (algo como Abram caminho! As crianças fazem a cidade), prorrogada até 18 de abril de 2017. No Labyrinth, um tema é escolhido para ser explorado pelas crianças de modo nada contemplativo, mais sensorial. Nesse ambiente de ‘aprender fazendo’ multidisciplinar, meninos e meninas entre 3 e 12 anos descobrem o mundo ao seu redor. Estações são montadas para explorar diferentes aspectos de um mesmo assunto.
VALE SABER
Funcionamento: Sábado e domingo, das 11 às 18 horas — sexta, a partir das 13 horas
Preço: 5,50 (adultos e crianças a partir de 2 anos) — às sextas, a entrada custa 1 euro a menos; bilhete familiar (2 adultos e até 4 crianças), 16 euros
5 | DEUTSCHES TECHNIKMUSEUM (MUSEU DA TECNOLOGIA, EM BERLIM)
O bombardeiro suspenso no alto do prédio é um símbolo do Museu Alemão de Tecnologia. Só mesmo a ciência e a técnica para fazerem um avião parecer flutuar sobre o que já foi uma grande área industrial de Berlim.
O moderno edifício de 5 andares concentra velhos e novos conceitos de tecnologia, do tear ao computador. Há exemplares valiosos de aeronaves que repassam, de modo cronológico, os 200 anos de história da aviação alemã. Tecnologia aeroespacial, escrita e impressão, transporte e navegação, cada área possui um rico acervo e muito conhecimento a ser adquirido em forma de atividades interativas. No setor de ferrovia, até estações de trem são reconstituídas.
Não tente encarar os 25.000 m² de exposições. Se a criança gostar mais de aviões, carros e barcos não existe razão para circular por toda a ala de engenharia química e farmacêutica. Como o dia de visita pode ser puxado, vale comer no Café Anhalt, localizado no térreo, e que tem um bom apflestrudel com sorvete de baunilha.
VALE SABER
Funcionamento: Terça a sexta, das 9 às 17h30; sábado, domingo e feriado, das 10 às 18 horas
Preço: 8 euros, adultos — menores de 6 anos, grátis; bilhete familiar (1 adulto e 2 menores de 17 anos, 9 euros) ou (2 adultos e 3 menores de 17 anos, 17 euros)
6 | MUSEUM FÜR NATURKUNDE (MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL, EM BERLIM)
Os mineirais, os fósseis, os animais, todos os itens expostos no museu são resultado de muita pesquisa e investigação, fazendo com que o acervo seja permanentemente atualizado. Resultado de uma expedição feita no atual território da Tanzânia, na África, 250 toneladas de ossos de dinossauros foram encontradas e mandadas para Berlim, desde o início do século 20. Reorganizados, eles ajudaram a compor a maior parte do acervo de animais pré-históricos do museu. Destaque para o Braqueosauro exposto no centro do espaço Evolução em Ação. Com 13 metros e 27 centímetros de altura, trata-se do maior esqueleto de dinossauro montado no mundo.
Quem for ao museu pode ver de perto também um exemplar de Tiranossauro Rex, cuja ossada foi achada durante escavações feitas em Montana, nos Estados Unidos. O esqueleto está temporariamente emprestado para fins de estudo e pesquisa.
VALE SABER
Funcionamento: Terça a sexta, das 9h30 às 18 horas — sábado e domingo, a partir das 10 horas
Preço: 8 euros — criança entre 6 e 14 anos, 5 euros; até 5 anos, grátis; ticket de família (2 adultos e até 3 crianças abaixo de 14 anos); 15 euros; bilhete para família pequena (1 adulto e até 2 crianças abaixo de 14 anos), 9 euros
7 | DEUTSCHES MUSEUM (MUSEU DE TECNOLOGIA, EM MUNIQUE)
Nem um dia inteiro será suficiente para ver tudo o que se encontra no museu, um dos maiores do mundo em matéria de tecnologia e ciência natural. Para se ter ideia, algumas alas estão fechadas para modernização (a reabertura total está prevista para 2019) , mas ainda assim é possível visitar setores interessantes, como os de transporte, computação e astronomia.
Território exclusivamente dedicado às crianças, o Kinderreinch fez a alegria de Joaquim durante nossa visita. O reino da garotada no Deutsches Museum também passa por revitalização e volta a funcionar em 4 de junho de 2016.
VALE SABER
Funcionamento: Diariamente, das 9 às 17 horas
Preço: 11 euros, adultos — menores de 6 anos, grátis; bilhete família (2 adultos com menores até 15 anos), 23 euros
8 | FB BAYERN ERLEBNISWELT (MUSEU DO BAYERN, EM MUNIQUE)
Recomendado à geração Playstation, o museu do Bayern de Munique tem acervo que inclui todos os troféus conquistados pelo maior campeão do futebol alemão e mais uma parte digital com informações sobre jogos históricos, ídolos e estatísticas do clube fundado em 1900. Há atividades interativas para crianças e adultos. Joaquim, que não era fã de futebol, virou torcedor do Bayern depois de nossa visita ao museu.
O espaço está instalado no nível 3 da Allianz Arena, estádio onde o clube bávaro joga e pelo qual também fizemos o tour. Como fica distante do centro de Munique, vale a pena combinar os dois programas. Nós passamos um ótimo dia por lá.
VALE SABER
Funcionamento: Diariamente, das 10 às 18 horas (em dias de jogos do Bayern, só quem tem ingresso pode visitar o museu, que fecha quando o Munique 1860 joga na Allianz Arena)
Preço: 12 euros — maiores de 14 anos; crianças entre 6 e 13 anos, 6 euros — menores de 5 anos, grátis
9 | SPIELZEUGMUSEUM (MUSEU DE BRINQUEDOS, EM MUNIQUE)
O tamanho diminuto parece adequado para um espaço que pretende expor brinquedos. O Spielzeugmuseum, em Munique, está instalado na torre do prédio medieval da antiga prefeitura da cidade (Altes Rathaus). Naquela ponta que se vê no canto da praça central de Munique, a cada andar uma salinha expõe a coleção do museu. É um programa rapidinho, que pode ser feito numa das muitas passadinhas que se dá pela Marienplatz quando se visita a capital da Baviera.
Na visita, sobe-se de elevador até o 5º andar, para ir descendo depois. Uma estreita escada em caracol liga os pisos com brinquedos (são 4; um deles é fechado ao público) que inspiram ter muita história. As vitrines não têm cara de showroom de fabricante.
A graça do Spielzeugmuseum está justamente na simplicidade. O acervo está mais para uma coleção de fato. Como se a vovó tivesse juntado os brinquedos de sua mãe, os seus e os das gerações futuras até chegar às atuais. A exposição inclui de artefatos do século 19 até exemplares mais modernos como bonecas e robôs. Antes do lançamento mundial recente da Barbie em várias silhuetas, foi curioso ver que a boneca também existia com cabelos ruivos ou escuros quando lançada.
VALE SABER
Funcionamento: Diariamente, das 10 horas às 17h30
Preço: 4 euros — criança de 4 a 15 anos, 1 euro; ticket de família (com filhos de até 15 anos), 8 euros
10 | KINDER MUSEUM (MUSEU DAS CRIANÇAS, EM FRANKFURT)
Coleção de figurinha, de boneca, de dinossauro, de bolinha, de adesivo, de lápis de cor. Criança junta tudo. Adulto também, só muda o objeto de desejo. Alguns inventam de expandir isso e chegam a uma coleçãozona, a essência de um museu. Quando visitamos o Kinder Museum Frankfurt, vimos a exibição Sammelfieber — Von den Dingen und Ihrer Geschichte (algo como A Febre de Colecionar — Das Coisas e Sua História), que mostrava exatamente isso: como surgem e são feitas as coleções. Nosso filho montou a dele, com objetos disponíveis no programa interativo da exibição.
Parte do Historisches Museum Frankfurt, o museu histórico da cidade, o Kinder Museum foi aberto em 1972, com o objetivo de aproximar as crianças do universo dos museus, para formar o público do futuro. Quando pagamos as entradas, Joaquim recebeu um papelzinho com ‘tarefas’ para ir seguindo as partes visitadas na exposição sobre coleções. Ele curtiu ainda a sala com máquinas de escrever e outra com jogos de computador simulando restaurações em obras de arte.
Pequenino, o museu é um programa tranquilo de fazer com crianças, pelo tamanho e pelo fácil acesso. Fica num ponto mais do que central da cidade, o Hauptwache. A estação de mesmo nome é o entroncamento das várias linhas de transporte de Frankfurt. Nós chegamos mesmo caminhando. O museu fica escondidinho no nível abaixo da praça, no mezzanino. Dá para comer sanduíches com as famosas salsichas alemãs no quiosque em frente à entrada. Nós aprovamos a dobradinha.
VALE SABER
Funcionamento: Terça a domingo, das 10 às 18 horas — durante as férias escolares alemãs, pode abrir também às segundas
11 | DEUTSCHE BAHN MUSEUM (MUSEU DO TREM, EM NUREMBERG)
Os mais de 180 anos de história da ferrovia na Alemanha são contados a partir de objetos e trens expostos — das velhas locomotivas a vapor aos modernos modelos de alta velocidade.
Com 500 metros de trilhos e 30 miniaturas elétricas controladas por um funcionário do museu, uma grande maquete ganhou a atenção de Joaquim durante nossa visita a esse museu em Nuremberg. Para as crianças, há ainda o Kibala, área totalmente interativa e que inclui passeio a bordo de um trenzinho pelos quase 1.000m² do lugar.
VALE SABER
Funcionamento: Terça a sexta, das 9 às 17 horas — nos fins de semana e feriados, das 10 às 18 horas
Preço: 10 euros (quem tiver ticket de trem ou metrô do dia paga só 4 euros) – entre 6 e 17 anos, 2,5 euros; até 5 anos, grátis; bilhete familiar (2 adultos e até 4 crianças), 4 euros
12 | SPIELZEUGMUSEUM (MUSEU DE BRINQUEDOS, EM NUREMBERG)
A relação de Nuremberg com a fabricação de brinquedos vem desde a Idade Média. A produção industrial local ganhou tanta importância no século 19 que a cidade virou referência mundial em matéria de brinquedo — a mais importante feira internacional do gênero é realizada, anualmente, desde 1950, e o museu reflete a evolução da sociedade a partir destes objetos.
Aberto em 1971, o Spielzeugmuseum agrada à família inteira. Antigos passatempos de madeira, bonecas e suas casas ricamente decoradas, brinquedos mecânicos e miniaturas estão em exposição pelos 4 andares do casarão de fachada renascentista. No verão, a brincadeira se espalha pelo quintal onde funciona o Café La Kritz.
VALE SABER
Funcionamento: De terça a sexta, das 10 às 17 horas (sábados e domingos, até 18 horas; durante a feira internacional de brinquedos, até 20 horas)
Preço: 5 euros (adulto); 5,50 euros (1 adulto e 3 menores de 18 anos) ou 10,50 euros (2 adultos e 3 menores de 18 anos)
13 | JUNGES SHCLOSS — KINDERMUSEUM (MUSEU DAS CRIANÇAS, EM STUTTGART)
Joaquim já havia experimentado um capacete de cavaleiro medieval e um chapéu de camponês no Landesmuseum Würtemberg, museu sobre história e cultura em Stuttgart. Quando visitamos o Junges Schloss, museu infantil instalado na mesma construção, o antigo castelo (Alten Schloss), ele subiu de vez na vida: botou não apenas a coroa, mas a roupa toda de rei.
Chamado também de Kindermuseum (a esta altura, se você não sabe alemão como nós, já deve imaginar que se trata do museu das crianças), o setor é dedicado a exposições temporárias voltadas para a garotada. Achamos esse conceito muito interessante porque a meninada tem sempre algo novo para aprender por lá.
As atividades são pensadas para envolver as crianças no tema proposto. Até 26 de junho de 2016, por exemplo, está em cartaz Römische Baustelle! Eine Stadt entsteh (numa tradução livre, Canteiro de Obras Romano! Uma Cidade Criada). Durante nossa visita, Quim participou de tudo que envolvia a exposição sobre a Rússia — diversas princesas de lá se casaram com nobres de Württemberg, trazendo influências e costumes de sua origem para a região no sul da Alemanha.
Nosso filho escreveu no quadro-negro usando o alfabeto cirílico, viu de dentro de uma carruagem um filme com a paisagem que a nobre teria apreciado em sua viagem a partir da Rússia, montou quebra-cabeças com o mapa do roteiro percorrido, desenhou padronagens tipicamente russas em colheres de madeira. E ainda teve disposição para brincar de jogo da memória com uma das monitoras.
VALE SABER
Funcionamento: Terça a domingo, das 10 às 17 horas
Preço: 3,50 euros — crianças entre 4 e 12 anos, 2 euros; até 3 anos, grátis; ticket de família (2 adultos e 2 crianças de 4 a 12 anos), 9 euros; bilhete de família pequena (1 adulto + 1 criança entre 4 e 12 anos), 5,50 euros
O Kindereich, dentro do Deutsches Museum, museu de Munique, mostra ciência e tecnologia de modo divertido para criança na Alemanha. Garotada brinca com Instrumentos musicais, cordas, bolinhas e tintas de pintura
ATUALIZADO EM 16 DE MARÇO DE 2017
O aviso na entrada era expresso: adulto só entrava acompanhado por criança. Estávamos num dos mais completos museus que visitamos na Alemanha, em Munique: o Deutsches Museum. Como nosso filho, Joaquim, esteve conosco durante o tour pelo país, Nathalia e eu tivemos passe livre para entrar no Kinderreich, espaço onde a ciência é apresentada de modo divertido e intuitivo para quem, às vezes, ainda nem sabe ler. Com 8 setores, o salão era amplo. Grande mesmo, a ponto de ter dentro dele um caminhão de bombeiro, alegria da meninada, que sobia e descia, entrava e saía do veículo sem parar.
Fotos e vídeo: Nathalia Molina @ComoViaja
Agora vamos ver o que reserva às crianças a extensa reforma em andamento no Deutsches Museum. Atualmente, o maior museu da capital da Baviera tem algumas áreas fechadas, entre elas o subsolo onde se localizava o setor dedicado à garotada quando fizemos nossa viagem em família pela Alemanha. Deve reabrir inteiramente renovado em 2019.
Até lá, o Kinderreich funciona no piso térreo, com experiências novas. Entre elas estão grandes blocos de Lego para construir espaços e entrar neles, além de uma oficina de arte e de um painel para traçar o caminho de bolinhas rolando.
Como é o museu para crianças em Munique
O Deustches Museum por si só já desperta o interesse de crianças acima de uns 5 anos. Gigante, o museu bávaro reúne uma coleção invejável relacionada à ciência e à tecnologia, que inclui do sistema solar a máquinas voadoras. Devido à revitalização, diversas partes estão fechadas ao público, como o rico setor de fotografia e filmagem. Mas, não se preocupe, há sempre algo bacana para ser visto pela família toda.
Especificamente sobre o Kinderreich, a proposta é fazer com que as cerca de 200 mil crianças de 3 a 8 anos que visitam essa área infantil por ano entrem em contato com as leis da natureza e tomem gosto pela ciência de um modo menos acadêmico, mais divertido. Nada de ciência da forma clássica. Sem perceber, a meninada aprende tudo, com rapidez.
Acho fascinante existirem espaços com esse acervo tecnológico, essas demonstrações científicas, voltados para crianças. Eu só conhecia algo semelhante em 2 lugares em São Paulo: o Museu Catavento e a Estação Ciência (fechada para reforma faz tempo). A estrutura é bem diferente, mas o objetivo é o mesmo.
O que fazer no Kinderreich
No Kinderreich, Quim brincou com barquinhos num sistema de eclusas, mexeu no computador (os programas disponíveis mostram a imagem da criança na superfície da água e explicam o funcionamento do Corpo de Bombeiros, entre outras atividades), girou com a mãe uma roda de madeira para guiar bolinhas coloridas por canaletas até círculos da mesma cor.
Por mais que tudo estivesse acessível (e a ideia é fazer com que as crianças explorem cada objeto exposto), é sempre legal ficar de olho. Aos 5 anos, Joaquim estava meio sem saber como agir com um conjunto de polias e roldanas. Dei uma força – quer dizer, mais ou menos, já que o conceito dessa máquina simples é justamente facilitar a tarefa de erguer cargas pesadas. Não preciso dizer que ele adorou subir e descer sentado sobre um disco de metal sendo que eu só precisava puxar uma corda para erguê-lo. De quebra, nosso filho aprendeu algo que – na teoria – ele estudará a fundo lá pela adolescência.
Embora algumas partes do Kinderreich ainda fossem sofisticadas para seu entendimento, Joaquim passou por todas elas, no nosso roteiro em família — leia textos sobre viagem à Alemanha com criança. Mas, assim, sem formalidade, absorveu alguns conceitos de ótica e astronomia, ali dispostos em forma de experimentos práticos para as crianças. No Theodor Heuss, barco salva-vidas que leva o nome do primeiro presidente alemão, antes da reforma atual, era possível ver por espaços abertos a sala de comando, a cabine de passageiros e a sala das máquinas. Não se podia visitar o interior da embarcação.
Joaquim sempre foi musical. Por isso, o espaço em que ele mais se sentiu à vontade no Kinderreich foi o departamento com instrumentos, facilmente identificado por um enorme violão. É possível não só dedilhá-lo (isso, sim, exige esforço), bem como entrar em seu interior.
Há também instrumentos de percussão e, numa sala fechada, um piano de armário. Joaquim, que nunca havia chegado perto de um, se sentou e saiu tocando uma sinfonia própria, composta ao sabor do improviso e da livre exploração. Como convém tudo no Kinderreich.
[youtube https://youtu.be/IVz2vANN7SQ]
VALE SABER
Endereço: Museumsinsel 1
Transporte: Todo tipo de transporte público serve para se chegar ao Deutsches Museum. A estação de trem (S-Bahn) mais próxima é a Isartor. De U-Bahn (transporte urbano da cidade), as opções são as linhas 1 e 2, descendo na estação Fraunhoferstrasse. Se optar pelo tram (bonde), pegue o 16 (Deutsches Museum), o 17 (Fraunhoferstrasse) ou o 18 (Isartor). Também levam até lá as linhas de ônibus 132 (Boschbrücke), 52 e 62 (ambas, Baaderstrasse)
A pé da Marienplatz dá cerca de 20 minutos de caminhada em terreno plano. O percurso inclui passagem por 2 pontos turísticos de Munique: o Viktualienmarkt e o Isartor, 1 dos 4 portais que protegiam a cidade no período medieval
Funcionamento: O setor infantil funciona todo dia, das 9 horas às 16h45 — o Deutsches Museum fica aberto até as 17 horas
Preço: Para acessar o Kinderreich, é preciso pagar o ingresso regular do museu: adulto, a 11 euros — crianças de 6 a 15 anos, 4 euros; até 5 anos, grátis; maiores de 65 anos e portadores de necessidades especiais, 7 euros. O ticket para a família, válido para 2 adultos com crianças até 15 anos, custa 23 euros
Alimentação: Há um restaurante no mezzanino (segunda a sexta, das 9 às 17 horas; sábado e domingo, até 15h30 — refeições quentes, sempre entre 10h30 e 15 horas). O Deustches Museum dispõe de 3 cafés: no térreo e no piso 3, eles vendem também lanches; dentro da loja do museu, há máquinas automáticas com opções para comer e beber. Existe ainda uma área para piquenique no térreo — tem espaço com trocadores.
Site: Kinderreich no Deutsches Museum
*Quando você reserva pelo Booking, um percentual do valor é repassado ao Como Viaja. Assim, você contribui para que a gente continue a escrever aqui. Conheça todos os parceiros do Como Viaja, que oferecem passagens, hotéis, guias e reservas de atrações
“Mamãe, mamãe, pergunta se é montanha russa!” Aflito, Joaquim puxava meu braço sentado ao meu lado no carrinho do brinquedo da Legoland, parque de diversão que estava no nosso roteiro de viagem à Alemanha com crianças. Ele insistia, eu tinha de descobrir como seria o passeio por vir. Estávamos prestes a partir quando tentei rapidamente confirmar: “Tem looping?” “Não, não tem looping. É tranquilo”, respondeu o funcionário. Na verdade, me deu branco. Eu queria perguntar se era ‘roller coaster’, montanha russa em inglês. Mas, na pressa e na pressão, acabei trocando as voltas. O funcionário respondeu o que perguntei e me informou que o brinquedo não incluía ficar de cabeça para baixo.
“Viu, não é montanha russa. Só deve ter aquele dragão no fim, só um sustinho, mas a gente já conhece”, expliquei ao meu filho, lembrando a atração da Legoland que fica dentro do Sony Center, em Berlim, cidade por onde havíamos começado nossa viagem em família pela Alemanha. Um mês pelo país juntos, Fernando e eu, com nosso filhote, então com 5 anos.
Na Legoland Alemanha, castelinho abriga entrada da montanha-russaBrinquedo na Legoland em Berlim: um passeio pelo escuro
Não muito convencido, Joaquim permaneceu sentado no carrinho. O percurso inicial era bobinho. Quim relaxou um pouco quando percebeu que os personagens eram parecidos com os da Legoland indoor que funciona na capital alemã — nós também. Tudo ia bem até surgir aquela bendita luz no fim do túnel. O carrinho avançou alguns metros e começou a subir os trilhos. Os três perceberam que estávamos prestes a descer em alta velocidade.
“Mamãe, eu falei!!! É a montanha-russa do dragãozinhoooo!! E agora?!”
Assim que saímos do brinquedo, Joaquim caiu numa crise de choro devido ao susto (e ao medo) por que passamos todos. Não, a montanha-russa não era nenhum exemplar ultrarradical, daqueles que leva ao delírio os adeptos na americana Flórida. Mas a família aqui é mais chegada à fantasia e à imaginação do que à adrenalina. Hoje Joaquim ri da história. Sempre com o adendo de que nunca mais quer ir à montanha-russa, igualmente seguido por outro: ‘Vamos voltar à Legoland?’
Essa é apenas uma das muitas passagens da viagem que permanece viva para ele, e para nós também.
A farra que fizemos quando nos molhamos na guerra de água no navio pirata, também na Legoland.
A euforia de descobrir cada detalhe do recém-inaugurado Königsburg, hotel em forma de castelo de brinquedo, onde dormimos dentro do complexo do parque das pecinhas. O ritual de ver a encenação dos bonecos da Torre da Prefeitura de Munique, na Marienplatz, praça central da cidade, acompanhado de um sorvete de baunilha (ainda o sabor preferido dele). O entardecer ao ar livre no alto do Hotel Bayerischer Hof, diante da linda vista da capital bávara.
A bagunça dos macaquinhos do Wilhelma, o zoológico de Stuttgart. A fofura dos pinguins narigudos e dos filhotinhos de urso polar gêmeos, no zoo de Munique. A brincadeira com os ursos-símbolo de Berlim.
A diversão de caçar carimbos nas salas do SeaLife, aquário com unidades nessas duas últimas cidades.
A descoberta na prática da utilidade de mapas e de roupas de frio (e a dificuldade do nosso menino para aprender a vestir os dedinhos das luvas).
A experimentação, a sensação de poder tocar o museu, que Joaquim viveu no Kinderreich — cantinho da meninada no gigante Deutsches Museum, em Munique — e no Kibala, o universo ferroviário em versão mirim dentro do DB Museum, museu da ferrovia em Nuremberg.
A felicidade de encontrar a Sally no Museu Porsche, de Stuttgart.
As viagens de trem (e sua empolgação de estreante), com a Alemanha passando pela janela.
A descoberta de Dürer (pintor-símbolo de Nuremberg) e sua representação em forma de boneco Playmobil. O vento a levantar os cabelos nas muitas escorregadas no castelo medieval no divertido parque dos bonecos cabeçudos, pertinho de Nuremberg.
A alegria de ver sua mensagem enviada numa cápsula e de conseguir escrever o nome do Como Viaja na atividade voltada para crianças do Museum für Kommunikation, o museu da comunicação de Frankfurt.
A invenção do sr. Pomme Frite, apelido que Joaquim ganhou por ter sido essa a primeira expressão em alemão que aprendeu, para garantir a batata frita de cada dia.
As muitas risadas pelas nossas brincadeiras com a língua, adaptações aportuguesadas que fazíamos com o alemão incompreensível para nós. A primeira viagem internacional do nosso menino.
Viajar para a Alemanha com uma criança de 5 anos, que não lia em português tampouco falava inglês: foi o que decidimos fazer. Loucura? Para alguns, sim. Por tudo isso acima e por muitas outras lembranças que vamos contar aqui, eu digo que não — por motivos pessoais, não conseguimos publicar antes essa série sobre a viagem pela Alemanha com criança, mas agora vai! Nesta e na próxima semana, você acompanha textos sobre o que vivemos em família por Berlim, Munique, Günzburg, Stuttgart, Nuremberg e Frankfurt, nos deslocando sempre de trem entre os destinos.
Como é a Alemanha para criança?
A Alemanha tem a imagem de ser sisuda, um lugar de adulto por fim. Quando se pensa no país europeu, pipocam referências que passam longe do universo infantil. Cerveja: para adulto. Segunda Guerra, nazismo e Muro de Berlim: assunto de adulto. Música eletrônica: ambiente de adulto. Sim, mas os alemães não nascem com 20 anos.
Com 8,2 nascimentos para cada mil habitantes, o país tem a mais baixa taxa de natalidade do mundo — fica atrás até o Japão, de acordo com o estudo do Instituto de Economia Internacional de Hamburgo e da consultoria BDO divulgado em maio de 2015 — e as mulheres tem entre 1 e 2 filhos — a taxa de fecundidade, segundo o Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha, foi de 1,42 em 2013. Mas existem crianças. Quando se passa um mês por lá, como passamos, se vê a garotada. Não apenas ao ar livre, brincando em parquinhos ou sendo puxadas em carrinhos por professoras, mas também em museus. Durante nossa visita à Staatsgalerie, de Stuttgart, uma turminha de escola, com idades de 4 ou 5 anos, desenhava sentada diante de esculturas do gênio espanhol Pablo Picasso.
Há diversos programas convidativos para se fazer em família na Alemanha. São parques de diversão temáticos, museus de brinquedos, passeios de pedalinho, áreas interativas para crianças em grandes museus e instituições dedicadas especialmente a elas, aquários e zoológicos muito bem estruturados.
Os 4 zoológicos da Alemanha que visitamos são bem mais do que uma reunião de bichos à mostra. São programas completos para se passar um dia em família. O de Nuremberg fica numa área de bosque, com subidas e descidas para se ver os setores com animais. Tem até show de golfinhos. Já o de Munique é todo plano, excelente para caminhadas, com boa sinalização e um parquinho tentador — é capaz de você precisar lembrar seu filho de que há um monte de bichos à volta para ver. Em Berlim, colado à movimentada Kurfürstendamm, principal avenida da capital, somos transportados para a tranquilidade de um parque. E que lindeza é o Wilhelma, zoológico com jardim botânico de Stuttgart.
As principais cidades turísticas alemãs mantêm incentivos para a viagem em família, por meio de pacotes ou passes de desconto em atrações. Os destinos ganham um apelo a mais nas datas festivas do ano, Natal e Páscoa: os mercados montados nas praças. A criançada se diverte em carrosséis. Inesquecível a emoção que provocou em mim a mistura de sentidos quando conheci em 2011 a Römerberg, praça medieval de Frankfurt. As luzes de Natal diante daquelas casinhas que parecem de boneca, o olfato impregnado pela canela dos enormes biscoitos de coração, o doce som do coral infantil.
Eu estava sozinha nessa viagem, mas um desejo de ver meu marido e meu filho comigo ali despontou. Fernando tinha o sonho antigo de conhecer a Alemanha — a curiosidade pelo país, despertada na adolescência pelos vizinhos de família alemã, só aumentou na Copa de 2006, quando ele cobria esportes pelo canal ESPN. Mas, na hora de planejar as férias, tivemos dúvida se seria legal para Joaquim visitar um país com tanto conteúdo histórico. Não me refiro a lugares que retratam as atrocidades cometidas pelos nazistas. Se adultos, ficamos chocados com o teor, que dirá uma criança de 5 anos. Nos revezamos para visitar espaços como o Dokumentationszentrum Reichsparteitagsgelände, impressionante centro de documentação em Nuremberg sobre o nazismo.
Me refiro a pontos remanescentes de uma história bem mais remota, entre eles, os palácios de Charlottenburg (Berlim) e Residenz (Munique). De fato, Joaquim foi bem até certo ponto. Depois, apesar dos enredos malucos que contávamos para ele se sentir inserido, se cansava.
Como se cansou ao visitar o Museu Imperial, em Petrópolis, na serra fluminense, ou a seção sobre numismática, no Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro (CCBB-RJ). Todos com explicações mais do que completas, extensas para uma criança tão pequena. No entanto, foi capaz de absorver e até de participar em atrações com recursos audiovisuais e interatividade (coisas dessas geração conectada desde cedo), mesmo onde o assunto não era nada leve, caso da exposição Die Mauer, panorama de Berlim dividida apresentado por artista Yadegar Asisi, no Checkpoint Charlie.
O que fazer em família no país?
Fascinante para adultos, a capital alemã pode não ter muito jeito de criança à primeira vista, mas, como sempre, surpreende. Como comprovam o Legoland Discovery Center, parque temático indoor dos bonecos amarelos, e o AquaDom & SeaLife, aquário com um elevador anexo que sobe entre peixes. No ‘ranking joaquino’ alemão, Berlim está bem cotada, com sua Torre de TV e seus famosos Ampelmännchen, bonequinhos verde e vermelho do sinal de trânsito da antiga Alemanha Oriental.
Combinar Berlim com Munique dá uma mistura interessante de estilos e programas. Na capital da Baviera, em qualquer direção que se tome há programas para a meninada: do Kinderreich, reino da garotada no Deustches Museum, ao território do Bayern, com o museu e a Allianz Arena, onde passamos um dia muito divertido — e contamos aqui. No Englischer Garten, extenso parque de Munique, Joaquim correu, pulou e escalou os brinquedos de madeira, bem ao lado do Biergarten da Chinesischer Turm (Torre Chinesa). Enquanto os pais se lambuzam com salsichas e a renomada cerveja da Baviera, a criançada se suja na areia.
O sul da Alemanha tem mesmo muitas possibilidades de roteiro para quem viaja com criança. Por exemplo, juntar Munique e Stuttgart e visitar os museus de automóveis BMW, na primeira, e Museu Mercedes e Museu Porsche, na outra.
Quem vai a Munique ou a Stuttgart pode ainda dar um pulo à Legoland, parque temático em Günzburg, cidade no meio do caminho, a cerca de uma hora de trem das duas outras. Dá para fazer bate-volta, mas nós não recomendamos. O ideal é dormir por lá e, assim, evitar correria com os filhos e ainda aproveitar pelo menos um dia inteirinho nos brinquedos.
Para conhecer o Playmobil FunPark, parque de diversão dos simpáticos bonecos, localizado em Zirndorf, cidadezinha onde foram inventados, dá para se hospedar na vizinha Nuremberg tranquilamente. Com o Playmobil FunPark e a Kibala (setor infantil do DB Museum, que leva o nome da empresa de trens do país, a Deutsche Bahn), a cidade da Baviera combina bem com Munique como uma outra opção de roteiro de viagem com criança.
Parque Legoland Alemanha, para crianças de 2 a 12 anos – Fotos: Nathalia Molina @ComoViaja
E a língua dificulta?
Ninguém em casa fala alemão. A gente se comunicava em inglês, algo muito usual nas cidades turísticas da Alemanha. Nos parques de diversão, situados em municípios menores da Baviera, o idioma nacional prevalece na maior parte do tempo. Aconteceram situações em que a gente teve de apelar para o jogo de mímica, como no jantar no restaurante dentro do complexo da Legoland, em que garçons tiveram dificuldade para tirar dúvidas em inglês. Mas, de um modo geral, os funcionários da recepção e de brinquedos do parque conversavam na língua inglesa.
O idioma, para nós, não foi um problema. Pelo contrário, num mundo tão globalizado, foi especial experimentar férias legitimamente alemãs, se misturar a famílias do país e ver o modo como os locais se divertem com seus filhos durante a folga de verão. Até para viver mais essa sensação, não ficamos preocupados em ter o controle de tudo durante a viagem. Talvez isso explique por que fomos parar na tal montanha russa do início do texto. Durante um mês na Alemanha com nosso menino, nos jogamos naquele mundo novo que se revelava dia a dia.
Joaquim voltou da viagem com mais vontade de aprender. Tudo. Sempre foi um garoto curioso, e isso ajudou muito na hora de ouvir explicações sobre pontos turísticos, reis e afins de uma terra distante da sua realidade. Resultado de um mês ausente na escola para conhecer a Alemanha? Ele terminou o ano sabendo ler e escrever em português e interessado pelo inglês, língua até então desimportante para ele.
Ah, e ainda ganhou a Copa do Mundo! Consequência da nossa visita ao Museu do Bayern e à Allianz Arena, em Munique, nosso menino, que nem é louco por futebol, torceu pela Alemanha no Mundial do Brasil. Antes do fatídico 7 x 1 que levamos dos germânicos, Quim prenunciou: ‘A Alemanha vai ganhar, eu vou torcer para ela.’ Antes nós tivéssemos escutado…
Escolhemos viajar para a Alemanha e montamos o roteiro com base nas cidades e nas atrações que desejávamos visitar para escrever sobre elas no Como Viaja. A viagem teve apoio do Turismo da Alemanha no Brasil e dos representantes de Berlim, Munique, Stuttgart, Nuremberg e Frankfurt, aos quais agradecemos pelo suporte oferecido de diferentes maneiras em cada destino.
As passagens aéreas e várias despesas dessa viagem de 1 mês pela Alemanha (entre elas, alimentação, transporte, atrações e diárias em alguns hotéis) foram pagas por nós